segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Racismo Ambiental nas águas de Belo Monte (Por Paulo Piramba)

No intuito de estar participando da Blogagem Coletiva chamada pelo Grupo #EBLOG, e ao mesmo tempo fazer uma homenagem ao meu amigo e camarada Paulo Piramba que faleceu no mês passado, estou republicando um texto de sua autoria.
Dentro da temática da Blogagem coletiva o texto tem como objetivo fazer uma análise crítica e ao mesmo tempo com humor ácido, ao estilo que só o camarada Piramba sabia fazer.
Então, segue com vocês o texto Racismo Ambiental nas águas de Belo Monte (Por Paulo Piramba), uma ótima leitura e boa reflexão! E sei que o Camarada, de uma ou de outra forma esta ainda com a gente!



A imagem ao lado mostra uma cena que não é nova. Um índio, no caso Raoni kayapó, mostra sua indignação em uma reunião com brancos politicamente corretos, em atitude repeitosa.
Poderia ser aquela outra índia, também kayapó, que em 2008 passou o facão no presidente da Eletronorte, numa audiência pública também sobre Belo Monte, no que a revista Veja na época (sem trocadilho) considerou um ataque de “selvagens amazônicos”. http://veja.abril.com.br/280508/p_064.shtml
Desta vez quem teve que aturar impassível o dedo de Raoni, a centímetros de sua cara, foi o aspone da vez Rogério Sotilli, secretário executivo da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que tinha se refugiado previamente no FSM de Dakar.
Provavelmente as imagens correrão o mundo. Nos países desenvolvidos não faltarão aqueles que se solidarizarão com o “selvagem” que defende sua terra. Outros se lembrarão de Avatar, mesmo que o herói do filme (como brilhantemente percebeu Zizek) seja o colonizador.
Já para o Quarto Mundo, como o ecossocialista Joel Kovel chama os indígenas e povos “sem Estado”, nenhuma novidade. Só mais um capítulo do modelo de “diálogo” que os assim chamados governos progressistas, principalmente os daqui da América Latina, tem praticado.
Nas palavras do próprio aspone de plantão: “Lula prometeu que não enfiaria Belo Monte goela abaixo das populações do Xingu. Sempre ouvi dizer que houve muito diálogo. Talvez, com o que vocês dizem agora, não foi tanto assim (…) Dilma fará o que tem que ser feito. (…) Dilma tem que pensar o Brasil como um todo, atender todos os interesses, incluir toda a nação. (…) Garanto que vamos dialogar, mas claro, podemos não chegar a um consenso”.
Ah, os “interesses do Brasil”, quanta barbárie socio ambiental já se cometeu, e continuará se cometendo, em seu nome. A fala do aspone governamental é clara. Os interesses de todos são muito mais importantes do que os de um pequeno bando de sujeitos, com penas na cabeça e botoques nos beiços.
Todos quem, cara pálida, deve ter pensado Raoni. Se não pensou, penso eu. A construção de Belo Monte tem sido defendida pelos tecnocratas de plantão como a última fronteira entre o fim dos apagões e as cavernas sem luz. Sem a usina de Belo Monte, o Brasil pára, vociferam os editoriais da grande mídia.
Já entre quem deveria estar do nosso lado, existem também defensores do belo monstro que está sendo parido no ventre do desenvolvimentismo, se me perdoam a metáfora gongórica e naftalinesca.Os eco-capitalistas do WWF-Brasil, por exemplo, não são contra desde que “exista um planejamento estratégico da Amazônia como um todo”.
Há também os que, como Luiz Pinguelli, usam a caratonha das usinas termelétricas e nucleares para justificar o “mal menor”. Seria bom estas pessoas passarem o Carnaval no Xingú para explicarem às etnias ameaçadas esse conceito de mal menor.
Finalmente, existem aqueles que se encontram em um Belo Muro,como o SOS Mata Atlântica, “que está voltado para outro bioma”, criando jurisprudência de que desmatamento em bioma dos outros é refresco. Já a senadora Marina, bom a senadora Marina defende a transparência do processo, sem ter opinião pública a favor ou contra.
Já para os 600 mil e pouquinhos cidadãos e cidadãs que assinaram um manifesto contra a construção de Belo Monte, e para vários cientistas e pesquisadores, este processo tem sido um belo monte de meias verdades e mentiras completas, tal como a licença que foi dada pelo Imbroma.
A começar pela energia gerada. 11 megawatts por mês trombeteiam as fanfarras de Brasília. 4 megawatts retrucam os especialistas independentes, devido a vazão do rio. Tá, pode argumentar o nobre leitor, 4 megawatts já são um belo acréscimo para um país tão necessitado de energia para se desenvolver.
Para onde irá a energia gerada por Belo Monte. Se for para fora da Amazônia, teremos de acrescentar o custo da sua transmissão, isso sem falar na qualidade da operação que, por falar nisso, estará a cargo da CHESF, aquela responsável pelo apagão recente no NE.
Essa energia será, dessa forma, muito cara. Certamente não será o “povo pobre e excluído da Amazônia”, como afirma o site do governo do Pará em http://www.pa.gov.br/destaques_gov.asp?id_not=27. Então quem ficará com a energia gerada por Belo Monte? Duas indústrias de alumina que se intalariam no Pará. Outra dica importante é esmiuçar quais foram as empresas que se interessaram em formar consórcios para a construção da usina: Vale, Neoenergia, Votorantim Alumínio e Andrade Gutiierrez. Todas ligadas a indústrias eletrointensivas.
E sobre o argumento de Belo Monte ser uma defesa contra as termelétricas e nucleares, só um lembrete. Minas Gerais, que não é um estado litorâneo, tem potencial eólico 3,5 maior do que Belo Monte. Uma fazenda eólica que começou a ser construída em Norfolk, Inglaterra, gerará 1,1 TERAwatts, com um investimento de US$ 1,5 bilhão. Comparando este empreendimento com uma usina que vai produzir, em média, 4 GIGAwatts (1 Tera = 1000 Gigas), a um custo que pode chegar a US$ 10 bilhões, o desenho do belo monstro começa a tomar forma.
Mas existe um outro custo não contabilizado, muito maior do que esse. Belo Monte é mais um capítulo de um sistema que quer se manter vivo a qualquer preço. Que vende uma idéia de progresso e desenvolvimento sem limites. Que passa por cima de tudo e de todos que se colocarem no seu caminho. Que se coloca como se fosse dono e explorador da natureza.
Esses conceitos de desenvolvimento a qualquer preço, de um progresso ilimitado e infinito e do homem se colocando à parte da natureza, para poder explorá-la, são conceitos da civilização branca, européia, ocidental, cristã, masculina, largamente hegemônica no planeta. E que, é bom que se diga, nos trouxe até à beira da barbárie sócio ambiental que as mudanças climáticas já estão provocando.
Lá no Xingú, quem está no caminjho dessa civilização que coisifica seres humanos e coisas, a tudo atribuindo um preço, de acordo com o valor de mercado, são comunidades indígenas e ribeirinhas, que se colocam como parte da natureza, e que dela dependem para sua sobrevivência pessoal e de suas culturas.
O cacique e a índia Kayapós, com seus botoques e seus peitos de fora, quando capturados pelas câmeras nas reuniões com tecnocratas ou aspones engravatados, mostram diferenças muito além das roupas que usam ou não. O nosso olhar ideologicamente domesticado, mesmo prenhe de boas intenções, acaba, a partir de símbolos exteriores, prejulgando esse choque civilizatório.
E aí, para a maioria de nós, o civilizado é a gravata e não a pena de ave, mesmo que a gravata represente a inviabilidade de uma civilização que parece determinada a se extinguir, levando com ela boa parte da biodiversidade. O índio pelado com pena na cabeça é apenas o “bom selvagem”, que deve ser preservado em reservas-gaiolas cada vez menores, como um pet, como gostam de falar os incluídos.
Mesmo que o seu modo de viver, ou de bem viver, representado pela pena ou o botoque, esteja, como o dedo em riste de Raoni, a poucos centímetros nossas caras, mostrando que existe alternativa ao caos climático e à tragédia socio ambiental anunciadas.
O Racismo é uma ferramenta cara ao capitalismo, que sempre explorou as diferenças para estabelecer um poder sobre classes, raças, povos e etnias. Poder esse necessário para explorá-las e, em caso de necessidade, exterminá-las.
Em relação ao meio ambiente, o Racismo Ambiental é uma maneira de afirmar a superioridade de um modelo civilizatório, mesmo que Roma já esteja em chamas. E de negar outro que valoriza as coisas, as espécies e as pessoas pelo o que elas são, estabelecendo um outra relação, mais harmoniosa, com a natureza.
Paulo Piramba – 11 de Fevereiro de 2011

Fonte: http://ecossocialismooubarbarie.blogspot.com/search/label/Belo%20Monte
PAULO PIRAMBA: PRESENTE! Até quando? SEMPRE!

sábado, 27 de agosto de 2011

Em defesa da DEMOCRACIA e da QUALIDADE na representação


Um dos preceitos básicos da Democracia é a participação do povo nas decisões do Estado, Democracia implica em Direito à participação.   Infelizmente, vivemos em um modelo onde a participação direta não é estimulada, e é muitas vezes até mesmo atacada e impedida. Um modelo, que limita a palavra e o conceito de Democracia à representatividade, talvez sirva como descrição deste modelo o trocadilho: “representação de Democracia” em lugar de Democracia representativa.
Temos um processo eleitoral que serve única e exclusivamente para eleger representantes que se comportam muitas vezes, como se pertencessem a categoria dos deuses da antiguidade clássica: intocáveis, acima dos meros mortais (cidadãos), e decidindo o destino destes em suas confabulações e negociatas.
Desta forma é compreensível que o cidadão comum, pautado na emoção e não na reflexão crítica do processo, adira à movimentos como o que busca impedir o aumento do número de vereadores nas câmaras municipais dos diversos municípios do país. Mas, se fizermos uma análise mais profunda do tema, perceberemos que o movimento confundido pela fumaça das emoções segue por um caminho errado e até mesmo perigoso.
Pensemos bem: Ao possibilitarmos a não ampliação da representação estamos correndo esse risco.
O risco de um retrocesso!
Fonte: http://gaia.org.pt/node/15777
Se nossa defesa é a ampliação da Democracia, deve-se defender a ampliação da participação nesta mesma Democracia, de forma a podermos efetivá-la. Ampliação de participação esta, não só com o aumento do número de vereadores (pois desta maneira ficaríamos restritos a mera legalidade formal do Estado), devemos defender a criação de conselhos populares que tenham poderes deliberativos e não meramente consultivos. Que tais conselhos sejam independentes dos poderes políticos formais, e sejam eles os responsáveis por definirem questões como salários e privilégios dos vereadores, prefeito e secretários.
                                            Fonte:http://jussiercarneiro.blogspot.com/
Desta forma estaríamos à caminho da construção de uma Democracia verdadeira e participativa, não é questionando o aumento da representatividade que seguimos pelo caminho certo. Devemos aumentá-la ao máximo, de forma que a partir deste aumento, também se possibilite o aumento da participação popular no poder, efetivando assim uma verdadeira Democracia.
O que deve ser questionado são os privilégios destes “deuses”, devemos transformá-los em humanos, fazer com que percam seu status de divindade! E não é possibilitando a consolidação de uma casta de políticos, impedindo que outros setores da população participem do Estado que faremos isto.
O Leviatã (Estado) precisa ser controlado, mas o seu controle não deve vir de uma casta seleta ou estaríamos retrocedendo as Oligarquias ou até mesmo as Aristocracias, sob outra paginação, esse controle deve ter sua origem na participação real do povo, ampliando o processo de Democracia para além da representação.
Devemos questionar os gastos excessivos, diárias desnecessárias, e outros privilégios, é mais do que possível (com o controle popular) aumentar o número de vereadores e diminuir o orçamento das câmaras municipais. Mas, mais do que isso a criação de tais conselhos populares com sua efetivação concreta, serviria como ferramenta extremamente importante para a construção de uma real Democracia.
Para tanto, proponho ao movimento: questionemos os privilégios dos “deuses”, e a partir deste questionamento e da ampliação drástica da participação da população deste espaço, retiremos seu status de divindade. Comecemos um movimento por uma re-estruturação do Estado, de forma a possibilitar a criação de conselhos populares com poder deliberativo, independentes da máquina estatal e com a função de legislar sobre e fiscalizar os salários e os privilégios dos representantes eleitos. A partir disso, quem sabe, estaremos começando um processo que possibilite a consolidação de uma verdadeira Democracia Participativa em nosso país, e não mais apenas uma “Representação de Democracia!”
E então caro leitor? Vai aceitar o convite a uma análise mais profunda?
Ou vai fazer como o garoto da charge acima?
Fonte: http://www.fotolog.com.br/michelycoutinho/53638154
O texto acima, foi uma breve reflexão. Ainda será publicado um texto mais elaborado sobre o tema!




sábado, 20 de agosto de 2011

1ª Conferencia Municipal da Juventude de Marechal Cândido Rondon (Relato)


Aconteceu nesta quinta-feira (19/08/11) a conferência municipal da Juventude em Marechal Cândido Rondon, esta conferência serviu como etapa preparatória para as conferências estadual e nacional, sendo que a estadual irá ocorrer nos dias 14, 15 e 16 de Outubro e a etapa nacional nos dias 09, 10, 11 e 12 de dezembro, a primeira em Maringá e a segunda em Brasília.
Na etapa municipal de Marechal Cândido Rondon, estiveram presentes diversos Grêmios Estudantis, grupos de jovens ligados as comunidades religiosas e outras entidades da juventude no município, assim como as os Centros Acadêmicos de Direito, Geografia, História com representantes próprios e o Diretório Central dos Acadêmicos (DCE) representando também os outros Centros Acadêmicos da UNIOESTE – Campus de Marechal Cândido Rondon, que não puderam encaminhar alguém.
A Conferência tinha como objetivo a discussão de políticas públicas para a juventude, além de possibilitar aos jovens a apresentação de propostas para estas mesmas políticas, tanto a nível municipal como estadual e nacional, pois das conferencias municipais estão saindo delegados para a etapa estadual, onde os mesmos deverão estar apresentando as propostas debatidas nos municípios e ao mesmo tempo traçando novas propostas a nível estadual.
Desta forma, várias propostas foram apresentadas pela juventude do município, e aqui citarei apenas algumas, as que me lembro de cabeça neste momento.
v     Que a câmara de vereadores ou o executivo criem alguma maneira de fazer a fiscalização do valor dos aluguéis no entorno da UNIOESTE, ou então alguma forma de auxílio para aqueles estudantes que não tenham condições de pagar os preços exorbitantes e artificiais quem vem sendo cobrados dos acadêmicos nesta região da cidade. Pois esta é uma das condições de permanência do Jovem na universidade: ter onde morar!
v     Organização de um fórum estudantil municipal permanente que unifique as entidades estudantis do ensino superior e secundaristas, no intuito de fortalecer estas entidades e a própria luta do movimento estudantil no município. Esta não é exatamente uma proposta para o poder público, uma vez que não cabe o poder público organizar os estudantes, pois os mesmos devem se organizar por conta própria, mantendo assim a independência das entidades. Assim, de forma a possibilitar isto, partiu do Centro Acadêmico de Direito, com o apoio do DCE e dos demais Centros Acadêmicos presentes na conferência o convite aos Grêmios estudantis de organizar e estruturar este fórum, de forma independente. Resta agora oficializar o convite e esperar que os Grêmios aceitem o mesmo.
v     Estruturação do transporte público no município com vias a instituição do passe livre para estudantes. Vivemos em Marechal Cândido Rondon uma situação séria com relação ao transporte público: sua quase inexistência. Dependendo do monopólio e da boa vontade de uma única empresa a população se torna refém da mesma, também o transporte de estudantes não parece estar muito bem organizado. Há colégios, por exemplo, que inflam suas salas em um único período, por que em outro período não há transporte para os estudantes. Desta forma, a conferência propôs ao poder publico a organização deste ponto, com uma maior freqüência do transporte para estudantes, e mais qualidade, possibilidade de acesso (e ao falar de possibilidade de acesso falamos de acessibilidade) e qualidade no transporte público urbano em nosso município.
v     Viabilização de uma casa do estudante. Com a mesma preocupação da proposta sobre os alugueis (manter os jovens na Universidade e possibilitar o acesso ao ensino superior), a conferência aprovou a proposta de que o município estude a possibilidade da construção, em conjunto com o estado, de uma casa do estudante em Marechal Cândido Rondon
v     Readequação e reorganização da cidade de forma a incentivar o uso das bicicletas, com a construção de mais ciclovias e melhoria das já existentes, enfim uma cidade que não seja pensada para os carros, e sim para as pessoas. Marechal Cândido Rondon, já foi conhecida como a cidade das bicicletas, hoje temos diversos problemas no trânsito da cidade, problemas que poderiam ser amenizados ou até resolvidos com o incentivo ao uso de bicicletas pela população. Além do fato de ser uma prática saudável e ambientalmente correta, mas para que isso aconteça é necessário que a população possa transitar pela cidade em locais adequados e seguros.
v     A conferência também aprovou uma proposta relacionada à exploração do trabalho da juventude. A proposta é de que a câmara legisle sobre o Fundo Municipal de Desenvolvimento, criando uma lei que proíba as empresas que tenham passivos ambientais, trabalhistas ou sociais de receberem ajuda do fundo. Isso no intuito de construir um município que em suas relações de produção e trabalho se preocupe com o respeito à dignidade da pessoa humana e com o meio ambiente.
Surgiram ainda diversas outras propostas que não estão aqui relatadas, além da apresentação e aprovação das propostas de atuação do poder público com relação a políticas públicas foram eleitos os delegados que estarão representando Marechal Cândido Rondon na conferência estadual. Nosso município elegeu seis delegados para a conferência estadual, sendo dois do poder público e quatro da sociedade civil organizada, um dos delegados eleitos é este que escreve este texto.
Resta agora que este processo iniciado com a conferência não pare, e que a sociedade cobre o que foi aprovado na mesma, e que os delegados cumpram bem o seu papel na estadual (me comprometo aqui a fazê-lo), mas lembremos que a conferência não tem poder deliberativo, no máximo propositivo, resta então ao poder público apoiar e concretizar as propostas aprovadas nas mesmas, tanto na municipal como nas estadual e nacional que ainda irão acontecer.
Também, a juventude, deve começar a se organizar por si só, inclusive de forma a criar mecanismos, que possam servir para possibilitar a cobrança da concretização do que foi aprovado na conferência. Assim, repito aqui, o convite que o Centro Acadêmico de Direito junto com os outros CA’s e o DCE presentes na conferência fizeram aos Grêmios estudantis de nossa cidade: Vamos nos unificar e nos organizar! Vamos construir o Fórum Estudantil Permanente de Marechal Cândido Rondon.
Esse foi um pequeno relato da Conferência Municipal da Juventude, com o tempo estarei postando mais informações sobre este processo.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O jornalismo sexista (Jean Wyllys)

Segue abaixo um artigo publicado pelo Deputado Federal do PSOL (RJ) Jean Wyllys. O artigo trata do assassinato da Juíza Patrícia Acioli, recentemente ocorrido no Rio de Janeiro. Um artigo que realmente nos trás algo algo a refletir. Boa leitura!


18 de agosto de 2011 às 10:09h
A cobertura jornalística do assassinato da juíza Patrícia Acioli, em Niterói (RJ), deixa claro que as mulheres ainda têm, no espaço público, a vida avaliada a partir de suas vidas privadas. Na maioria
das matérias (boa parte delas mera reprodução sem críticas nem acréscimos de uma matéria matriz, feita por um jornalão e por um telejornalão), os jornalistas analisam detalhes íntimos das supostas
violências que Patrícia sofrera de seu namorado e praticamente a chamam de “mulher de malandro”, para usar uma expressão vulgar. Isso porque, segundo as matérias, a juíza teria retirado a queixa contra o namorado para, logo em seguida, retomar o relacionamento com o mesmo.
O que sua morte teria a ver com os meandros do seu namoro, que é uma questão pessoal? Absolutamente nada até que venha a se provar que a juíza foi vítima de um crime passional e não de uma execução sumária e cruel por conta de sua atuação contra milícias e grupos de extermínio integrados por policiais civis e/ou militares corruptos, como apontam os indícios.
Evidentemente, o desenrolar da investigação policial pode vir a apontar alguma relação entre os dois motivos. Mas as notícias dominicais não cuidaram disso. Sem sequer justificar a exposição da
intimidade de Patrícia num suposto motivo passional para o crime chocante, as notícias simplesmente expuseram eventos da vida afetiva da juíza como que para transformá-la de vítima em culpada pelo próprio fim trágico.
Tratamento semelhante foi dado a Eliza Samudio, a moça que teve um filho com o ex-goleiro Bruno e cujo desaparecimento é atribuído a um crime bárbaro que teria, como mentor intelectual, o próprio Bruno. E também à estudante Geisy Arruda, que foi hostilizada por colegas da faculdade que freqüentava quando foi à aula com um vestido considerado pelos marmanjos curto demais. Em ambos episódios, as mulheres forma convertidas em culpadas pela violência de que foram vítimas por discursos misóginos mal disfarçados.
Desvalorizar as mulheres a partir de sua conduta na esfera privada e/ou a partir dos usos que fazem de seus corpos para que não ocupem os espaços de poder continua sendo uma das características da exclusão em uma sociedade que não superou o patriarcalismo histórico. Esse patriarcalismo também vigora na cobertura jornalística e é, por ela e nela, reproduzido. Nas palavras da antropóloga Debora Diniz, “a violência não é constitutiva da natureza masculina, mas sim um dispositivo cultural de uma sociedade patriarcal que reduz os corpos das mulheres a objetos de prazer e consumo dos homens”.
Outro exemplo – este aparentemente banal – do patriarcalismo que vigora na cobertura jornalística é a recusa, por parte da maioria dos jornalistas e comentaristas, em usar o termo “presidenta” para se
referir a Dilma Rousseff sob o argumento que, apesar de correta, a opção pela forma feminina é “desnecessária e incomum”, ignorando, assim, o sexismo e machismo materializados e reproduzidos na prática linguística.
Determinados temas da agenda doméstica de uma vítima podem e devem se tornar públicos, sobretudo quando a violência em questão não é de interesse de apenas uma mulher, mas corresponde a estruturas de poder que hierarquiza as identidades de gênero numa sociedade. É o caso da violência doméstica, que não pode mais ser tratada como “assunto de marido e mulher, no qual não se deve meter a colher”, para recorrer a outra expressão vulgar.
A cobertura jornalística precisa assumir sua parcela de culpa nesse machismo generalizado e complacente com as violências domésticas e públicas contra as mulheres. Uma coisa é tratar de forma pública problemas generalizados. Outra é expor a vida individual quando se parece estar diante de um fato que diz respeito à segurança pública e ao problema da violência urbana.
A dominação masculina vem se transformando ao longo dos tempos. A figura da mulher já não pertence mais inteiramente àquele lugar de subalternidade de 1949, quando a escritora feminista Simone de Beauvoir proferiu sua célebre frase “On ne naît pas femme, on le devient”. Porém, quando parte da imprensa se prontifica a devassar a vida íntima de uma juíza atuante e corajosa assassinada numa emboscada, vê-se que as mulheres se tornam mulheres num lugar ainda subalterno e que há muito que se avançar no enfrentamento do machismo e do sexismo.

Jean Wyllys
Jornalista e linguista, é deputado federal pelo PSOL-RJ e integrante
da frente parlamentar em defesa dos direitos LGBT.

Frei Betto: O terrorista louro de olhos azuis


A mídia americana incutiu no Ocidente o sofisma de que todo muçulmano é um terrorista em potencial. O que induziu o papa Bento XVI a cometer a gafe de declarar, na Alemanha, que o Islã é originariamente violento e, em sua primeira visita aos EUA, comparecer a uma sinagoga sem o cuidado de repetir o gesto numa mesquita.

Em qualquer aeroporto de países desenvolvidos um passageiro em trajes islâmicos ou cujos traços fisionômicos lembrem um saudita, com certeza será parado e meticulosamente revistado. Ali reside o perigo... alerta o preconceito infundido.

Ora, o terrorismo não foi inventado pelos fundamentalistas islâmicos. Dele foram vítimas os árabes atacados pelas Cruzadas e os 70 milhões de indígenas mortos na América Latina, no decorrer do século 16, em decorrência da colonização ibérica.

O maior atentado terrorista da história não foi a queda, em Nova York, das torres gêmeas, há 10 anos, e que causou a morte de 3 mil pessoas. Foi o praticado pelo governo dos EUA: as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945. Morreram 242.437 mil civis, sem contar as mortes posteriores por efeito da contaminação.

Súbito, a pacata Noruega – tão pacata que, anualmente, concede o Prêmio Nobel da Paz – vê-se palco de dois atentados terroristas que deixam dezenas de mortos e muitos feridos. A imagem bucólica do país escandinavo é apenas aparente. Tropas norueguesas também intervêm no Afeganistão e deram apoio aos EUA na guerra do Iraque.

Tão logo a notícia correu mundo, a suspeita recaiu sobre os islâmicos. O duplo atentado, no gabinete do primeiro-ministro e na ilha de Utoeya, teria sido um revide ao assassinato de Bin Laden e às caricaturas de Maomé publicadas pela imprensa escandinava. O preconceito estava entranhado na lógica ocidental.

A verdade, ao vir à tona, constrangeu os preconceituosos. O autor do hediondo crime foi o jovem norueguês Anders Behring Breivik, 32 anos, branco, louro, de olhos azuis, adepto da fisicultura e dono de uma fazenda de produtos orgânicos. O tipo do sujeito que jamais levantaria suspeitas na alfândega dos EUA. Ele "é dos nossos”, diriam os policiais condicionados a suspeitar de quem não tem a pele suficientemente clara nem olhos azuis ou verdes.

Democracia é diversidade de opiniões. Mas o que o Ocidente sabe do conceito de terrorismo na cabeça de um vietnamita, iraquiano ou afegão? O que pensa um líbio sujeito a ser atingido por um míssil atirado pela OTAN sobre a população civil de seu país, como denunciou o núncio apostólico em Trípoli?

Anders é um típico escandinavo. Tem a aparência de príncipe. E alma de viking. É o que a mídia e a educação deveriam se perguntar: o que estamos incutindo na cabeça das pessoas? Ambições ou valores? Preconceitos ou princípios? Egocentrismo ou ética?

O ser humano é a alma que carrega. Amy Winehouse tinha apenas 27 anos, sucesso mundial como compositora e intérprete, e uma fortuna incalculável. Nada disso a fez uma mulher feliz. O que não encontrou em si ela buscou nas drogas e no álcool. Morreu prematuramente, solitária, em casa.

O que esperar de uma sociedade em que, entre cada 10 filmes, 8 exaltam a violência; o pai abraça o filho em público e os dois são agredidos como homossexuais; o motorista de um Porsche se choca a 150km por hora com uma jovem advogada que perece no acidente e ele continua solto; o político fica indignado com o bandido que assaltou a filha dele e, no entanto, mete a mão no dinheiro público e ainda estranha ao ser demitido?

Enquanto a diferença gerar divergência permaneceremos na pré-história do projeto civilizatório verdadeiramente humano.

Publicado originalmente in:
Fonte: Adital
--
Notícias, Informações e Debates sobre o Desenvolvimento do Brasil:
www.desenvolvimentistas.com.br

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Escorpião no meio do céu: O Revirão da Via Láctea (Por Janine Milward)

Maravilhoso texto escrito por minha colega Janine, no mesmo ela descreve o caminho de Escorpião no céu. O texto é pontilhado de informações cientifícas matizado com a beleza da arte e das lendas, como só minha amiga Janine consegue fazer. Uma maravilhosa e encantadora leitura a todos!

Escorpião no meio do céu:
O Revirão da Via Láctea
 
Janine Milward
 
Outro dia, um amigo meu também amante das estrelas, estava aqui no Sítio e queria descobrir alguma coisa interessante que ele ainda não sabia. Eu pensei, pensei e disse: -"Por que você não aproveita esse tempo bom e seco das noites de inverno e passa a noite observando o andamento do Escorpião"?
 
Meu amigo não passou a noite inteira no deck em frente ao lago observando as estrelas, mas no outro dia me afirmou que acordara de três a quatro vezes e se levantara para olhar a quantas o Escorpião tinha caminhado.... E ficara surpreso ao ver que todo o céu – a Via Láctea – tinha se virado, tinha dado uma meia-volta, tinha realizado parte do seu revirão!
 
Então, esse é o meu conselho para você, Caminhante das Estrelas: agora em Agosto, bem como em Setembro, observe o andamento do Escorpião em sua trajetória noturna tão gratificante e nada amedrontadora!
 
Observe bem a cauda do Escorpião, a zona limítrofe entre essa constelação e a constelação de Sagitário: primeiramente você verá uns poucos chumaços de estrelas – são os chamados Objetos M6 e M7 (M de Charles Messier, o astrônomo que realizou a famosa Lista Messier onde relacionou mais de 100 chumaços de estrelas, aglomerados, etc.... para diferenciá-los dos possíveis cometas a serem observados).  Dizem que, antigamente, o teste de visão era realizado através a possibilidade do sujeito poder ver ou não esses aglomerados abertos, maravilhosos pontos esfumaçados, aos pés do Escorpião!
 
Nesta região do céu, naquela direção e além daquela poeira de estrelas, encontra-se o chamado Centro de nossa Galáxia, a Via Láctea. E como tudo no universo realiza um movimento de rotação em torno de si mesmo e em torno de algum outro objeto magnetizador, também nossa Via-Láctea realiza esse movimento.
 
Se você tiver a oportunidade de estar num lugar onde o céu seja escuro e transparente, poderá observar a imensa pavimentação de algodão de estrelas - a Via-Láctea - aparentemente centralizando-se no Escorpião e cobrindo o céu estrelado em direção ao norte, passando por Sagitário, pela Águia até alcançar o Cisne..., e em direção ao sul encontrando-se com nosso Cruzeiro do Sul, com o Navio, com o Cão Maior seguido do Gigante Órion e aparentemente concluindo-se no Cocheiro....  Deste ponto bem ao sul e se você estiver em Latitude bem mais ao norte do Planeta, poderá ainda comungar com a pavimentação de algodão de estrelas fazendo parte do Mito de Andromeda, a donzela acorrentada, enredilhando Perseus, seu herói salvador,  Cassiopéia, sua malvada madrasta, e seu pai, o Rei Cepheus - todas constelações bem ao norte - e, finalmente a Via Lactea realiza seu  encontro com o Cisne.
 
Obviamente que aquilo que vemos e acompanhamos como o Revirão da Via Láctea durante a passagem noturno do Escorpião aliado ao Sagitário é um movimento aparente – pois que, na realidade, esse aparente movimento se dá em função do movimento de rotação da nossa Terra, nosso tão querido Planeta.
 
Vale a pena acompanhar o caminhar do Escorpião no Céu trazendo em sua cauda o Revirão da Via Láctea.   
SCORPIO, O ESCORPIÃO
Ascensão Reta 15h44m/17h55m   -  Declinação - 8o ,1/ -45o ,6
 
Esta constelação representa o escorpião morto por Orion, o Gigante.
 
Segundo alguns autores, sua origem deve associar-se às secas e ás pragas que assolavam o Egito quando o Sol se encontrava naquela região do céu.
Desde a mais remota antiguidade, esta constelação foi representada pelos gregos, latinos, árabes e persas pela figura de um escorpião.
O equinócio de outono, há 3000 aC, localizava-se aí, quando este asterismo foi instituído.  Na Pérsia, Antares, a estrela mais brilhante do Escorpião, era uma das quatro "Estrelas Reais", uma das guardiãs do céu e, naquela época, indicava o outono.
Os poetas gregos nos ensinavam que Scorpius foi o animal enviado por Diana para matar Orion, que intervinha nas atividades da caçadora, mas ele nunca conseguia atingir a sua meta: realmente, as estrelas de Orion desaparecem no ocidente justamente quando o Escorpião nasce no oriente.
 
Algumas Estrelas, em Escorpião:
 
Isidis.  Delta Scorpii. 
Situada próxima da garra direita do Escorpião.
 
Graffias.  Beta Scorpii.
Uma estrela tripla, branco pálido e lilás, situada na cabeça do Escorpião. Esta estrela é também conhecida por Acrab, nome árabe que deu origem à constelação do Escorpião.
 
 
Antares.  Alpha Scorpii. 
Ascensão Reta 16h28,2m   - Declinação -26o 23'
Magnitude 1,22 - Distância 520 anos-luz
Uma estrela binária, intensamente avermelhada e verde-esmeralda, situada no corpo do Escorpião.  De Anti-Ares, similar ou Rival de Ares, Marte. Foi uma das quatro estrelas reais da Pérsia, cerca de 3.000 anos a.c., e atuava como a Guardiã do Oeste pois marcava o Equinócio de Outono. Muitas vezes chamada de Coração do Escorpião, Cor Scorpio.
 
 
Lesath. Upsilon Scorpii. 
Uma pequena estrela situada na cauda venenosa do Escorpião, o Ferrão.  De Al Las'ah, o Ferrão.
 
Shaula - Lambda Scorpii
Ascensão Reta 17h32,3m - Declinação -37o 05'
Magnitude 1,71 - Distância 310 anos-luz
A Cauda do Escorpião
 
Wei - Epsilon Scorpii
A Cauda, nome de origem chinesa para designar a cauda do Escorpião.
 
Schaula - Lambda Scorpii
A Cauda, nome árabe que designa o grupo de estrelas formado por lambda e Nu Scorpii.
 
Aculeus.  6M Scorpii.  24 Sagitário 39.
É uma Nebulosa situada na cauda do Escorpião.  É uma aglomerado, juntamente com Acumen.
 
Al Nyiat - Tau Scorpii
A Aorta, denominação árabe que designa o coração do Escorpião - usada também para Alpha e Sigma Scorpii.
 
Sargas - Teta Scorpii
Cavalo Teimoso, nome de origem persa.
 

VIA LACTEA
 
A Via Láctea foi causada por um derramamento do leite que Mercúrio era nutrido. 
De acordo com outros mitos, Saturno, querendo devorar seus filhos, recebeu uma pedra de sua mulher e teria engasgado, caso ela não tivesse derramado leite através sua garganta... e parte desse leite derramou, formando a Via Láctea.
 
Com um abraço estrelado,
Janine Milward