terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Reflexão de Natal e Fim de Ano (2019)



Amanhã a cristandade comemora o nascimento de seu Deus, que segundo ensina o credo, seria um Deus de Amor, que aceita a todos e se sacrifica pela Humanidade. Leia bem: pela HUMANIDADE, não pelas “PESSOAS DE BEM”.
Gostaria, aqui, de relembrar alguns episódios de sua vida:
Segundo os evangelhos, àqueles com quem ele mais teve conflitos durante seus três anos de peregrinação e ensinamento foram, justamente, os fariseus, os saduceus e os doutores da lei. Os sacerdotes e os governantes da época, as PESSOAS DE BEM! Foram estas pessoas (de bem) que tramaram sua morte, posteriormente.
Sua família foi imigrante, tendo que fugir para o Egito devido à perseguição. Que os cristãos lembrem desse episódio ao tratarem com os imigrantes que chegam ao Brasil. O Cristo foi imigrante!
Relembremos algumas passagens do evangelho:
Em Mateus 6:24 ele afirma que não é possível servir à dois senhores:

“Ninguém pode servir à dois senhores, porque, ou odiará a um e amará o outro, ou dedicar-se-á um e desprezará o outro. Não podeis servir à Deus e a Riqueza.”

Que lição podemos tirar desta afirmação nos tempos atuais, onde o cristianismo tem se tornado, cada vez mais, um culto à Riqueza e aos poderosos? Reflita! Aproveite este Natal para refletir: será que você tem servido à Deus, ou a Riqueza?
Em outra passagem, no mesmo episódio, ele afirma, enfaticamente:

“Não julgueis e não sereis julgados. Porque do mesmo modo que julgardes, também vós sereis julgados e, com a medida com que tiverdes medido, também vós sereis medidos. Porque se preocupa com a palha que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu? Como ousas dizer a teu irmão: Deixa-me tirar a palha do teu olho, quando tens uma trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e assim verás para tirar a palha do olho de teu irmão!” (Mateus 7:1-5)

Quantas vezes ao longo deste ano, e dos anteriores, você não quis julgar o próximo sem olhar primeiro para os seus próprios atos? Quantas vezes, ao longo deste ano, e dos anteriores, com uma trave no olho, você não cometeu a hipocrisia de querer tirar a palha no olho do próximo? Aproveite este Natal para refletir sobre isso! Estas são as palavras do aniversariante. Será que você realmente está seguindo-o, ou está sendo manipulado por falsos profetas que servem à Riqueza e não à Deus?
E falando em falsos profetas, eis mais uma passagem:

“Guardai-vos dos falsos profetas! Eles vêm à vós disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos arrebatadores. (...) Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas àquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não pregamos nós em vosso nome, e não foi em vosso nome que expulsamos os demônios e fizemos muitos milagres? E, no entanto, eu lhes direi: Nunca vos conheci! Retirai-vos de mim, operários maus!” (Mateus 7: 15, 21-23)

Muitas coisas tem acontecido com a sociedade brasileira no último período. Muitas pessoas inocentes tem sido manipuladas pelas palavras de “falsos profetas”, na religião e na política. Mitos que não passam disso: mito! Algo irreal, que quando analisados sob a ótica da verdade fica claro o quão vazios de amor ao próximo e sentimento humanitário são. Aproveite este Natal para refletir sobre isso, e sobre esta passagem com a qual eu quero encerrar:

“Tendes ouvido o que foi dito: Amarás o teu próximo e poderás odiar o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelo que vos maltratam e perseguem. Deste modo sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol (sic) tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos.” (Mateus 5:43-45)

Refletindo sobre estas passagens, e sobre tudo o que temos vivido enquanto sociedade no último período, eu queria poder desejar boas festas a todos e todas, mas sinto que este desejo seria vazio de realidade enquanto, Brasil à fora, crianças passam fome porque, nas férias, não tem a merenda escolar, por exemplo.
Queria poder desejar fraternidade, mas sei que isso não passaria de uma palavra (vazia) enquanto àqueles que dizem seguir o aniversariante desta data, agem contra tudo o que ele teria ensinado.
Queria poder desejar amor, mas sei que o termo estará vazio de significado enquanto os corações estiverem preenchidos apenas com o ódio.
Star Trail (Trilho de Estrelas) registrado na madrugada do dia 24/12/2019
A Terra gira, e não é plana, como se pode perceber na imagem!
Por isso, e apesar disso, lhe desejo um bom natal e um ótimo ano novo, mas eu também lhe desejo que você consiga utilizar este momento para refletir sobre o que tem defendido no último período. Você que se afirma Cristão, tem agido de forma mais próxima aos Fariseus, Saduceus e Doutores da Lei ou ao Cristo? Você, que se afirma Cristão, tem servido ao Cristo ou à Riqueza? Lembrando aqui que Riqueza, nesta situação, não remete apenas ao sentimento de ganância pelo dinheiro, mas, também, a ação de cerrar fileiras com àqueles que, detentores do poder, utilizam o poder para agirem contra os ensinamentos do Cristo. Muitas vezes, inclusive, afirmando fazerem isso em nome Dele.
Esta é a minha reflexão de Natal para você! Abraços! Boas festas! E que, em 2020, não continuemos cometendo os mesmos erros!


(Luciano Egidio Palagano - Marechal Cândido Rondon, 24/12/2019)

terça-feira, 14 de maio de 2019

Educação em vista de um pensamento livre - por Albert Einstein

O texto à seguir foi escrito por Albert Einstein, e publicado em seu livro intitulado "Como vejo o mundo", cuja primeira edição foi publicada em 1953, dois anos antes de sua morte. O livro é uma coletânea de diversos textos de sua autoria sobre diversos assuntos e que ele escreveu ao longo de sua vida. Einstein vivenciou a ascensão do nazismo em sua terra natal (Alemanha) e acompanhou o fortalecimento do fascismo na Itália, vivenciando as perseguições que ambos os regimes perpetraram contra o livre pensar, a Democracia e os cientistas que ousavam questionar a política destes regimes. Ele mesmo foi obrigado à se auto-exilar, para evitar maiores perseguições à sua pessoa na Alemanha. No presente texto, ele reflete sobre a liberdade de ensino e de pensamento, e sobre como a necessidade de uma educação que estimule o espírito critico  dos estudantes é necessária para o próprio desenvolvimento da Ciência e da Humanidade. Reflexão esta extremamente atual para o contexto que vivemos no momento presente em nosso país, quando vemos diversos ataques às Humanidades, ao pensamento crítico, cortes no financiamento da Ciência e projetos como o chamado "Escola sem Partido" sendo apoiados por políticos e determinados setores da sociedade. Quando enxergamos, no horizonte, as sombras do fundamentalismo e do obscurantismo ganhando, cada vez mais, força. Assim, este pequeno texto, escrito à mais de 70 anos por uma das maiores mentes do Séc. XX e talvez da Humanidade, lança luz sobre reflexões extremamente atuais:

" Educação em vista de um pensamento livre
Na imagem, o autor deste blog em uma aula de Astronomia lecionada
na Primavera de 2018, em Curitiba no projeto de Educação Popular Emancipa.


Não basta ensinar ao homem uma especialidade. Porque se tornará assim uma máquina utilizável, mas não uma personalidade. É necessário que adquira um sentimento, um senso prático daquilo que vale a pena ser empreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto. A não ser assim, ele se assemelhará, com seus conhecimentos profissionais, mais a um cão ensinado do que a uma criatura harmoniosamente desenvolvida. Deve aprender a compreender as motivações dos homens, suas quimeras e suas angústias para determinar com exatidão seu lugar exato em relação a seus próximos e à comunidade. Estas reflexões essenciais, comunicadas à jovem geração graças aos contactos (sic) vivos com os professores, de forma alguma se encontram escritas nos manuais. É assim que se expressa e se forma de início toda a cultura. Quando aconselho com ardor “As Humanidades”, quero recomendar esta cultura viva, e não um saber fossilizado, sobretudo em história e filosofia. Os excessos do sistema de competição e de especialização prematura, sob o falacioso pretexto de eficácia, assassinam o espírito, impossibilitam qualquer vida cultural e chegam a suprimir os progressos nas ciências do futuro. É preciso, enfim, tendo em vista a realização de uma educação perfeita, desenvolver o espírito crítico na inteligência do jovem. Ora, a sobrecarga do espírito pelo sistema de notas entrava e necessariamente transforma a pesquisa em superficialidade e falta de cultura. O ensino deveria ser assim: quem o receba o recolha como um dom inestimável, mas nunca como uma obrigação penosa."


(Albert Einstein, COMO VEJO O MUNDO; p.26-27)

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Análise Tropa de Elite 2*

No ano de 2010, a Revista Veja fez uma reportagem sobre o filme Tropa de Elite 2. Na época eu escrevi esta análise da reportagem. A análise foi publicada em um site mantido por uma amiga, pois eu ainda não mantinha este blog.
Agora, pouco mais de oito anos depois, começa a estourar (de novo) a relação das milícias do Rio de Janeiro com o Estado (incluindo a família Bolsonaro), junto com a vitória, política, do modo de pensar do Capitão Nascimento do Tropa de Elite I. Desta forma, acho pertinente republicar o texto, tanto para uma reflexão sobre acertos e erros como, também, para provocar, neste momento uma reflexão sobre questões que já deveriam ter sido discutidas à época, mas foram negligenciadas. Mantenho ele com o conteúdo original!
Segue:
"Análise Tropa de Elite 2

Na revista Veja (edição 2190 - ano43 - número 45 de 10 de novembro de 2010) a reportagem de capa é sobre a mais nova produção cinematográfica brasileira: Tropa de Elite 2.
A reportagem de nome "O PRIMEIRO SUPER-HERÓI BRASILEIRO", trabalha na construção do Capitão Nascimento (personagem principal do filme) enquanto sendo a figura de um herói.
Isso a despeito de o mesmo aceitar a tortura de prisioneiros como diz o próprio José Padilha (Diretor do Filme) "Ele tortura inocentes e mata pessoas que deveria prender. Não tem as virtudes morais que o senso comum exige de um Herói". Mas, para rebater o diretor a revista diz: "Mas um herói - em particular, um herói de ficção - não precisa se apresentar como um ser humano exemplar, de moral irretocável.(P.127)"
Ou seja, a revista transforma Nascimento em um Herói, e diz que o único problema do filme é que ele "desaponta: na invocação de uma ideia de "sistema", cuja engrenagem perversa seria tão carregada pela inércia da corrupção e da ineficiência que giraria sozinha, a despeito de tudo e de todos. Mas não há "sistema" (segundo a revista): o que há é a soma das ações dos indivíduos (P.127)", assim mesmo elogiando o personagem principal, a revista faz uma crítica ao filme, reproduzindo uma noção individualista do capitalismo, onde se coloca que o individuo é dono completo de si mesmo.

Como se ele não fizesse parte de um tempo histórico e de uma realidade social. A frase:"... a soma das ações dos indivíduos,..." reproduz uma visão de mundo que para a revista já é de praxe (é só observar o histórico de posições da revista em suas reportagens), onde o problema das mazelas do planeta são única e exclusivamente de cunho individual.
E ao você colocar a culpa sobre todos, você dissolve a culpa como açúcar na água, e assim ela passa a ser de ninguém, naturalizando assim o que se vê por aí.
Se a pessoa não tem emprego, o problema é por que ela não procura ou não se aperfeiçoa, não existe (para a revista) a possibilidade de sequer cogitar a avaliação de que o sistema econômico precisa do desemprego na figura de um exercito industrial de reserva. No mesmo sentido se existe corrupção é por que o indivíduo é corrupto, e não porque existe um sistema que naturaliza a corrupção pondo o lucro (venha ele da maneira que vier) sempre acima do bem estar coletivo e da vida.
Percebe-se também na reportagem (uma reportagem de capa com 8 páginas) a ausência completa do nome do personagem Marcelo Fraga (Deputado Estadual que junto com Capitão Nascimento combate as milícias) apesar do mesmo atuar em conjunto com o Capitão Nascimento no filme. E se há ausência do personagem o que se dirá da pessoa que inspirou o personagem, o deputado do PSOL Marcelo Freixo?
Ao não citar o Deputado Fraga a revista deixa de trabalhar as conexões existentes entre o Estado e as milícias, a única menção que a reportagem faz a corrupção política é quando menciona a surra que o personagem Capitão Nascimento dá em um político corrupto, pautando assim o problema da milícia e da corrupção como sendo um problema de ações individuais de políticos e/ou policiais corruptos.
Assim, apesar do filme fazê-lo, a reportagem não trabalha as conexões das milícias com grupos políticos, e o fato de que estas estão inseridas dentro do Estado seja através de representantes eleitos, ou membros dos altos escalões da administração civil e militar, e a maneira como estas nasceram patrocinadas pelo próprio Estado e incentivadas pelo sistema.
Mas, pelo cunho da reportagem esta ausência já era esperada, pois se ela fosse trabalhar esta questão, ela estaria caindo em contradição ao invocar os problemas das milícias como sendo única e exclusivamente um problema moral de policiais corruptos, e teria de admitir a existência do sistema (capitalista), assim como teria de ao menos mencionar o nome de um Deputado de um partido de esquerda que vêm combatendo este sistema: O Deputado Marcelo Freixo do Rio de Janeiro.
Em resumo, a reportagem da Veja desvirtua completamente o sentido e a lição que o filme Tropa de Elite 2 quer passar para o público: A lição de que existe um sistema por trás das ações individuais, que pauta muitas vezes estas ações na intenção de uma continuidade. A lição de que o Estado, não passa muitas vezes, de um braço organizado para a manutenção de uma economia que faz da "segurança pública" uma segurança de morte.
E que o problema das milicias e da corrupção, seja na polícia ou em qualquer outro setor do governo, vai muito além da questão moral do individuo, mas que a corrupção é sangue que nutre o Sistema Econômico Capitalista, ele não pode viver sem ela.

Afinal, corrupto também consome, e o que vale nesse sistema é o consumo e não a moral ou a vida!
Só haverá fim da corrupção (em nível geral) quando a vida estiver acima das questões econômicas, quando desastres que matam pessoas não serem mais (por exemplo) contabilizados em prejuízos de dólares!
Fica a lição do Filme e não da revista!
E fica o orgulho de ter no país um partido (PSOL) e um Deputado e militante como Marcelo Freixo, se a revista não lhe deu o destaque e o agradecimento merecido, eu o faço aqui!
E de forma individual, fica o orgulho de fazer parte da base deste partido e de certa forma ter Marcelo Freixo como camarada!

Assinado:
Luciano Egidio Palagano
Marechal Cândido Rondon  - PR
Presidente do Partido Socialismo e Liberdade de Marechal Cândido Rondon
Militante da Pastoral Operária, Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Estado do Paraná (APP - Sindicato)
Movimento Estudantil da UNIOESTE
Acadêmico de Direito e História  - UNIOESTE Campus de Marechal Cândido Rondon - PR."

*Publicado originalmente em:
http://os4elementos.no.comunidades.net/analise-tropa-de-elite-2