segunda-feira, 30 de maio de 2011

Manifestação de Profissionais da Educação do Estado e do Município!

CARTA ABERTA AOS PAIS, ESTUDANTES E COMUNIDADE EM GERAL
 
Nós, professores e funcionários estaduais e municipais, estamos nos mobilizando para mais uma vez denunciar os problemas da educação e reivindicar mudanças.
Os governos federal, estadual e municipal fazem propaganda de que estão melhorando a educação. É aquela velha conversa de falar bonito em defesa da educação.
Porém a realidade é outra. As condições de trabalho são precárias: temos poucos funcionários nas escolas do Estado e do município de Mal Cândido Rondon, o que leva a uma sobrecarga de trabalho. Os professores recebem por 40 horas/aula semanais, mas são obrigados a trabalhar muito mais para dar conta de todas as tarefas, como preparação de aulas, correção de avaliações, etc. Sem contar as várias turmas com uma quantidade muito grande de alunos. E o governo do Estado ainda pretende colocar mais alunos por sala! Muitos professores precisam trabalhar em várias escolas para poder fechar a sua carga horária. Em torno de 25 mil professores e funcionários no Estado do Paraná têm contratos precários (PSS), são demitidos todo final de ano e ficam meses sem salário. E agora o governo ainda está ameaçando encerrar os contratos no meio do ano. O problema da indisciplina em sala também é grave, além da violência freqüente nas escolas.
Tudo isso acaba se refletindo nas doenças. Muitos professores e funcionários apresentam problemas de voz, problemas na coluna, lesões por esforço repetitivo (LER), doenças como depressão, vários tipos de transtornos, etc. O sistema de saúde do Estado (SAS) é um caos. Não tem atendimento aqui em Marechal Cândido, vários especialistas estão deixando de atender por falta de pagamento do Estado, etc. No caso dos servidores municipais, o atendimento pelo SUS também é caótico aqui em Mal Cândido Rondon, ao contrário do que diz a propaganda da prefeitura.
Os salários também estão longe do necessário. No município muitos servidores com vários anos de trabalho ganham pouco mais do que o salário mínimo. No Estado teremos 6,5% de reposição, mas o aumento dos preços dos alimentos e dos combustíveis foi muito maior. Portanto o salário vai comprar menos do que comprava um ano atrás.
A estrutura física e de materiais nas escolas também tem muitos problemas. É preciso trocar o padrão de luz de muitas escolas, construir novas salas, melhorar a estrutura de laboratórios de ciências e de informática, das quadras, etc.
Em todo país os problemas da educação são semelhantes. Por isso, entre outras coisas, reivindicamos:
Implantação da lei do piso salarial nacional dos educadores, para garantir aumento salarial e 33% de hora-atividade (tempo de preparação de aulas e correção de avaliações). O objetivo é chegar a 50% de hora-atividade.
Aprovação de um Plano de Carreira para os funcionários da educação municipal. Isso para poder melhorar o salário conforme o tempo de serviço.
Contratação de mais funcionários nas escolas do Estado e nas escolas e centros de educação do município.
Redução do número de alunos por turma.
Convocação dos aprovados em concurso e realização de novos concursos públicos.
Em caráter de emergência: garantir os contratos dos professores e funcionários PSS do Estado pelo menos até o final do ano.
Aplicação de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) na educação em todo país. Sem investimento não é possível melhorar a educação.
Melhoria na estrutura física e de materiais das escolas e dos centros de educação (município).
Modelo de saúde que possa atender os servidores com dignidade.
Aumento salarial de 25,97% para professores e funcionários de escola.
Implantação do programa Profuncionário no município de Mal Cândido Rondon.
Essas medidas também são importantes para melhorar a qualidade de ensino.
APP-Sindicato dos trabalhadores em educação pública do Paraná/Núcleo Sindical de Toledo.
CSP-Conlutas/Central Sindical e Popular.
Intersindical.
 

A violência no Campo e o Código Florestal!

Pessoal, aqueles que vem acompanhando o blog viram que recentemente eu postei aqui diversos textos sobre o assassinato de ambientalistas e lutadores sociais ocorrido neste mês. Tal fato, como já era de se esperar não teve muita repercussão na imprenssa, a não ser uma ou outra nota.
Afinal, estamos em plena discussão sobre o código florestal, e não ficaria bem vincular a luta no campo com os assassinatos, ainda mais para certos grupos que estão envolvidos no debate!
Bom, a Comissão Pastoral da Terra divulga todo ano informações relativas ao conflito no campo, e no intuito de tentar contribuir um pouco com a CPT, estou divulgando aqui para vocês a lista de ameaçados de morte referente ao ano de 2010. Alguns nomes desta lista já não estão mais entre nós, outros ainda continuam a luta apesar das ameaças.
Caso percebam, existem inclusive crianças na lista de ameaçados!
É desta forma que o latifúndio e o agronegócio buscam impor o seu ponto de vista e estender seus dominios sobre o país, ao mesmo tempo que trabalham com a mente da população em geral utilizando-se de termos falaciosos, e falsas verdades!
Quando estas não funcionam, então é comum o uso do recurso máximo, que é eliminar de vez os que se colocam contra! Exemplo, o ocorrido recentemente no PA, com relação ao casal de ambientalistas assassinados, o assassinato da Irmã Doroty a alguns anos e diversos outros.
Tal fato fica claramente demonstrado pela existência da atual lista! Quero deixar claro aqui, que quando falo de agronegocio não me refiro a pequenos e médios agricultores, mas sim a grandes latifundiários que controlam inclusive a mente da categoria, e não deixam os pequenos perceberem que no lugar de estarem do mesmo lado, na verdade, na prática estão é de lados opostos!
Como a lista é extensa não tenho como colocar os nomes diretamente aqui no blog, portanto caso o leitor se interesse em verificar a lista é só clicar aqui que será encaminhado para o site da CPT, podendo então baixar esta e outras listas de informação diretamente do site.
Como não tenho como colocar a lista em sí, vou deixar para vocês alguns dados que seguem na imagem abaixo:


































O documento acima é um release que a Comissão Pastoral da Terra preparou para a imprenssa fazendo uma análise da violência no campo em nosso país! Os dados ainda nos envergonham, e a dicussão/debate em torno do Código Florestal não foge desse viés! Os lados que se colocam frente a frente neste debate, também são os lados que se confrontam no campo quando se fala de reforma agrária, de justiça e de paz no campo!
Nesta sexta a ARDECS - ONG, a Pastoral Operária de Marechal Cândido Rondon e a Rede de Agroecologia ECOVIDA, estarão realizando no tribunal do Júri da Unioeste um diálogo sobre as alterações no Código Florestal! Estão todos convidados a participar, nossa intenção é difundir um debate verdadeiramente democrático sobre um tema tão importante! O evento vai começa às 19hs e 30min, dia 03/06/11, Sexta Feira, e é também um ato de reflexão vinculado a semana do meio ambiente!
Aguardo vocês lá!

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Aprovada a destruição. Que fazer?

O texto abaixo não é de minha autoria, mas a jornalista ao escreve-lo expressou não só o meu sentimento, mas o de milhares de lutadores espalhados pelo nosso país, e em uma clara alusão ao acontecimento biblíco da traição de Judas, poderia muito bem ter como título "Os trinta dinheiros":
por Elaine Tavares
26-Mai-2011
Vivemos um eterno retorno quando se trata da proteção aos latifundiários e grandes empresas internacionais. No Brasil contemporâneo, pós-ditadura, nunca houve um governo sequer que buscasse, de verdade, uma outra práxis no campo. Todos os dias, nas correntes ideológicas do poder, disseminadas pela mídia comercial – capaz de atingir quase todo o país via televisão – podemos ver, fragmentadas, as notícias sobre a feroz e desigual queda de braço entre os destruidores capitalistas e as gentes que querem garantir vida boa e plena aos que hoje estão oprimidos e explorados.
Nestes dias de debate sobre o novo Código Florestal, então, foi um festival. As bocas alugadas falavam da votação e dos que são contra o código como se fossem pessoas completamente desequilibradas, que buscam impedir o progresso e o desenvolvimento do país. Não contentes com todo o apoio que recebem da usina ideológica midiática, os latifundiários e os capatazes das grandes transnacionais que já dominam boa parte das terras brasileiras, ainda se dão ao luxo de usar velhos expedientes, como o frio assassinato, para fazer valer aquilo que consideram como seu direito: destruir tudo para auferir lucros privados.
Assim, nos exatos dias de votação do novo código, jagunços fuzilam Zé Claudio, conhecido defensor da floresta amazônica. Matam ele e a mulher, porque os dois incomodavam demais com esse papo verde de preservar as árvores. Discursos tolo, dizem, de quem emperra a distribuição da riqueza - deles próprios, é claro. E o assassinato acontece, sem pejo, no mesmo dia em que os deputados discutem como fazer valer – para eles – os seus 30 dinheiros sujos de sangue.
Imagens diferentes, mas igualmente desoladoras. De um lado, a floresta devastada e as vidas ceifadas à bala, do outro a tal da "casa do povo", repleta de gente que representa, no mais das vezes, os interesses escusos de quem lhes enche o bolso. Pátria? País? Desenvolvimento? Progresso? Bobagem! A máxima que impera é do conhecido personagem de Chico Anísio, o deputado Justo Veríssimo: eu quero é me arrumar!
No projeto construído pelo agronegócio só o que se contempla é o lucro dos donos das terras, dos grileiros, dos latifundiários. Menos mata preservada, legalização da destruição, perdão de todas as dívidas e multas dos grandes fazendeiros. Assim é bom falar de progresso. Progresso de quem, cara pálida? Ao mesmo tempo, os "empresários" do campo, incapazes de mostrar a cara, lotam as galerias com a massa de manobra.
Pequenos produtores que acreditam estar defendendo o seu progresso. De que lhes valerá alguns metros a mais de terra na beira de um rio se na primeira grande chuva, o rio, sem a proteção da mata ciliar, transborda e destrói tudo? Que lógica tacanha é essa que impede de ver que o homem não está descolado da natureza, que o homem é natureza?
Que tamanha descarga de ideologia os graúdos conseguem produzir que leva os pequenos produtores a pensar que é possível dominar a natureza, como se ao fazer isso não estivessem colocando grilhões em si mesmo? Desde há muito tempo – e gente como Chico Mendes, irmã Doroty e Zé Claudio já sabia - que o ser humano só consegue seguir em frente nesta terra se fizer pactos com as outras forças da natureza. E que nestes pactos há que se respeitar o que estas forças precisam sob pena de ele mesmo (o humano) sucumbir.
O novo Código Florestal foi negociado dentro das formas mais rasteiras da política. Por ali, na grande casa de Brasília, muito pouca gente estava interessa em meio ambiente, floresta, árvore, rio, pátria, desenvolvimento. O negócio era conseguir cargo, verba, poder. Que se danem no inferno pessoas como Zé Cláudio, que ficam por aí a atrapalhar as negociatas. Para os que ali estavam no plenário da Câmara gente como o Zé e sua esposa Maria não existem. São absolutamente invisíveis e desnecessários. Haverão de descobrir seus assassinos, talvez prendê-los por algum tempo, mas, nas internas comemorarão: ‘menos um, menos um’.
Assim, por 410 x 63, venceram os destruidores. Poderão desmatar à vontade num tempo em que o planeta inteiro clama por cuidado. Furacões, tsunamis, alagamentos, mortes. Quem se importa? Eles estarão protegidos nas mansões. Não moram em beiras de rio. Dos 16 deputados federais de Santa Catarina apenas Pedro Uczai votou não. Até a deputada Luci Choinacki, de origem camponesa votou sim, contrariando tudo o que sempre defendeu.
Então, na mesma hora em que a floresta chorava por dois de seus filhos abatidos a tiros, os deputados celebravam aos gritos uma "vitória" sobre o governo e sobre os ecologistas. Daqui a alguns dias se verá o tipo de vitória que foi. Mas, estes, não se importarão. Não até que lhes toque uma desgraça qualquer. O cacique Seatlle, da etnia Suquamish, já compreendera, em 1855, o quanto o capitalismo nascente era incapaz de viver sem matar: "Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exauri-la, ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos.
Rouba a terra de seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e os direitos dos filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende".
Zé Claudio e Maria eram assim, vistos como "selvagens que nada compreendem". Mas, bem cedo se verá que não. Eles eram os profetas. Os que conseguiam ver para além da ganância. Os que conseguiam estabelecer uma relação amorosa com a terra e com as forças da natureza. Eles caíram à bala. E os deputados vende-pátria, quando cairão?
Já os que gritam e clamam por justiça, não precisam esmorecer. Perdeu-se uma batalha. A luta vai continuar. Pois, se sabe: quem luta também faz a lei. Mas a luta não pode ser apenas o grito impotente. Tem de haver ação, organização, informação, rebelião. Não só na proteção do verde, mas na destruição definitiva deste sistema capitalista dependente, que superexplora o trabalho e a terra. É chegada a hora de uma nova forma de organizar a vida. Mas ela só virá se as gentes voltarem a trabalhar em cada vereda deste país, denunciando o que nos mata e anunciando a boa nova.
 
Elaine Tavares é jornalista e membro do Instituto de Estudos Latino-Americanos da UFSC

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Nota do PSOL Nacional: Juntos para investigar, mas distantes na política

Qui, 26 de Maio de 2011 17:47
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Esta semana o Congresso Nacional precisará mostrar sua independência frente ao poderio do Governo Federal.
Apesar de toda a operação “abafa” realizada pelo Executivo, prossegue na ordem do dia a exigência de explicações acerca do fantástico enriquecimento do atual ministro Antonio Palocci.
Os fatos que até agora são conhecidos apresentam fortes indícios de que o repentino enriquecimento nada mais foi do que o velho e conhecido tráfico de influência, negociação de informações privilegiadas e venda de facilidades de acesso à administração pública.
Os lucros auferidos pelo então coordenador da campanha eleitoral da atual Presidenta da República são claros sinais de que a linha que separa, o ético e o antiético, o lícito e o ilícito, o público e o privado, foi sendo quebrada, mais uma vez. Informações inerentes ao cargo de Ministro da Fazenda e a notória reaproximação de Palocci do núcleo do poder tornaram seus serviços profundamente rentáveis.
Suas recusas em divulgar o nome dos compradores de seus serviços, devido aos “compromissos de confidencialidade”, beira a hipocrisia, especialmente para uma pessoa que esteve envolvida diretamente na quebra de sigilo bancário de um humilde caseiro.
O PSOL apoiará e patrocinará todas as ações legais e legislativas que contribuam para a apuração exemplar dos fatos obscuros que cercam o episódio. Por isso, nossa Bancada assinou requerimento solicitando investigação junto ao Ministério Público e apoia a iniciativa de instalação de uma CPMI, também assumida pela oposição conservadora no Parlamento.
Da mesma forma, obtivemos apoio dos partidos desse setor para o Requerimento de convocação do Ministro da Casa civil pela Comissão de Meio Ambiente, Fiscalização e Controle do Senado.
Não concordamos em restringir a crítica desta prática de tráfico de influência apenas ao atual ministro Palocci. Por isso, ao lado das ações acima enumeradas, o partido apresentou na Câmara e no Senado Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para coibir o uso dos conhecimentos conseguidos pela ocupação de cargos estratégicos na área econômica do governo federal para o enriquecimento, vedando consultorias e atividades empresariais no exercício de mandato público.
No momento em que se discute no Congresso a reforma política e eleitoral, não poderíamos deixar de reforçar a idéia de suprimir o financiamento privado das campanhas políticas no processo eleitoral brasileiro e torná-lo exclusivamente público e sob controle da população e dos órgãos do poder judiciário e da justiça eleitoral.
Em carta enviada aos líderes do Senado o ministro Palocci arrola em sua defesa inúmeros exemplos de ex-ministros da Fazenda ou de ex-presidentes do Banco Central que, ao saírem dos cargos ocupados, tornaram-se importantes nomes do setor privado, sendo contratados de forma generosa por instituições privadas, usando informações privilegiadas e de dentro do poder (inside information). A expertise oferecida por estes senhores diz respeito ao conjunto de informações da política econômica, que se tornam lucrativas quando socializadas com estes setores. Como ele disse, “esses profissionais valem muito no mercado”.
Ora, em um país que tem sua dívida pública atrelada diretamente ao capital financeiro, informações privilegiadas sobre decisões acerca da política econômica podem patrocinar ganhos extraordinários aos tomadores de serviços destes senhores, favorecendo suas empresas de consultoria. Não é a toa que eles se recusaram a depor na CPI da dívida pública da Câmara dos Deputados, proposta pelo Dep. Ivan Valente, com o apoio de seus partidos, PT e PSDB.
Este trabalho conjunto com a oposição conservadora se resume às ações acima relatadas. Estaremos juntos para investigar os fatos, mas manteremos distância da política destes setores.
Um dos componentes da atual crise ética é o uso dos acontecimentos pela bancada ruralista, composta por parlamentares bastante representativos dos partidos conservadores e de segmentos do bloco governista. Estes parlamentares barganham com o governo um novo Código Florestal em troca da blindagem do Ministro no Parlamento. Em troca de uma postura contrária a qualquer convocação do ministro ou instalação de CPMI, estes senhores querem um código florestal que anistie os devastadores da natureza, enfraqueça a vigilância do Estado sobre os seus empreendimentos e facilite o avanço do agronegócio sobre a floresta brasileira.
Por outro lado, a oposição conservadora quer restringir o alvo de suas críticas ao ministro Palocci, mas torce o nariz com a possibilidade de se aproveitar o momento para coibir a prática de tráfico de influência via consultorias de parlamentares e ex-ministros da área econômica.
Assim, estaremos juntos nos pedidos de investigação do caso Palocci, mas distantes na batalha contra o novo Código Florestal e na luta pela garantia da ética na política.

BANCADA DO PSOL NO CONGRESSO NACIONAL

O lucro sobre a vida: Deputados vaiam anúncio do assassinato de ambientalistas!

Depois ainda dizem por aí que não existe luta de classes! Deputados ruralistas e integrantes da Confederação Nacional da Agricultura vaiaram o anúncio da morte de 2 ambientalistas feita durante a votação nas alterações do Código Florestal. Sem nenhum senso de respeito pela vida humana, os mesmos explodiram em vaias quando o deputado encarregado do anúncio do assassinato subiu a tribuna para informar o plenário do acontecimento!

Vejam abaixo o texto com o relato do fato:

Vaias contra casal foram ‘grotescas’, diz deputado
Matheus Pichonelli
 
25 de maio de 2011 às 18:00h
 
 
No dia em que a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que anistia
desmatamentos promovidos pelo país, dois líderes ambientalistas foram
assassinados a tiros no Pará por denunciarem supostas violações à
floresta amazônica cometidas por grupos madeireiros.
 
A morte de José Cláudio Ribeiro da Silva e sua mulher, Maria do
Espírito Santo da Silva, após emboscada em uma área do Projeto de
Assentamento Agroextrativista Praialta-Piranheira, no sudeste do Pará,
foi informada aos deputados, que debatiam o novo Código Florestal, por
volta das 16h da última terça-feira 24, horas depois do crime.
 
Coube ao deputado José Sarney Filho (PV-MA), coordenador da Frente
Parlamentar Ambientalista, ler em plenário um texto em solidariedade
aos militantes:
 
“Ainda não chegou o momento de entramos nesta discussão sobre o Código
Florestal que está sendo feita agora, nesta sessão. Infelizmente, eu
estou assumindo esta tribuna para falar sobre uma tragédia que
aconteceu…”
 
Sarney Filho esperava, conforme disse em entrevista a CartaCapital, um
“silêncio reverencioso” quando citou o nome das vítimas e declarações
feitas por elas contra o desmatamento.
 
O que se ouviu, no entanto, foram vaias dos colegas da bancada
ruralista e dos visitantes que se engalfinhavam na galeria da Câmara
para acompanhar a votação. “Senhor presidente (da Câmara, Marco Maia),
eu estou fazendo um discurso sério. Que história é essa, meus amigos?
Eu não estou ferindo o direito pessoal de nenhum de vocês”, disse
Zequinha Sarney, diante dos protestos feitos pelos “convidados” da
Confederação Nacional da Agricultura (CNA), que, com café e petiscos,
atraía a claque para reforçar os gritos por mudanças no texto.
 
“Eles vaiaram um duplo assassinato. É uma coisa sem sentido, promovida
pelos interessados diretos no projeto, os beneficiados por essa
modificação. Foi algo grotesco”, disse Sarney Filho. “Foi algo
simbólico. Ficou claro que, durante a discussão do projeto, a vida
humana é o que menos importava. Imaginava que fizessem um silêncio
reverencioso, e que se lamentasse, em solidariedade, a morte dessas
pessoas que eram muito admiradas”.
 
O deputado, que no dia seguinte à votação escreveu em seu site que a
Câmara decidiu “espalhar ventos e vai colher tempestades” ao
incentivar desmatamento, disse que jamais havia testemunhado uma
pressão tão forte na Casa como a exercida pela claque ruralista.
“Vamos até analisar se houve alguma irregularidade ou excepcionalidade
nisso. Nunca tinha visto algo parecido em um dia de votação”.
 
Entre outros pontos defendidos pelos ruralistas – e pela claque
patrocinada por eles – a versão final do projeto, aprovado ao fim do
dia, retirou do governo federal a atribuição de regularizar o cultivo
em áreas de proteção permanente e anistiou desmatamentos cometidos até
2008.
 
Algo que o casal assassinado não chegou a ver – e lamentar.
 
 
 
Matheus Pichonelli
 
Fonte: Revista Carta Capital 

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Ainda sobre o assassinato do casal de ambientalistas:



Por racismoambiental, 25/05/2011 06:34
A história se repete! 
Novamente, choramos e revoltamo-nos:
Direitos Humanos e Justiça são para quem neste país?
Hoje, 24 de maio de 2011, foram assassinados nossos companheiros, José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, assentados no Projeto Agroextrativista Praialta-Piranheira, em Nova Ipixuna – PA. Os dois foram emboscados no meio da estrada por pistoleiros, executados com tiros na cabeça, tendo Zé Claúdio a orelha decepada e levada pelos seus assassinos provavelmente como prova do “serviço realizado”.
Camponeses e líderes dos assentados do Projeto Agroextratista, Zé Cláudio e Maria do Espírito Santo (estudante do Curso de Pedagogia do Campo UFPA/FETAGRI/PRONERA) foram o exemplo daquilo que defendiam como projeto coletivo de vida digna e integrada à biodiversidade presente na floresta. Integrantes do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), ONG fundada por Chico Mendes, os dois viviam e produziam de forma sustentável no lote de aproximadamente 20 hectares, onde 80% era de floresta preservada. Com a floresta se relacionavam e sobreviviam do extrativismo de óleos, castanhas e frutos de plantas nativas, como cupuaçu e açaí. No projeto de assentamento vivem aproximadamente 500 famílias.
A denúncia das ameaças de morte de que eram alvo há anos alcançaram o Estado Brasileiro e a sociedade internacional. Elas apontavam seus algozes: madeireiros e carvoeiros, predadores da natureza na Amazônia. Nem por isso, houve proteção de suas vidas e da floresta, razão das lutas de José Cláudio e Maria contra a ação criminosa de exploradores capitalistas na reserva agroextrativista.
Tamanha nossa tristeza! Desmedida nossa revolta! A história se repete! Novamente camponeses que defendem a vida e a construção de uma sociedade mais humana e digna são assassinados covardemente a mando daqueles a quem só importa o lucro: MADEREIROS e FAZENDEIROS QUE DEVASTAM A AMAZÔNIA.
ATÉ QUANDO?
Não bastasse a ameaça ser um martírio a torturar aos poucos mentes e corações revolucionários, ainda temos de presenciar sua concretude brutal?
Não bastasse tanto sangue escorrendo pelas mãos de todos que não se incomodam com a situação que vivemos, ainda precisamos ouvir as autoridades tratando como se o aqui fosse distante?
Não bastasse que nossos homens e mulheres de fibra fossem vistos com restrição, ainda continuaremos abrindo nossas portas para que os corruptos sejam nossos lideres?
Não bastasse tanta dificuldade de fazer acontecer outro projeto de sociedade, ainda assim temos que conviver com a desconfiança de que ele não existe?
Não bastasse que a natureza fosse transformada em recurso, a vida tinha também que ser reduzida a um valor tão ínfimo?
Não bastasse a morte orbitar nosso cotidiano como uma banalidade, ainda temos que conviver com a barbárie?
Mediante a recorrente impunidade nos casos de assassinatos das lideranças camponesas e a não investigação e punição dos crimes praticados pelos grupos econômicos que devastam a Amazônia, RESPONSABILIZAMOS O ESTADO BRASILEIRO – Presidência da República, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente, Polícia Federal, Ministério Público Federal – E COBRAMOS JUSTIÇA!
ESTAMOS EM VÍGILIA!!!
“Aos nossos mortos nenhum minuto de silêncio. Mas toda uma vida de lutas.”
Marabá-PA, 24 de Maio de 2011.
Universidade Federal do Pará/ Coordenação do Campus de Marabá; Curso de Pedagogia do Campo UFPA/FETAGRI/PRONERA; Curso de Licenciatura Plena em Educação do Campo;
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST/ Pará;
Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura – FETAGRI/Sudeste do Pará;
Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura Familiar – FETRAF/ Pará;
Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB;
Comissão Pastoral da Terra – CPT Marabá;
Via Campesina – Pará;
Fórum Regional de Educação do Campo do Sul e Sudeste do Pará

Lista de votos favoráveis e contrários as alterações no Código Florestal!

Segue abaixo a lista dos deputados do PR!
 
Paraná (PR)
Abelardo Lupion DEM   Sim
Alex Canziani PTB PsbPtbPcdob Sim
Alfredo Kaefer PSDB   Sim
André Vargas PT   Sim
André Zacharow PMDB   Sim
Angelo Vanhoni PT   Sim
Assis do Couto PT   Sim
Cida Borghetti PP   Sim
Dilceu Sperafico PP   Sim
Dr. Rosinha PT   Não
Edmar Arruda PSC   Sim
Eduardo Sciarra DEM   Sim
Giacobo PR PrPrbPtdobPrtbPrpPhsPtcPsl Sim
Hermes Parcianello PMDB   Sim
João Arruda PMDB   Sim
Leopoldo Meyer PSB PsbPtbPcdob Sim
Luiz Carlos Setim DEM   Sim
Luiz Nishimori PSDB   Sim
Moacir Micheletto PMDB   Sim
Nelson Meurer PP   Sim
Nelson Padovani PSC   Sim
Osmar Serraglio PMDB   Sim
Ratinho Junior PSC   Sim
Reinhold Stephanes PMDB   Sim
Rosane Ferreira PV PvPps Não
Rubens Bueno PPS PvPps Sim
Sandro Alex PPS PvPps Sim
Takayama PSC   Sim
Zeca Dirceu PT   Sim
Total Paraná: 29

Você votou em algum deles? Seus filhos e as futuras gerações lhe agradecem!

Para quem quiser acessar a lista completa é só acessar em lista completa abaixo:

Lista completa
Estou de luto! Quem me conhece sabe que sou do PSOL, mas esta luta não é partidária, ela transcende as questões partidárias. Por isso mesmo, deixei em destaque os dois únicos deputados (no caso um deputado e uma deputada) de nosso estado que votaram contra! Os outros colaboraram com o decreto de morte do ecossistema brasileiro! E para quem acha que estou exagerando, por favor busque informações científicas sobre os fatos, e não informações de cunho econômico ideológico! Novamente recomendo o relatório da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência como fonte de informações sobre os impactos destas alterações!
Agora, a luta continua!
Segue duas charges sobre o fato:
Fonte: http://sosriosdobrasil.blogspot.com/2011/05/adiada-votacao-das-mudancas-no-codigo.html

 Fonte: http://sosriosdobrasil.blogspot.com/2011/05/democratas-querem-votar-o-codigo.html

AMBIENTALISTAS SÃO ASSASSINADOS EM RESERVA EXTRATIVISTA NO SUDESTE DO PARÁ.

Tantas coisas eu poderia dizer hoje, depois da votação fatídica de ontem a noite eu poderia dizer muitas coisas! Mas, por enquanto vou guarda-lás comigo!
O que quero postar hoje para vocês é uma carta! Sim uma carta! Uma carta aberta, uma declaração que tem sua origem na Diocese de Marabá no estado do Para!
A carta é da Comissão Pastoral da Terra da nominada diocese, e foi publicada exatamente no dia em que o Código Florestal começa a ser assassinado, mas ela não menciona o assassinato do Código Florestal. Apesar de falar sobre assassinato, ela fala sobre um outro assassinato que esta relacionado com a mesma disputa presente no debate em torno das mudanças no Código Florestal, mas se apresentou de forma diferente!

Segue a carta:


AMBIENTALISTAS SÃO ASSASSINADOS EM RESERVA EXTRATIVISTA NO SUDESTE DO PARÁ.


            Hoje, por volta das 8 horas da manhã, os ambientalistas JOSÉ CLÁUDIO RIBEIRO DA SILVA e sua esposa MARIA DO ESPÍRITO SANTO SILVA, foram assassinados a tiros no interior do Projeto de Assentamento Extrativista, Praia Alta Piranheira, no município de Nova Ipixuna, sudeste do Pará. José Cláudio e Maria do Espírito Santo se dirigiam de moto para a sede do município, localizada a 45 km, ao passarem por uma ponte, em péssimas condições de trafegabilidade, foram alvejados com vários tiros de escopeta e revólver calibre 38, disparados por dois pistoleiros que se encontravam de tocaia dentro do mato na cabeceira da ponte. Os dois ambientalistas morreram no local. Os pistoleiros cortarem uma das orelhas de José Cláudio e levaram como prova do crime.
José Cláudio e Maria do Espírito Santo foram pioneiros na criação da reserva extrativista do Assentamento Praia Alta Piranheira no ano de 1997. Uma área de 22 mil hectares, onde existia uma das últimas reservas de Castanha do Pará, da região sudeste do Estado. Além da Castanha do Pará a reserva é rica em açaí, andiroba, cupuaçu e outras espécies extrativistas. Devido à riqueza em madeira, a reserva era constantemente invadida por madeireiros do município de Nova Ipixuna e Jacundá. A área é também pressionada por fazendeiros que pretendem expandir a criação de gado no local.
“Eu defendo a floresta e seus habitantes em pé, mas devido esse meu trabalho sou ameaçado de morte pelos empresários da madeira, que não querem ver a floresta em Pé”, denunciava José Cláudio. Ele foi o primeiro presidente da associação do assentamento, foi sucedido na presidência da associação por sua esposa Maria do Espírito Santo. Os dois ambientalistas eram incansáveis defensores da preservação da floresta extrativista. Inúmeras vezes interditaram estradas internas, pararam caminhões madeireiros dentro da reserva, anotaram as placas e encaminharam as denúncias ao IBAMA e Ministério Público Federal. Eram porta-vozes das mais de 300 famílias ali assentadas. Defendiam a floresta como suas próprias vidas. Nos últimos anos passaram a serem ameaçados de morte por madeireiros e fazendeiros. Por diversas vezes encaminharam denúncias de ameaças sofridas, através da CPT e do CNS, aos órgãos competentes, sempre nominando madeireiros e fazendeiros como responsáveis pelas ameaças. No final do ano passado, escaparam de uma emboscada, quando pistoleiros estiveram em sua casa procurando pelo casal. Nos últimos anos, a CPT denunciou as ameaças contra o casal no caderno de conflitos no campo. Nem a floresta nem os ambientalistas foram protegidos pelo poder público. As castanheiras continuaram sendo derrubadas pelos madeireiros e as duas lideranças tombaram pelas balas criminosas de pistoleiros a mando de seus ameaçadores.
A responsabilidade pelas mortes dos ambientalistas recai sobre o INCRA, o IBAMA, a Polícia Federal que nada fizeram para coibirem a extração ilegal de castanheiras na reserva e a destruição da Floresta pelos madeireiros e carvoeiros. Recai ainda sobre o governo do Estado do Pará que não colocou a polícia para investigar as tantas denúncias feita por José Cláudio e Maria do Espírito Santo. Por fim, os dois ambientalistas são vítimas do atual modelo de desenvolvimento imposto para a Amazônia pelos sucessivos governantes, que prioriza a exploração desenfreada e criminosa das riquezas da floresta, em benefício do agronegócio, de madeireiros e mineradores.  As consequências são: a destruição da floresta, o saque de suas riquezas e a violência contra seus povos.

            José Cláudio e Maria do Espírito Santo vivem na luta e na memória do povo!
                                  
Marabá, 24 de maio de 2011.

Comissão Pastoral da Terra – CPT
Diocese de Marabá. 

terça-feira, 24 de maio de 2011

À Conta-gotas, mas sem Razão!



Hoje ocorre mais uma tentativa de votação!
Nas últimas semanas, tem sido assim: tensão constante. Tanto de um lado, quanto do outro!
Os movimentos sociais, torcendo para que um código que vai trazer o desastre para o nosso meio ambiente não seja aprovado, apesar de todas as maracutaias, conchavos e acordos colocados e tentados!
E os ruralistas torcendo e cruzando os dedos em figa, para que desta vez, consigam a aprovação das alterações que tanto almejam, alterações estas, que irão perdoar desmatadores e permitir uma maior expansão do desmatamento, além de por exemplo regularizar ocupações irregulares em encostas e outros problemas, já tão relatados em outros textos neste mesmo blog!
Pois é! Algumas horas, e teremos novamente a notícia se a alteração do código foi aprovada no congresso, ou se mais uma vez dar-se-á um prazo a mais para a natureza!
Essa novela do código merece inclusive uma paródia do próprio nome deste blog: o debate em torno do código vem acontecendo à Conta-gotas, mas infelizmente sem levar a Razão em conta!
O que mais esta pesando são os acordos políticos, os interesses econômicos, os interesses pessoais de alguns indivíduos, e grupos!
Temos deputados no congresso que serão diretamente beneficiados se o código for alterado, e não falo apenas daqueles deputados latifundiários, mas estou falando de excelentíssimos que lá estão, apesar de estarem sofrendo processos ambientais.
Quem são eles? Certo, vou dizer, é direito e dever da população ficar sabendo:
No Senado temos os seguintes nomes ansiosos pela mudança do código florestal:
IVO CASSOL (PP-RO): Quatro autos de infração. Quatro áreas embargadas em Rondônia: destruição de APP e reserva legal em áreas da Amazônia legal.
Sua alegação: “que os crimes ambientais foram cometidos em propriedades vizinhas às suas”. Quem sabe ele não faz uma emenda parlamentar para a compra de aparelhos GPS para o Ibama? Só uma sugestão!
KÁTIA ABREU (PSD-TO): a chamada musa dos ruralistas tem um auto de infração, foi multada por crimes ambientais mas escapou de ter terras embargadas, mas caso o código não seja modificado corre este risco assim como os demais.
RENAN CALHEIROS (PMDB-AL): É isso mesmo, lembram deste nome? Ele também faz parte desta lista! O senador tem um auto de infração.
JAYME CAMPOS (DEM-MT): Três áreas embargadas em Mato Grosso: desmatamento de APP e atividade potencialmente degradadora sem licença ambiental.
Sua alegação? A assessoria do senador disse ao Correio Brasiliense que não conseguiu encontrar o mesmo. (?????) A assessoria do senador não encontrou o mesmo? Talvez ele tenha se perdido em alguma APP por aí! Vai saber, não é?
JOÃO RIBEIRO (PR-TO): Uma área embargada de Tocantins: atividade potencialmente degradadora sem licença ambiental.
O que ele diz? não houve retorno até o fechamento da edição do correio brasiliense que serviu como fonte de informações a este texto.
Já na Câmara os nomes ansiosos são:
AGNOLIN (PDT – TO): Duas áreas embargadas em Tocantins: destruição significativa da biodiversidade e implantação de projetos de loteamentos sem licença ambiental. O que ele diz: que já regularizou a área de preservação, demoliu a obra e reparou os danos provocados pelas construções à margem do Lago do Lajeado.
AUGUSTO COUTINHO (DEM-PE): uma notificação e dois autos de infração. Uma área embargada em Pernambuco por desmatamento de APP.
Sua alegação? Ele diz que lhe foi concedida licença para a construção da obra que gerou o desmatamento. (???) Se lhe foi concedida a licença, como a obra foi embargada? Seria simples resolver, só apresentar a licença!
EDUARDO GOMES (PSDB-TO): dois autos de infração. Uma área embargada em Tocantins: instalação de represa que altera o curso d'água e a fauna aquática, sem licença ambiental.
Alegação: a multa teria sido parcelada em 60 vezes e está sendo paga em dia. Casas Bahia! No prazo em 60 vezes e você consegue uma licença ambiental!
GIOVANI QUEIROZ (PDT-PA): dois autos de infração e uma notificação.
HÉLIO SANTOS (PSDB-MA): um auto de infração.
IRACEMA PORTELA (PP-PI): um auto de infração, área embargada no Maranhão por desmatamento de APP.
Alegação: que tem uma propriedade rural no estado, mas nunca foi notificada por qualquer dano ambiental. Convenhamos, é possível acreditar em uma alegação como esta?
IRAJÁ ABREU (DEM-TO): O sobrenome lhes parece conhecido? Pois é! Família que desmata junta permanece unida! O Dep. Irajá Abreu é filho da Senadora Katia Abreu, e tem duas áreas embargadas em Tocantins: desmatamento de reservas legais e APPs.
Alega que: desconhece a decisão do Ibama de embargar áreas de fazendas em seu nome. Será que ele justifica o ato no desconhecimento da lei também?
JÚNIOR COIMBRA (PMDB-TO): dois autos de infração.
LIRA MAIA( DEM-PA): um auto de infração.
MÁRCIO BITTAR (PSDB – AC): um auto de infração
MARCOS MEDRADO (PDT-BA): dois autos de infração. Duas áreas embargadas na Bahia: obras poluentes sem licença ambiental.
Alegação: a assessoria de imprensa informou ao correio brasiliense que o deputado estava incomunicável no interior da Bahia. Dessa vez o caso não é de GPS, mas sim de telefonia! (risos)
MOREIRA MENDES (PPS-RO): um auto de infração.
NELSON MACHEZELLI (PTB-SP): um auto de infração.
PAULO CÉSAR QUARTIERO (DEM-RR): cinco autos de infração. Cinco áreas embargadas em Roraima: destruição de área de preservação permanente (APP), extração de minério de floresta em domínio público e impedimento da reposição de florestas.
O que ele alega: simplesmente que não usa mais as fazendas embargadas.
RAUL LIMA (PP-RR): um auto de infração.
REINALDO AZAMBUJA (PSDB-MS): um auto de infração. Uma área embargada em Mato Grosso do Sul, por obras poluentes sem licença ambiental.
Alegação: que protocolou a defesa em 2009 e ainda não houve julgamento pelo Ibama.
ROBERTO DORNER (PP-MT): uma área embargada em Mato Grosso por destruição de APP em áreas da Amazônia legal. Alegação: que tem toda a documentação que autoriza o desmatamento. (???) Documentação que autoriza o desmatamento em área de reserva da Amazônia legal? Existe isso?!
SANDRO MABEL (PR-GO): um auto de infração e uma notificação.
Então, caros leitores? Estes são os nomes! Alguns mais conhecidos, outros menos, mas todos parlamentares que lá foram colocados pelo voto do povo, sendo este um voto consciente ou não, eles estão lá!
E agora, irão ajudar a decidir não só o nosso destino, como o de nossos filhos, das gerações posteriores a eles, e do próprio ecossistema brasileiro.
Uma votação como esta é de extrema importância, é uma decisão que se tomada pode acarretar consequências sem volta, já estamos vivenciando uma situação de desequilíbrio planetário e o Brasil ao alterar desta forma o seu código florestal só vai contribuir com o problema.
Como eu já havia colocado em um texto anterior, será o “inicio do fim da razão”!
Ainda tenho esperanças de que as alterações não serão aprovadas apesar de todos os conchavos, sei que a luta é difícil mas, também sei que aquilo que se busca é possível. Sei também que o amadurecimento da sociedade é possível, assim como o amadurecimento de uma pessoa, apesar de ser mais lento. Desta forma, eu espero que hoje na sessão de votação este amadurecimento se mostre, e que interesses mesquinhos de indivíduos não se sobreponham aos interesses de toda uma espécie (espécie humana) e mais ainda, aos interesses do coletivo de espécies que formam não só o ecossistema brasileiro mas todo ecossistema mundial!
Para a natureza, não existem países, o que existe é a própria Terra, que é um sistema único, fechado; onde o que acontece em um local afeta todo o conjunto, e no momento o destino deste sistema assim como o de diversas espécies que dele fazem parte, incluindo a nossa própria, esta nas mãos da espécie humana, e acredito que como dizia o Astrônomo e Astrofísico Carl Sagan, “se os humanos criam problemas, os humanos podem encontrar soluções” e é nessa capacidade humana de encontrar soluções que ainda acredito apesar de tudo.
Mas para tanto, alguns grupos que controlam hoje a economia e a política nacional e mundial deverão ser desafiados.
Tendemos a pensar no imediato, no ontem, no agora! Mas, para a natureza o imediato não existe, ela pode demorar em cobrar suas dividas, mas sempre cobra, assim, espero que a sociedade passe a se interessar mais por esta questão, e que o tratamento que vem se dando não só em relação as mudanças no código florestal, mas em relação a todo o debate ambiental, passe a ser mais pontuado de racionalidade e menos de interesses grupais e individuais.
Que o debate e a decisão sobre o código seja pontuado de racionalidade, mesmo que a conta-gotas, e não da maneira como esta hoje: à conta-gotas mas, sem razão!
Para que então, não precisemos vivenciar na pele o ensinamento que o seguinte ditado que nos foi legado através da sabedoria dos antigos quer passar: “Deus, perdoa sempre, o homem as vezes, a natureza... Nunca!”
Desta forma termino este texto esperando que o dia de hoje não fique marcado como a data do “Inicio do Fim da Razão!”

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O código do atraso. (Parte III)


Por João Paulo R. Capobianco Biólogo e ambientalista No Le Monde Diplomatique , Sao paulo,18 de maio de 2011
O Código do Atraso (Parte III)
Estímulo aos desmatamentos
É forçoso reconhecer que o substitutivo de Rebelo foi engenhosamente construído. Salvo dispositivos escandalosamente antiambientais, a maioria dos problemas está nos detalhes de um texto que possui 55 artigos e 37 páginas. Os principais são expostos a seguir:
1. Introdução do conceito de “Área rural consolidada”. Ao definir essa nova figura legal, o substitutivo simplesmente converte para essa categoria as ocupações irregulares feitas até 22 de julho de 2008 em fragrante desrespeito à legislação ambiental. Mais do que um jogo de palavras, introduz uma ideia que será posteriormente defendida à exaustão, de que o que está feito não deve ser revertido. Uma espécie de direito adquirido para quem desrespeitou a legislação ambiental.
2. Ampliação do conceito de pequena propriedade rural, sem critérios socialmente adequados, possibilitando o aumento significativo de proprietários rurais beneficiados pelo tratamento diferenciado e preferencial dado aos pequenos produtores rurais, mesmo sem o serem.
3. Modificação do parâmetro para o cálculo das áreas de preservação permanente (APP) nas margens dos rios, levando à redução das áreas que se encontram em situação irregular e que, portanto, teriam que ser recuperadas, além de permitir futuras autorizações de desmatamento onde hoje é proibido.
4. Redução de 30 para 15 metros a faixa de proteção (APP) das margens de rios de até cinco metros. Essa modificação, combinada com a anterior, vai reduzir drasticamente a proteção legal das matas ciliares, desobrigando a recuperação ou viabilizando novos desmatamentos.
5. Liberação da ocupação e desmatamentos da vegetação nativa situada em altitude superior a 1.800 metros, hoje protegida como APP.
6. Eliminação da proteção das áreas de várzeas, que deixam de ser consideradas como APP, sujeitando os corpos d’água a terem suas áreas de inundação natural totalmente degradadas e contaminadas por uso intenso de pesticidas e adubos.
7. Eliminação da obrigatoriedade de recuperar a Reserva Legal para propriedades de até quatro módulos fiscais, equivalentes a seiscentos hectares na Amazônia.
8. Desconto de área equivalente a quatro módulos fiscais no cálculo da Reserva Legal degradada a ser recuperada nas médias e grandes propriedades.
9. Computo da área de preservação permanente no cálculo da Reserva Legal para todo o país, independentemente das dimensões da propriedade, reduzindo o montante de área ilegalmente desmatada a ser recuperada.
10. Anistia “branca” de cinco anos para desmatadores irregulares. Esse é um dos pontos mais graves e sofisticados do substitutivo. Estabelece a obrigatoriedade da União e dos estados elaborarem, no prazo de até cinco anos, Programas de Regularização Ambiental fixando os parâmetros e as condições para a recuperação da vegetação nativa nas propriedades rurais irregulares.
Durante o período de elaboração do tal Programa, o proprietário nada precisa fazer e está autorizado a continuar utilizando economicamente a área que desmatou ilegalmente. Além disso, suas multas e seus processos por desmatamento de antes de 22 de julho de 2008 ficam suspensos.
Há muitos outros aspectos nocivos no substitutivo, como a transferência de competências do Conselho Nacional do Meio Ambiente para os governos federal, estaduais e municipais, que podem editar decretos e atos normativos sem nenhum controle social ou a possibilidade ambientalmente equivocada de permitir a compensação da Reserva Legal em qualquer bioma.
O único dispositivo que tem um aparente caráter ambiental no substitutivo de Aldo Rebelo é a proposta de moratória para novos desmatamentos por um período de cinco anos, a partir da promulgação da lei. Entretanto, cotejando essa previsão com o conjunto de modificações, que tornarão praticamente impossível controlar e punir os desmatamentos ilegais, fica evidente a sua iniquidade.
O grau de acirramento do debate, resultado da radicalização do substitutivo e do próprio posicionamento de Aldo Rebelo, vem conduzindo a um impasse raras vezes visto. No esforço para impedir a desconstituição da legislação ambiental, praticamente nada está sendo feito para a definição de instrumentos legais de compensação aos que preservaram, seja por meio de mecanismos de pagamento por serviços ambientais, seja pela criação de um mercado que remunere a floresta como ativo econômico.
O que está mobilizando a academia, os empresários esclarecidos e os ambientalistas é a defesa de uma agenda preservacionista do século passado e não a do futuro onde será imperativo desenvolver instrumentos para viabilizar a coexistência entre o aumento da conservação e o aumento da produção. Esse é o desafio que deveria estar consumindo as energias dos envolvidos na discussão do Código Florestal.
Sem sinais de avanço, as reuniões se multiplicam no Congresso e no Palácio do Planalto. Uma comissão de negociação foi montada pelo atual presidente da Câmara, para se buscar um acordo que permita colocar o substitutivo em votação sem que vire uma polêmica capaz de gerar fissuras na base do governo, com graves repercussões junto à opinião pública. Até agora nenhum resultado concreto nessa direção foi obtido e multiplicam-se informações desencontradas e contraditórias sobre supostos acordos entre as partes envolvidas.
Nada parece ser suficiente para convencer a bancada ruralista e seu novo líder de que a proposta tal como está é um retrocesso inaceitável, incapaz de levar tranquilidade ao campo e, muito menos, estabelecer a tão desejada segurança jurídica para o pleno desenvolvimento da atividade agropecuária no país.
As lideranças ruralistas com forte influência e trânsito nos arcos, cúpulas e abóbadas de Brasília parecem ter certeza da aprovação de um substitutivo que finalmente as desobrigará do cumprimento de exigências que estão previstas em lei desde o governo do presidente Getúlio Vargas, quando foi editada a primeira versão do Código Florestal, em 1934.
Foi naquela época, há mais de oitenta anos, que foi estabelecido que as florestas eram “interesse comum de todos os habitantes do país” e definida a obrigatoriedade de preservação de 25% da vegetação nativa das propriedades rurais e das florestas protetoras, destinadas a conservar os recursos hídricos e evitar a erosão, entre outras funções.
Como em 2000 parece que restará a presidente atuar junto às lideranças do Congresso para evitar o pior.



João Paulo R. Capobianco é biólogo e ambientalista, é membro do Conselho Diretor do Instituto Democracia e Sustentabilidade, foi secretário nacional de Biodiversidade e Florestas e secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente de 2003 a 2008.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Natureza e Corrupção! A natureza como matéria de negociatas!

Mais do que antes, o código florestal virou objeto de negociatas!
Para evitar o chamamento do ministro chefe da casa civil, Antonio Palocci, ao Congresso no intuito de prestar esclarecimentos sobre a forte suspeita de enriquecimento ilícito que recai sobre ele, o governo aceitou votar e aprovar o relatório do Código "da morte" Florestal apresentado na seção passada por Aldo Rebelo!
É, agora a natureza também virou produto comercial nas negociatas dentro dos corredores do congresso!
E é dessa maneira que os Ruralistas pretendem aprovar o código, o governo aprova o código e os ruralistas aprovam a corrupção! Pois é, como se costuma dizer por aí: "Uma mão lava a outra!"

Segue a reportagem completa disponível no site do Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico (IBDU):


Governo aceita votar Código Florestal para evitar convocação de Palocci
[19/05/2011 11:45]

Em negociação com líderes da oposição, Governo Federal se compromete a
votar, sem modificações, projeto que causou polêmica na semana passada
por haver sido alterado pelo relator minutos antes da votação. Acordo
inclui, ainda, apreciação de emenda do deputado Paulo Piau (PMDB/MG)
que, na prática, acaba com a proteção a áreas frágeis no país.



Após quatro dias de exposição pública de um de seus principais
integrantes, o Governo Federal acatou a chantagem dos partidos de
oposição. Em troca de não convocar ao Congresso Nacional o
ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, e do fim da obstrução à
votação de medidas provisórias que, dentre outras coisas, dão isenção
fiscal para compra de material usado em usinas nucleares e afrouxam as
regras de licitação para as obras da Copa do Mundo e das Olimpíadas, o
Governo fechou acordo para votar, na próxima terça-feira, o projeto de
flexibilização no Código Florestal.

O anúncio ocorreu poucas horas depois de o próprio Governo Federal
soltar os últimos dados oficiais sobre desmatamento na Amazônia, que
apontam um crescimento vertiginoso nos primeiros meses deste ano,
especialmente no Mato Grosso, onde cresceu 43% entre agosto de 2010 e
abril de 2011. Esses dados corroboram a análise feita pelo Imazon, que
identificou um aumento explosivo do desmatamento naquele estado em
abril deste ano (537% maior do que em abril de 2010). Há duas semanas
o Instituto Centro de Vida – ICV já havia anunciado que o desmatamento
em Mato Grosso havia explodido nesse começo de ano, devido sobretudo à
expectativa de muitos produtores rurais de se beneficiarem da anistia
que vem sendo prometido pelos líderes do setor com a aprovação das
alterações no Código Florestal.

Análise feita pelo ISA e outras organizações da sociedade civil mostra
que o texto que será votado é um grande retrocesso ao país. Além de
manter ocupações insustentáveis em áreas de preservação permanente
(como pecuária em encostas e topos de morro), incentivar novos
desmatamentos ilegais em reserva legal e isentar a recuperação de
reserva legal para todos os imóveis de até quatro módulos fiscais,
dentre vários outros pontos graves, ele é cheio de lacunas e
contradições, o que tornará quase impossível sua aplicação caso venha
a se transformar em lei. Só com isso as metas nacionais de recuperação
de biomas e de diminuição do desmatamento já deixariam de ser
alcançadas.

Mas, o acordo para votação incluiu ainda uma outra novidade, ainda
mais negativa para nossas florestas. Uma única emenda será votada: a
de número 164, apresentada pela bancada do PMDB e do PR, que permite
que as APPs sejam desmatadas para a instalação de atividades
“agrossilvipastoris” (agricultura, pecuária ou plantações florestais)
e dá aos Estados o poder para definir outras atividades econômicas que
possam ser exploradas nessas áreas. Essa emenda, na prática, faz mais
do que uma anistia geral e irrestrita para ocupações ilegais ocorridas
até 2008; acaba com a própria definição de APP, pois as exceções que
justificam o desmatamento em beiras de rio, encostas e topos de morro
serão tão numerosas que, na verdade, serão a regra. Veja aqui a
emenda.

Embora o PT tenha dito que votará contra essa emenda, o Planalto sabe
que os ruralistas articularam o suficiente para aprová-la. A
presidente Dilma, no entanto, se comprometeu durante a campanha
presidencial a vetar qualquer proposta que signifique uma anistia
geral às ocupações ilegais em APPs. É bom ir preparando a caneta, ou
se movimentar para que, no Senado, a história seja diferente.




ISA, Raul Silva Telles do Valle.


-- 
Luciana Bedeschi
11 8168 0527


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http://www.ibdu.org.br

O Código do atraso (Parte II)


Por João Paulo R. Capobianco Biólogo e ambientalista No Le Monde Diplomatique , Sao paulo,18 de maio de 2011
  Contraofensiva ruralista
Conhecendo esse contexto, fica evidente não ser mera coincidência o momento escolhido para esse grande esforço empreendido pelos ruralistas, no sentido de buscar promover a completa desestruturação da legislação de proteção à vegetação nativa do país. Ele é consequência direta da percepção de que os produtores rurais em situação irregular enfrentariam cada dia mais dificuldades para continuarem a deixar de aplicar as exigências legais, frente os novos mecanismos de controle e punição engendrados nos últimos anos.
O movimento antiambiental em andamento agora na Câmara, entretanto, tem uma diferença fundamental em relação ao de 2000: ele foi, dessa vez, minuciosamente preparado em todos os seus aspectos.
Do ponto de vista processual, ressuscitaram um projeto de 1999, que já tinha sido arquivado duas vezes e o submeteram à análise de uma comissão especial criada em setembro de 2009 pelo então presidente da Câmara, Michel Temer, composta quase que exclusivamente por parlamentares ligados ao setor ruralista.
Do ponto de vista político designaram o comunista Aldo Rebelo como relator. Ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rebelo é detentor de profundo conhecimento dos processos legislativos, obtido em seus cinco mandatos consecutivos.
Do ponto de vista técnico foram ainda mais longe. Fizeram surgir dois relatórios produzidos por uma unidade da Embrapa, a “Embrapa Monitoramento por Satélite”, de resultados discutíveis, mas muito úteis às teses ruralistas.
Um deles intitulado “Alcance territorial da legislação ambiental e indigenista”, baseado em leitura tendenciosa dos dispositivos legais em vigor e em erros primários de aritmética, serviu de argumento para sustentar um suposto engessamento territorial da agropecuária brasileira pela legislação ambiental. Amplamente divulgado em audiências públicas e alardeado pelos líderes ruralistas por todo o país, o relatório chegou a afirmar que a área disponível para a agropecuária era “negativa” no Brasil.
Outro relatório, ainda mais questionável, intitulado “A dinâmica das florestas no mundo”, afirmava que nos últimos 8 mil anos o volume de florestas no Brasil teria saltado de 9,8% para 28,3% em relação ao total existente no planeta. Tal proeza, segundo os autores, deveria render louros e reconhecimento internacional e não mais pressões pela conservação.
O estudo só não esclareceu aos leitores que o desmatamento em nosso país atingiu taxas anuais de proporções tão grandes que, mantido o ritmo do início dos anos 2000, estaríamos repetindo em poucas décadas o mesmo erro cometido em séculos pelos demais países criticados no relatório.
Dessa forma, com uma comissão blindada pelos representantes do setor ruralista, um relator de reconhecida competência parlamentar e trânsito no Congresso Nacional e estudos técnicos de encomenda, o resultado não poderia ser outro. No dia 6 de julho de 2010, a Comissão Especial destinada a proferir relatório sobre o Projeto de Lei 1.876 de 1999, aprovou o substitutivo de Aldo Rebelo por treze votos a favor e cinco contra.
Com a justificativa de que há um enorme contingente de produtores rurais em situação irregular, o que é verdade, e que seria necessário aprimorar os mecanismos que estimulem, apoiem e facilitem a regularização, com o que todos concordam, o substitutivo modifica profundamente as exigências legais atualmente em vigor. As alterações propostas fazem que, como num passe de mágica, as irregularidades deixem de existir e o que era um passivo ambiental de uma propriedade rural praticamente desapareça. Com isso, muito pouco do que foi ilegalmente desmatado permanece com a obrigação de ser recuperado ou compensado, como exige a legislação brasileira desde 1934.
Uma comparação com as iniciativas governamentais de regularização do pagamento de impostos, os chamados Programas de Recuperação Fiscal (Refis), pode ajudar a entender a questão.
O Refis visa criar oportunidades para o recolhimento de impostos atrasados, que dificilmente seriam pagos em condições normais de prazos e incidência de juros. Além disso, tem o objetivo de regularizar a situação dos contribuintes inadimplentes que ficam sem acesso ao credito público. Para tanto é dado um desconto e os valores são parcelados de forma a tornar viável o pagamento.
O substitutivo de Aldo Rebelo tenta criar uma espécie de “Refis para devedores de Reserva Legal e áreas de preservação permanente”. O problema é que ele propõe mudanças tão radicais na legislação que seriam comparáveis ao governo mudar a alíquota do imposto que está atrasado durante a negociação do pagamento da dívida. Ora, se a alíquota é alterada para menor, como exigir que os devedores paguem os valores atrasados calculados com uma alíquota que já não existe.
Contrariando a justificativa original de facilitar a regularização, o substitutivo retira propriedades da situação irregular, sem que o proprietário rural tenha que corrigir pelo menos parte do ato ilegal praticado.
Esse é um dos efeitos mais perversos do texto, pois acaba por beneficiar quem desmatou em detrimento de quem cumpriu a lei e possui parte de sua propriedade com Reserva Legal e APP conservada.
O outro efeito negativo, tão grave quanto o primeiro, é que ao diminuir a dimensão das áreas que devem ser mantidas com vegetação nativa, conforme veremos a seguir, o substitutivo torna possível a autorização de desmatamento de extensas áreas hoje protegidas pelo atual Código Florestal.
João Paulo R. Capobianco é biólogo e ambientalista, é membro do Conselho Diretor do Instituto Democracia e Sustentabilidade, foi secretário nacional de Biodiversidade e Florestas e secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente de 2003 a 2008.
Amanhã será colocada a parte III

quarta-feira, 18 de maio de 2011

O código do atraso (Parte I)


Caros leitores o texto abaixo não é de minha autoria, mas sim do pesquisador João Paulo R. Capobianco, foi publicado hoje no Le Monde Diplomatique, como o mesmo trás uma abordagem interessante sobre a discussão em torno das alterações no Código Florestal resolvi publica-lo aqui para disponibiliza-lo a vocês!
Como o mesmo é um pouco extenso eu farei uma divisão em três partes do texto, publicando uma parte a cada dia.
Boa leitura! E boa reflexão!


Por João Paulo R. Capobianco
Biólogo e ambientalista
No Le Monde Diplomatique , Sao paulo,
18 de maio de 2011

A discussão sobre florestas está nas primeiras páginas dos jornais e no horário nobre das emissoras de rádio e televisão. A boa notícia é que, dessa vez, o acalorado debate não é consequência da divulgação de números alarmantes de derrubadas na Amazônia.
Graças a uma atuação firme de combate ao desmatamento iniciada no primeiro governo Lula, que teve continuidade no segundo e, espera-se, prossiga no de Dilma Rousseff, os índices vêm diminuindo ano a ano.
O monstro, que parecia incontrolável e nos assombrou e envergonhou durante os séculos em que reinou na Mata Atlântica e na Caatinga e as décadas em que ditou as regras na Amazônia e no Cerrado, mostrou sua fragilidade ao ter que enfrentar compromisso político e ação firme do governo, impulsionado a agir pela pressão da sociedade.
A má notícia, entretanto, é que essa intensa discussão não é motivada pela evidente necessidade de aperfeiçoamento da legislação florestal, a fim de torná-la mais moderna e compatível com o atual momento em que vivemos. Momento este, marcado por um forte crescimento da consciência ambiental e da valorização dos princípios da sustentabilidade.
O que estamos assistindo, é uma disputa desigual entre os que querem impor uma flexibilização total das normas de conservação e os que, impossibilitados de fazer a agenda avançar, estão na defensiva, tentando garantir que o estrago seja o menor possível.
Essa não é a primeira vez que parlamentares da intitulada “bancada ruralista”, constituída pelo que há de mais atrasado no campo, tentam flexibilizar a legislação. Em 2000 quase conseguiram. Não fosse a vigorosa reação da opinião pública e a resistência de alguns poucos parlamentares, que levaram o então presidente Fernando Henrique Cardoso a intervir no processo, teria sido aprovado o famigerado relatório do Deputado Micheletto (PMDB-PR), que literalmente destruiria os instrumentos legais de proteção da vegetação nativa do país.
Um período de avanços
Desde essa última investida até agora, algumas coisas mudaram nos processos de degradação florestal. E a mudança foi, finalmente, após décadas de descontrole, para melhor.
Na Amazônia, entre 2004 e 2010, o desmatamento anual despencou de 27.423 km² para 6.451 km², atingindo a menor taxa registrada desde que teve início o monitoramento realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 1988. Nos demais biomas o desmatamento também entrou em declínio, embora no Cerrado os índices ainda sejam alarmantes.
Para se chegar a esse resultado, ainda não completamente satisfatório, visto que o desmatamento, embora menor, continua em proporções muito altas, foi implementado um conjunto inédito de fortes medidas de controle.
Somente na Amazônia, onde o governo concentrou seus esforços no período de 2004 a 2010, foram criadas cerca de 261 mil km² de unidades de conservação e homologadas aproximadamente 180 mil km² de terras indígenas. Essas novas áreas protegidas tiraram do alcance de especuladores e grileiros uma área equivalente à soma dos territórios dos estados de São Paulo e do Paraná.
Para tornar ainda mais eficiente a ação contra a grilagem, um dos principais fatores de desmatamento na Amazônia, foram cancelados nos cadastros do Incra mais de 66 mil títulos de posses ilegítimas e modificados radicalmente os mecanismos e procedimentos para registro de posse.
Somaram-se a isso as operações do Ibama integradas com a Polícia Federal e polícias ambientais dos estados que levaram ao fechamento de aproximadamente 1.500 empresas clandestinas, apreensão de milhões de metros cúbicos de toras, desmonte de máfias da madeira e da especulação de terras públicas, que operavam há décadas na região, e a prisão centenas de pessoas, incluindo funcionários públicos dos governos federal e estaduais.
Complementando essas medidas, vieram outras no campo legal, como a aprovação da Lei de Gestão de Florestas Públicas (Lei 11.482/06) e da Lei da Mata Atlântica (Lei 11.428/06) e a edição de vários decretos, em especial os de números 6.321/07 e 6.514/08, que definiram mecanismos muito consistentes para fazer valer o cumprimento do Código Florestal.


João Paulo R. Capobianco é biólogo e ambientalista, é membro do Conselho Diretor do Instituto Democracia e Sustentabilidade, foi secretário nacional de Biodiversidade e Florestas e secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente de 2003 a 2008.

Amanhã será colocada a parte II