terça-feira, 14 de maio de 2019

Educação em vista de um pensamento livre - por Albert Einstein

O texto à seguir foi escrito por Albert Einstein, e publicado em seu livro intitulado "Como vejo o mundo", cuja primeira edição foi publicada em 1953, dois anos antes de sua morte. O livro é uma coletânea de diversos textos de sua autoria sobre diversos assuntos e que ele escreveu ao longo de sua vida. Einstein vivenciou a ascensão do nazismo em sua terra natal (Alemanha) e acompanhou o fortalecimento do fascismo na Itália, vivenciando as perseguições que ambos os regimes perpetraram contra o livre pensar, a Democracia e os cientistas que ousavam questionar a política destes regimes. Ele mesmo foi obrigado à se auto-exilar, para evitar maiores perseguições à sua pessoa na Alemanha. No presente texto, ele reflete sobre a liberdade de ensino e de pensamento, e sobre como a necessidade de uma educação que estimule o espírito critico  dos estudantes é necessária para o próprio desenvolvimento da Ciência e da Humanidade. Reflexão esta extremamente atual para o contexto que vivemos no momento presente em nosso país, quando vemos diversos ataques às Humanidades, ao pensamento crítico, cortes no financiamento da Ciência e projetos como o chamado "Escola sem Partido" sendo apoiados por políticos e determinados setores da sociedade. Quando enxergamos, no horizonte, as sombras do fundamentalismo e do obscurantismo ganhando, cada vez mais, força. Assim, este pequeno texto, escrito à mais de 70 anos por uma das maiores mentes do Séc. XX e talvez da Humanidade, lança luz sobre reflexões extremamente atuais:

" Educação em vista de um pensamento livre
Na imagem, o autor deste blog em uma aula de Astronomia lecionada
na Primavera de 2018, em Curitiba no projeto de Educação Popular Emancipa.


Não basta ensinar ao homem uma especialidade. Porque se tornará assim uma máquina utilizável, mas não uma personalidade. É necessário que adquira um sentimento, um senso prático daquilo que vale a pena ser empreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto. A não ser assim, ele se assemelhará, com seus conhecimentos profissionais, mais a um cão ensinado do que a uma criatura harmoniosamente desenvolvida. Deve aprender a compreender as motivações dos homens, suas quimeras e suas angústias para determinar com exatidão seu lugar exato em relação a seus próximos e à comunidade. Estas reflexões essenciais, comunicadas à jovem geração graças aos contactos (sic) vivos com os professores, de forma alguma se encontram escritas nos manuais. É assim que se expressa e se forma de início toda a cultura. Quando aconselho com ardor “As Humanidades”, quero recomendar esta cultura viva, e não um saber fossilizado, sobretudo em história e filosofia. Os excessos do sistema de competição e de especialização prematura, sob o falacioso pretexto de eficácia, assassinam o espírito, impossibilitam qualquer vida cultural e chegam a suprimir os progressos nas ciências do futuro. É preciso, enfim, tendo em vista a realização de uma educação perfeita, desenvolver o espírito crítico na inteligência do jovem. Ora, a sobrecarga do espírito pelo sistema de notas entrava e necessariamente transforma a pesquisa em superficialidade e falta de cultura. O ensino deveria ser assim: quem o receba o recolha como um dom inestimável, mas nunca como uma obrigação penosa."


(Albert Einstein, COMO VEJO O MUNDO; p.26-27)