segunda-feira, 1 de julho de 2013

A Esquerda ainda lembra de seus Mártires? Um alerta e um desabafo.

Irmã Dorothy Stang

Fumaça, reza, espiritualidade! Senso de união, democracia direta, ausência de propriedade privada! COMUNIDADE no seu sentido mais pleno da palavra!
Há dois dias atrás, durante 4 horas eu vivenciei isso! Tive esta experiência, e ela me tocou. Tanto que aquelas 4 horas me fazem falta agora. Onde vivi estas 4 horas? Em uma aldeia indígena.
Não sei se foi bom ou ruim, por que naquele momento, compartilhando da bebida do milho e participando da reza, eu me senti parte de uma comunidade que não era a minha, mas que me recebeu como parte dela, e agora sinto falta disso.
Coração apertado, pensamentos que surgem e desaparecem tão rápidos, que nem me dou conta do que querem dizer, ou do que realmente são.
Sinto o ar a minha volta, as teclas em meus dedos que correm soltos pelo teclado, em um ato automático sem que meu cérebro se dê conta do que realmente estão fazendo.
Sofro! Sofro pelos que estão, sofro pelos que foram, sofro pelos que vão!
É como se sentisse em meu corpo,e na minha mente, cada morte, cada angústia, cada dor, daqueles que em seu momento derradeiro foram obrigados a abandonar a luta de toda uma vida, mas ao mesmo tempo com este abandono serviram de exemplos para os que ficaram.
Pe. Ezequiel Ramin
 Celebração do Dia do Lavrador em Cacoal - RO.
Mártires das lutas sociais, que morreram por cometerem o único pecado de lutarem por um mundo melhor, não para si, mas para os outros.
Mártires de todas as cores! Mártires de todos os povos! Mártires de todos os credos! Mártires de todas as épocas!
Alguns nominados e lembrados, outros para sempre esquecidos!
E nós?
Os vivos, ditos lutadores, autoproclamados militantes.
E nós?
Que fazemos para honrar a luta destas vidas que foram ceifadas?
Nominamos instituições, centros de estudos, centros acadêmicos, ONG's, escolas, faculdades, ruas, avenidas, prédios... Criamos cartas de apoio e denuncia, que muitas vezes são veiculadas apenas entre nós mesmos. Levamos pessoas as ruas, onde elas gritam sem saber por que.
Pe. Ezequiel Ramin encontrado morto.
E depois, a noite, debaixo de um teto que nos esconde do olhar acusador das estrelas, as mesmas que viram a luta dos mártires. Em cima de uma cama confortável, com o estomago cheio de comida regada a cerveja ou vinho, dormimos tranquilos, com a sensação de missão cumprida.
E sonhamos! Sonhamos que somos grandes líderes revolucionários, que nossas ideias mudam o mundo, e somos ovacionados por todos!
Sonhamos!
Sonhamos e acordamos! 
E levantamos, para fazer agora o mesmo de antes, e sonhar com o mesmo de sempre!

Chico Mendes
Chico Mendes, Santos Dias da Silva, Dorothy Stang, Olga Prestes, Zumbi, Pe. Ezequiel Ramin, Pe. João Bosco Penido Burnier, Margarida Maria Alves, Silvia Marribel Arriola, Nestor Paz Zamorra, Tito Alencar Lima, Nativo da Natividade de Oliveira, Dom Romero, Dircelina Folador, Marçal Tupã-i, Galdino Jesus dos Santos, Pe. Rodolfo Lukenbein, Pe. Vicente Cañas e tantos outros que deram sua vida e sua morte pela luta dos oprimidos.



Marçal Tupã-i

Estamos agindo de forma a honrar a luta destas pessoas?
Neste momento de comoção popular, eu vejo um aumento de pautas conservadoras, pautas que estas pessoas tanto combateram, e ao mesmo tempo eu vejo a chamada esquerda apegada aos seus castelinhos particulares, no lugar de se unir para a construção de um mundo melhor.
Vejo dentro da esquerda, aproveitadores piores do que muitos da direita, que se usam da influência que tem sobre outros e sobre entidades, não para construir um mundo melhor, não para levar adiante a luta pela pauta da classe trabalhadora, mas sim, para levar adiante apenas as suas pautas particulares.
E enquanto ficamos correndo atrás do nosso próprio rabo, enquanto ficamos brincando de militância e de ser esquerda, enquanto sonhamos em ser grandes líderes e acordamos apenas para fazer aquilo que sempre fizemos, o tempo passa, a exploração continua, e os mártires de ontem, precisam assumir a obrigação de arranjar espaço para os mártires de hoje e do futuro.
Zumbi dos Palmares (Não se sabe se a imagem é real)
É claro que sei que existem pessoas que não agem desta maneira, mas infelizmente, estes não são os que tem o controle do leme do barco! E o barco, bom, este segue pela correnteza des-re-governado, sendo dirigido para o precipício. E neste precipício, se encontra o fim de qualquer possibilidade de construção para todos, daquele tipo de comunidade descrita no inicio deste texto, e talvez também se encontre o fim da comunidade que inspirou a descrição, e muitas outras comunidades, que como ela, estão espalhadas pelo mundo afora.

E ENTÃO, ESQUERDA BRASILEIRA?
QUANDO VOCÊ VAI ASSUMIR A SUA HISTÓRIA E HONRAR SEUS MÁRTIRES?
Ainda é tempo!!!

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