O texto à seguir foi escrito por Albert Einstein, e publicado em seu livro intitulado "Como vejo o mundo", cuja primeira edição foi publicada em 1953, dois anos antes de sua morte. O livro é uma coletânea de diversos textos de sua autoria sobre diversos assuntos e que ele escreveu ao longo de sua vida. Einstein vivenciou a ascensão do nazismo em sua terra natal (Alemanha) e acompanhou o fortalecimento do fascismo na Itália, vivenciando as perseguições que ambos os regimes perpetraram contra o livre pensar, a Democracia e os cientistas que ousavam questionar a política destes regimes. Ele mesmo foi obrigado à se auto-exilar, para evitar maiores perseguições à sua pessoa na Alemanha. No presente texto, ele reflete sobre a liberdade de ensino e de pensamento, e sobre como a necessidade de uma educação que estimule o espírito critico dos estudantes é necessária para o próprio desenvolvimento da Ciência e da Humanidade. Reflexão esta extremamente atual para o contexto que vivemos no momento presente em nosso país, quando vemos diversos ataques às Humanidades, ao pensamento crítico, cortes no financiamento da Ciência e projetos como o chamado "Escola sem Partido" sendo apoiados por políticos e determinados setores da sociedade. Quando enxergamos, no horizonte, as sombras do fundamentalismo e do obscurantismo ganhando, cada vez mais, força. Assim, este pequeno texto, escrito à mais de 70 anos por uma das maiores mentes do Séc. XX e talvez da Humanidade, lança luz sobre reflexões extremamente atuais:
" Educação em vista de um pensamento livre
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Na imagem, o autor deste blog em uma aula de Astronomia lecionada na Primavera de 2018, em Curitiba no projeto de Educação Popular Emancipa. |
Não basta ensinar ao homem uma especialidade. Porque se tornará assim uma máquina
utilizável, mas não uma personalidade. É necessário que adquira um sentimento, um senso prático
daquilo que vale a pena ser empreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto. A não
ser assim, ele se assemelhará, com seus conhecimentos profissionais, mais a um cão ensinado do
que a uma criatura harmoniosamente desenvolvida. Deve aprender a compreender as motivações
dos homens, suas quimeras e suas angústias para determinar com exatidão seu lugar exato em
relação a seus próximos e à comunidade.
Estas reflexões essenciais, comunicadas à jovem geração graças aos contactos (sic) vivos com os
professores, de forma alguma se encontram escritas nos manuais. É assim que se expressa e se
forma de início toda a cultura. Quando aconselho com ardor “As Humanidades”, quero recomendar
esta cultura viva, e não um saber fossilizado, sobretudo em história e filosofia.
Os excessos do sistema de competição e de especialização prematura, sob o falacioso pretexto
de eficácia, assassinam o espírito, impossibilitam qualquer vida cultural e chegam a suprimir os
progressos nas ciências do futuro. É preciso, enfim, tendo em vista a realização de uma educação
perfeita, desenvolver o espírito crítico na inteligência do jovem. Ora, a sobrecarga do espírito pelo
sistema de notas entrava e necessariamente transforma a pesquisa em superficialidade e falta de
cultura. O ensino deveria ser assim: quem o receba o recolha como um dom inestimável, mas nunca
como uma obrigação penosa."
(Albert Einstein, COMO VEJO O MUNDO; p.26-27)