sábado, 26 de julho de 2014

A Era da Boataria Virtual “A Refinada Arte de Detectar Mentiras” Parte II

É melhor acender uma vela,
 do que praguejar contra a escuridão!
 (Adágio popular)


Conforme o prometido, vamos a segunda parte do texto. Sei que demorei um pouco para publicar a mesma, mas acredito que ela vem em bom momento devido ao processo eleitoral que hora vivenciamos. Afinal, se, infelizmente, é comum ouvir-mos “meias verdades” e falácias no nosso dia a dia, inclusive reproduzidas por meios que supostamente deveriam informar e não ludibriar e manipular, como os meios de comunicação por exemplo, durante o processo eleitoral o encontro do cidadão com esta prática se exponencia.
Nesta segunda parte do texto, pretendo apresentar a continuidade do método de detectar mentiras elaborado por Carl Sagan, se na primeira parte o metodo se concentra no argumento em si, ou seja, em perceber se o argumentado é fato ou falácia/factóide, nesta segunda parte o método se concentra no argumentador. Que técnicas utilizar para perceber se o argumentador esta apenas nos enrolando, tentando nos ludibriar ou se ele realmente tem a intenção de passar algo verdadeiro? Como perceber em um debate, quem tem propriedade para falar sobre o assunto e quem apenas infla o peito e desanda a repetir frases feitas, ou reproduzir ideias pré-concebidas?
Da mesma maneira, esta segunda parte trabalha o método que deve ser utilizado por qualquer um que não queira reproduzir falácias, se a primeira parte do método se centra NO QUE FAZER para detectar falácias, esta segunda parte se centra NO QUE NÃO FAZER para não correr o risco de reproduzi-las sem perceber.
Então, a segunda parte é ao mesmo tempo um método de analise do outro (como o outro esta apresentando a sua argumentação? Ela se entrelaça com os fatos? A natureza dos fatos corrobora com a lógica do argumento?) e um método de auto-analise (como eu devo proceder para não ser enganado [primeira parte do método] e ao mesmo tempo não ser reprodutor inconsciente de falácias [segunda parte do método]?
Quanto ao reprodutor consciente de falácias, ele pode ser desmascarado pelo ouvinte através deste método, tanto quanto a sua falácia!
Enfim, é necessário lembrar que junto com a analise do argumento devemos também analisar o argumentador, e tenho certeza de que se você utilizar este método no seu dia a dia, será menos manipulado e ludibriado, tanto nos negócios, como na politíca (como falei antes vivemos o processo eleitoral) e também no cotidiano diário.
Vamos as dicas do método:

1. quando atacamos o argumentador e não o argumento (por exemplo: A reverenda dra. Smith é uma conhecida fundamentalista bíblica, por isso não precisamos levar a sério suas objeções à evolução);
2. argumento de autoridade (por exemplo: O presidente Richard Nixon deve ser reeleito porque ele tem um plano secreto para pôr fim à guerra no Sudeste da Ásia — mas, como era secreto, o eleitorado não tinha meios de avaliar os méritos do plano; o argumento se reduzia a confiar em Nixon porque ele era o presidente: um erro, como se veio a saber);
3. argumento das consequências adversas (por exemplo: Deve existir um Deus que confere castigo e recompensa, porque, se não existisse, a sociedade seria muito mais desordenada e perigosa talvez até ingovernável. Ou: O réu de um caso de homicídio amplamente divulgado pelos meios de comunicação deve ser julgado culpado; do contrário, será um estímulo para os outros homens matarem as suas mulheres);
4. apelo à ignorância — a afirmação de que qualquer coisa que não provou ser falsa deve ser verdade, e vice-versa (por exemplo: Não há evidência convincente de que os UFOs não estejam visitando a Terra; portanto, os UFOs existem — e há vida inteligente em outros lugares no Universo. Ou: Talvez haja setenta quasilhões de outros mundos, mas não se conhece nenhum que tenha o progresso moral da Terra, por isso ainda somos o centro do Universo). Essa impaciência com a ambiguidade pode ser criticada pela expressão: a ausência de evidência não é evidência da ausência;
5. alegação especial, frequentemente para salvar uma proposição em profunda dificuldade teórica (por exemplo: Como um Deus misericordioso pode condenar as gerações futuras a um tormento interminável, só porque, contra as suas ordens, uma mulher induziu um homem a comer uma maçã? Alegação especial: Você não compreende a doutrina sutil do livre-arbítrio. Ou: Como pode haver um Pai, um Filho e um Espírito Santo igualmente divinos na mesma Pessoa? Alegação especial: Você não compreende o mistério da Santíssima Trindade. Ou: Como Deus permitiu que os seguidores do judaísmo, cristianismo e islamismo — cada um comprometido a seu modo com medidas heróicas de bondade e compaixão — tenham perpetrado tanta crueldade durante tanto tempo? Alegação especial: Mais uma vez você não compreende o livre-arbítrio. E, de qualquer modo, os movimentos de Deus são misteriosos);
6. petição de princípio, também chamada de supor a resposta (por exemplo: Devemos instituir a pena de morte para desencorajar o crime violento. Mas a taxa de crimes violentos realmente cai quando é imposta a pena de morte? Ou: A bolsa de valores caiu ontem por causa de um ajuste técnico e da realização de lucros por parte dos investidores. Mas há alguma evidência independente do papel causal do “ajuste” e da realização de lucros? Aprendemos realmente alguma coisa com essa pretensa explicação?);
7. seleção das observações, também chamada de enumeração das circunstâncias favoráveis, ou, segundo a descrição do filósofo Francis Bacon, contar os acertos e esquecer os fracassos (por exemplo: Um Estado se vangloria do presidente que gerou, mas se cala sobre os seus assassinos que matam em série);
8. estatística dos números pequenos — falácia aparentada com a seleção das observações (por exemplo: ” Dizem que uma dentre cada cinco pessoas é chinesa. Como é possível? Conheço centenas de pessoas, e nenhuma delas é chinesa. Atenciosamente “. Ou: Tirei três setes seguidos. Hoje à noite não tenho como perder);
9. compreensão errônea da natureza da estatística (por exemplo: O presidente Dwight Eisenhower expressando espanto e apreensão ao descobrir que metade de todos os norte-americanos tem inteligência abaixo da média);
10. incoerência (por exemplo: Prepare-se prudentemente para enfrentar o pior na luta com um potencial adversário militar, mas ignore parcimoniosamente projeções científicas sobre perigos ambientais, porque elas não são “comprovadas”. Ou: Atribua a diminuição da expectativa de vida na antiga União Soviética aos fracassos do comunismo há muitos anos, mas nunca atribua a alta taxa de mortalidade infantil nos Estados Unidos (no momento, a taxa mais alta das principais nações industriais) aos fracassos do capitalismo. Ou: Considere razoável que o Universo continue a existir para sempre no futuro, mas julgue absurda a possibilidade de que ele tenha duração infinita no passado);
11. non sequitur — expressão latina que significa “não se segue” (por exemplo: A nossa nação prevalecerá, porque Deus é grande. Mas quase todas as nações querem que isso seja verdade; a formulação alemã era “Gott mit uns”). Com frequência, os que caem na falácia non sequitur deixaram simplesmente de reconhecer as possibilidades alternativas;
12. post hoc, ergo propter hoc — expressão latina que significa “aconteceu após um fato, logo foi por ele causado” (por exemplo, Jaime Cardinal Sin, arcebispo de Manila: ” Conheço [...] uma moça de 26 anos que aparenta sessenta porque ela toma a pílula [anticoncepcional] “. Ou: Antes de as mulheres terem o direito de votar, não havia armas nucleares);
13. pergunta sem sentido (por exemplo: O que acontece quando uma força irresistível encontra um objeto imóvel? Mas se existe uma força irresistível, não pode haver objetos imóveis, e vice-versa);
14. exclusão do meio-termo, ou dicotomia falsa — considerando apenas os dois extremos num continuum de possibilidades intermediárias (por exemplo: Claro, tome o partido dele; meu marido é perfeito; eu estou sempre errada. Ou: Ame o seu país ou odeie-o. Ou: Se você não é parte da solução, é parte do problema);
15. curto prazo versus longo prazo — um subconjunto da exclusão do meio-termo, mas tão importante que o separei para lhe dar atenção especial (por exemplo: Não temos dinheiro para financiar programas que alimentem crianças mal nutridas e eduquem garotos em idade pré-escolar. Precisamos urgentemente tratar do crime nas ruas. Ou: Por que explorar o espaço ou fazer pesquisa de ciência básica, quando temos tantas pessoas sem teto?);
16. declive escorregadio, relacionado à exclusão do meio-termo (por exemplo: Se permitirmos o aborto nas primeiras semanas da gravidez, será impossível evitar o assassinato de um bebê no final da gravidez. Ou, inversamente: Se o Estado proíbe o aborto até no nono mês, logo estará nos dizendo o que fazer com os nossos corpos no momento da concepção);
17. confusão de correlação e causa (por exemplo: Um levantamento mostra que é maior o número de homossexuais entre os que têm curso superior do que entre os que não o possuem; portanto, a educação torna as pessoas homossexuais. (por íncrível que pareça este é um argumento usado por setores fundamentalistas dos EUA para tentar impedir que as pessoas entrem em contato com o pensamento científico na universiade e ao mesmo tempo reproduz o preconceito contra os homossexuais) Ou: Os terremotos andinos estão correlacionados com as maiores aproximações do planeta Urano; portanto — apesar da ausência de uma correlação desse tipo com respeito ao planeta Júpiter, mais próximo e mais volumoso — o planeta Urano é a causa dos terremotos);
18. espantalho — caricaturar uma posição para tornar mais fácil o ataque (por exemplo: Os cientistas supõem que os seres vivos simplesmente se reuniram por acaso — uma formulação que ignora propositadamente a ideia darwiniana central, de que a natureza se constrói guardando o que funciona e jogando fora o que não funciona. Ou isso é também uma falácia de curto prazo/longo prazo — os ambientalistas se importam mais com anhingas e corujas pintadas do que com gente);
19. evidência suprimida, ou meia verdade (por exemplo: Uma “profecia” espantosamente exata e muito citada do atentado contra o presidente Reagan é apresentada na televisão; mas — detalhe importante — foi gravada antes ou depois do evento? Ou: Esses abusos do governo pedem uma revolução, mesmo que não se possa fazer uma omelete sem quebrar alguns ovos. Sim, mas será uma revolução que causará muito mais mortes do que o regime anterior? O que sugere a experiência de outras revoluções? Todas as revoluções contra regimes opressivos são desejáveis e vantajosas para o povo?);
20. palavras equívocas (por exemplo, a separação dos poderes na Constituição norte-americana especifica que os Estados Unidos não podem travar guerra sem uma declaração do Congresso. Por outro lado, os presidentes detêm o controle da política externa e o comando das guerras, que são potencialmente ferramentas poderosas para que sejam reeleitos. Portanto, os presidentes de qualquer partido político podem ficar tentados a arrumar disputas, enquanto desfraldam a bandeira e dão outros nomes às guerras — “ações policiais”, “incursões armadas”, “ataques de reação protetores”, “pacificação”, “salvaguarda dos interesses norte-americanos” e uma enorme variedade de “operações”, como a “Operação da Causa Justa”. Os eufemismos para a guerra são um dos itens de uma ampla categoria de reinvenções da linguagem para fins políticos. Talleyrand disse: “Uma arte importante dos políticos é encontrar novos nomes para instituições que com seus nomes antigos se tornaram odiosas para o público”).

Encerro assim, este texto publicado em duas partes com as palavras do Sagan: “Conhecer a existência dessas falácias lógicas e retóricas completa o nosso conjunto de ferramentas. Como todos os instrumentos, o kit de detecção de mentiras pode ser mal empregado, aplicado fora do contexto, ou até usado como uma alternativa mecânica para o pensamento. Mas, aplicado judiciosamente, pode fazer toda a diferença do mundo — ao menos para avaliar os nossos próprios argumentos antes de os apresentarmos aos outros.” E espero que ao ler as duas partes do texto, você encontre uma ferramenta que possa lhe possibilitar “a refinada arte de detectar mentiras”!


E lembre-se, muitas vezes “a credulidade mata” e isso não é uma frase de efeito!


Este texto se baseia no capítulo 12, do livro O Mundo Assombrado pelos Demônios: a Ciência vista como uma vela no escuro.
O livro pode ser encontrado, em PDF, neste link:
https://www.academia.edu/15585004/Carl_sagan_o_mundo_assombrado_pelos_demonios

sábado, 28 de junho de 2014

A Era da Boataria Virtual e "A Refinada Arte de Detectar Mentiras" I.

A compreensão humana não é um exame desinteressado, mas recebe infusões da vontade e dos afetos; disso se originam ciências que podem ser chamadas “ciências conforme a nossa vontade”. Pois um homem acredita mais facilmente no que gostaria que fosse verdade. Assim, ele rejeita coisas difíceis pela impaciência de pesquisar; coisas sensatas, porque diminuem a esperança; as coisas mais profundas da natureza, por superstição; a luz da experiência, por arrogância e orgulho; coisas que não são comumente aceitas, por deferência à opinião do vulgo. Em suma, inúmeras são as maneiras, e às vezes imperceptíveis, pelas quais os afetos colorem e contaminam o entendimento. (Francis Bacon – Novum organon, 1620)

Algo vem me preocupando nos últimos tempos: a geração e divulgação de boatos, mentiras, falácias, inverdades e meias verdades nas redes sociais. Um fenômeno que pode parecer de pouca importância, mas, sem que percebamos, ele tem influenciado o nosso cotidiano. Muitas vezes de maneira trágica! Lembro aqui o caso recente da mulher que foi morta por linchamento, devido ao fato de ter sido confundida com uma suposta sequestradora, através de um post publicado no facebook. Evento trágico, que foi resultado de mais um boato nesta “Era da Boataria Virtual”! Além de eventos como estes, onde vidas se perdem devido a boatos na internet, temos o uso indiscriminado da divulgação de boatos agora que se aproxima o processo eleitoral. Pautados no fato das pessoas não buscarem as fontes do que veem, partidos e candidatos usando de má fé se utilizam desta ferramenta para difamar os adversários.

Vivemos na sociedade da mentira, o boato, a falácia, fazem parte do mundo político, social e do mercado. É só repararmos nas propagandas que prometem milagres induzindo as pessoas a comprarem a felicidade e a juventude, é só lembrarmos dos discursos de políticos que utilizam da retórica para mover as massas de acordo com seus interesses, evento recente foi o processo de mudanças no código florestal, onde pequenos agricultores foram induzidos a partir da retórica de deputados ruralistas a apoiarem os projetos deste setor político, mesmo que estes projetos não beneficiassem estes pequenos agricultores utilizados no processo, mas sim os latifundiários.
Entendo que na "Era da Boataria Virtual" as vezes é difícil distinguir o que é fato e o que é boato, mas existe uma ferramenta que pode servir de base para isso. São alguns procedimentos simples que se bem utilizados podem nos servir como uma espécie de "Detector de Mentiras". Nos anos 80 Carl Sagan publicou um artigo chamado "A Refinada Arte de Detectar Mentiras", neste artigo ele nos apresenta uma síntese deste método que apresento logo abaixo

Segundo Sagan ao analisarmos uma ideia ou proposição (uma proposição neste sentido pode ser uma afirmação política, cientifica ou religiosa, uma suposta noticia, ou até uma propaganda de algum produto):

"A questão não é se gostamos da conclusão que emerge de uma cadeia de raciocínio, mas se a conclusão deriva da premissa ou do ponto de partida e se essa premissa é verdadeira.


Eis algumas das ferramentas:

1- Sempre que possível, deve haver confirmação independente dos “fatos”.
2- Devemos estimular um debate substantivo sobre as evidências, do qual participarão notórios partidários de todos os pontos de vista.
3- Os argumentos de autoridade têm pouca importância — as “autoridades” cometeram erros no passado. Voltarão a cometê-los no futuro. Uma forma melhor de expressar essa ideia é talvez dizer que na ciência não existem autoridades; quando muito, há especialistas.
4- Devemos considerar mais de uma hipótese. Se alguma coisa deve ser explicada, é preciso pensar em todas as maneiras diferentes pelas quais poderia ser explicada. 
5- Depois devemos pensar nos testes que poderiam servir para invalidar sistematicamente cada uma das alternativas. O que sobreviver, a hipótese que resistir a todas as refutações nessa seleção darwiniana entre as “múltiplas hipóteses eficazes”, tem uma chance muito melhor de ser a resposta correta do que se tivéssemos simplesmente adotado a primeira ideia que prendeu nossa imaginação.
6- Devemos tentar não ficar demasiado ligados a uma hipótese, só por ser a nossa. É apenas uma estação intermediária na busca do conhecimento.
7- Devemos nos perguntar por que a ideia nos agrada.

8- Devemos compará-la imparcialmente com as alternativas.
9-Devemos verificar se é possível encontrar razões para rejeitá-la. Se não, outros o farão.

10- Devemos quantificar. Se o que estiver sendo explicado é passível de medição, de ser relacionado a alguma quantidade numérica, seremos muito mais capazes de discriminar entre as hipóteses concorrentes. O que é vago e qualitativo é suscetível de muitas explicações. Há certamente verdades a serem buscadas nas muitas questões qualitativas que somos obrigados a enfrentar, mas encontrá-las é mais desafiador.
11- Se há uma cadeia de argumentos, todos os elos na cadeia devem funcionar (inclusive a premissa) — e não apenas a maioria deles.
12- A Navalha de Occam. Essa maneira prática e conveniente de proceder nos incita a escolher a mais simples dentre duas hipóteses que explicam os dados com igual eficiência.
13- Devemos sempre perguntar se a hipótese pode ser, pelo menos em princípio, falseada. As proposições que não podem ser testadas ou falseadas não valem grande coisa. Considere-se a ideia grandiosa de que o nosso Universo e tudo o que nele existe é apenas uma partícula elementar — um elétron, por exemplo — num Cosmos muito maior. Mas, se nunca obtemos informações de fora de nosso Universo, essa ideia não se torna impossível de ser refutada? Devemos poder verificar as afirmativas. Os céticos inveterados devem ter a oportunidade de seguir o nosso raciocínio, copiar os nossos experimentos e ver se chegam ao mesmo resultado."


Estas dicas acima fazem parte do chamado Método Científico, e podem ser utilizadas (cada uma delas dentro de suas especificidades) também no cotidiano, ao lidarmos com boatos nas redes sociais, ao lidarmos com a política e com políticos, e até nas relações de consumo.”
Agora que você sabe o que fazer para filtrar o boato da verdade, a falácia do fato siga esta dica NÃO DIVULGUE BOATOS! USE ESTA PEQUENA RECEITA NO SEU DIA A DIA E SEJA MENOS MANIPULADO E ENGANADO! 

No próximo texto irei trabalhar, a partir do mesmo artigo “A Refinada Arte de detectar Mentiras” como detectar as “falácias mais comuns” e “perigosas da lógica e da retórica” que muitas vezes costumamos ver sendo utilizadas por ai, inclusive por políticos (quando não principalmente por estes).

Este texto se baseia no capítulo 12, do livro O Mundo Assombrado pelos Demônios: a Ciência vista como uma vela no escuro.
O livro pode ser encontrado, em PDF, neste link:
https://www.academia.edu/15585004/Carl_sagan_o_mundo_assombrado_pelos_demonios

segunda-feira, 24 de março de 2014

PSOL de Marechal Cândido Rondon realiza Convenção e Congresso Municipal

No último domingo (23/03/2014) ocorreu a Convenção e o Congresso Municipal do Partido Socialismo e Liberdade de Marechal Cândido Rondon. Momento importante da vida partidária, a Convenção e o Congresso elegeram a nova direção executiva do partido no município e o delegado para a Convenção Eleitoral Estadual, que definira quem serão os nomes a representar a legenda no pleito deste ano.
Aloisio Norberto - Novo Presidente do PSOL/MCR
e delegado para a Convenção Estadual
Como delegado à Convenção Estadual foi eleito com 100% dos votos o filiado Aloisio Norberto que representará a legenda municipal na Convenção Estadual do partido que se realizará nos dias 12 e 13 de Abril em Curitiba. Além da eleição do delegado foram apresentados os nomes dos atuais pré-candidatos ao executivo pelo PSOL/PR, sendo eles Bernardo Piloto e JoséOdenir que disputam a possibilidade de representarem a legenda como candidatos ao governo do Estado, já ao Senado da República concorrem a vaga de candidato os filiados José Romero Piva e Vanderlei Amboni.
O Congresso municipal, como colocado acima, elegeu também a nova diretoria executiva do PSOL no município, tendo sido eleitos com 100% dos votos os filiados Aloisio Norberto como Presidente, Luciano Palagano como Secretário Geral e Keila Palagano como Tesoureira. A nova executiva deve ainda ser empossada pelo Diretório Estadual, uma vez que o partido no município tem o status de Comissão Provisória e consequentemente é do encargo da Direção Estadual do partido regularizar a situação.
Durante o Congresso e a Convenção
foi debatida a atuação do partido no município
Além das eleições do delegado e da nova diretoria executiva, o congresso/convenção foi um espaço de debate onde foram discutidas as pautas locais, e apresentadas algumas das ações que o partido vem fazendo no município em prol da classe trabalhadora, além da apresentação do já feito foram debatidas algumas ações imediatas a serem tomadas.
Foram ainda apresentadas na Convenção Municipal as candidaturas de Luciano Egidio Palagano à Deputado Estadual pelo PSOL e Maicon Palagano à Deputado Federal. 
Como era de se esperar, assim que foi encerrada a conferencia um release com imagem da mesma foi encaminhada a imprensa local, mas até o momento nada foi publicado pela mídia tradicional. Talvez, se a convenção tivesse sido de um partido que não lute com a classe trabalhadora, mas sim contra ela, algo tivesse sido publicado. É o que passa pela cabeça deste blogueiro ao ver que a mais de 24 horas do fato, o silêncio é total.
Militantes do PSOL/MCR.
Infelizmente faltaram alguns integrantes na foto que tiveram de sair antes do final da Convenção.
A convenção se encerrou estabelecendo o clima de unidade interna em prol de um objetivo maior que é fazer com que o PSOL se transforme cada vez mais em uma ferramenta da classe trabalhadora no município.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Onde queres revólver, sou coqueiro...


Depois de um bom tempo parado no sentido da renovação das postagens (mas não sem continuar recebendo visitas) o Blog Razão à Conta-Gotas volta a ativa. A meta agora é modesta, postar semanalmente. Por isso, os temas serão escolhidos a dedo, e como novamente esta semana ultrapassamos a marca dos 400ppm de Dióxido de Carbono no ar da atmosfera terrestre, atingindo o recorde histórico de 401,062ppm de CO2 na atmosfera (lembrando que o limite critico é de 400ppm, ou seja, já o ultrapassamos), o texto a seguir, de autoria do Historiador e militante ecossocialista Gilson Moura Henrique Júnior trata de maneira poética e reflexiva da Crise Ambiental:


Onde queres revólver, sou coqueiro...

“Poetas e loucos aos poucos, cantores do porvir e mágicos das frases endiabradas e sem mel
Trago Boas novas, bobagens num papel
Balões incendiados, coisas que caem do céu sem mais nem porque”
Boas Novas – Cazuza
Se eu quisesse apenas mostrar meu talento para a loucura gritaria urras a Belos montes e ao caminho do desenvolvimento de forças produtivas já no século XIX apontado como rompedor da relação metabólica entre homem e natureza, mas não é o caso.
Não estou aqui louco para dançar números sombrios sobre a velha e a arrogante cara da humanidade. Quem me dera! Quem dera soubesse na dor que entristece fazer compreender, já dizia Ro Ro.
Trago apenas boas novas, bobagens num papel, já diria Cazuza: Chegamos novamente a ultrapassar a barreira dos 400 ppm (Partes por milhão) de CO² na atmosfera. Sim é para aplaudirmos, mais um recorde na nossa insana cavalgada no calendário cósmico, onde Sagan e De Grasse Tyson já nos colocaram claramente do tamanho correto de poeira cósmica.
Olhamos pro abismo e seguindo o conselho de Nietzsche ele nos olhou de volta, mas em nossa miopia achamos que era amor, mas era na verdade cilada.
Batemos de novo a barreira dos 400 ppm em nossa marcha para tornar o aquecimento global inevitável elemento de extinção de nós humanos e de outras espécies. E estamos de parabéns, nenhuma outra espécie se autoextinguiu com tanto louvor, aliás, nenhuma outra espécie se autoextinguiu, todas tiveram ajuda ou da natureza ou nossa ou de ambos.
Temos de comemorar, afinal a única espécie competente o suficiente para mandar a vida pro cacete é a espécie humana. O único elemento arrogante ai é a tese de que mandaremos a vida pro cacete, porque ela, amigos, sempre arruma uma saída (sim, não é bobagem do parque dos dinossauros).
Já temos nossa amiga evolução aprontando das suas e gerando um bichinho que faz fotossíntese. Esse bichinho não nos salvará, mas a vida tá ai com a evolução tirando onda da nossa cara e gerando-se sem nós. O Planeta? Ah, é absoluta arrogância nossa achar que o planeta liga pra gente. Ele seguirá até um dia o sol virar supernova e mandá-lo pro catzo e explodir e gerar com poeira de estrelas outros planetas e estrelas e seguir a vida do multiverso que samba na cara das sociedades que nada são pra ele.
 
Soa pessimista? Não é, acreditem.
Deimos e Phobos acompanham Marte desde sempre, na mitologia ou na astronomia, e como mitos explicam muito como se sentem determinados tipos de humanos que se referenciam em mitos marciais: O medo e o terror são excelentes conselheiros, dão clareza à visão.
E eu vi a cara da morte e ela estava viva.

A vida, amigos, não depende de nós pra existir, nós dependemos dela. Nós, nossa espécie, depende de si mesma para frear a própria extinção, ninguém mais, nenhuma espécie tem este controle. As demais espécies que se extinguirem por nossa ação serão substituídas por outras e a vida e o planeta seguirão assoviando um tango inexistente criados por humanos extintos que aceleraram a locomotiva até que o abismo saia de apenas nos observar e resolva nos beijar na boca.
Poderia dizer milhares de metáforas rimadas, fazer das tripas coração, mas apenas farei do medo minha oração diante do Deus da Guerra que me chama de filho e gargalhando com ele diante da face da morte civilizatória, especista, dizer orgulhosamente qual a motoneta de “Carangos & motocas”: Eu vos disse.
Eu e tantos outros.
Perdão aos céticos, mas como filho de Logun-Edé e Ariano (sim eu acredito em astrologia) a ideia da extinção coletiva em poucas centenas de anos (E isso foi otimista) me parece um salto qualitativo.
Nossos netos e bisnetos se foderão orgulhosamente num planeta cada vez pior, as pobres e pretas primeiro, dado que mulheres negras são as principais vítimas das mudanças climáticas, mas ao fim e ao cabo a espécie toda deixará de existir, junto com o lucro.
Lamento que a esquerda socialista disperse tanto tempo ignorando a marcha exterminista da humanidade em nome de requentamento teórico quase que escatológico e religioso, com pouca ciência e muita lógica religiosa, sobre textos de teóricos geniais, mas lidos fora de contexto.
Lamento que à maior parte dos que se autoproclamam socialistas o que importa é enxergar a política como corrida de cavalo e estar à frente do cavalinho (Ou seria jegue?) ao lado na luta por um aparato ou seu lugar na institucionalidade.
Lamento, mas sem muito fervor, pois onde queres dinheiro, sou paixão e onde queres descanso sou desejo.
Quem abandona seu mandato histórico diante da miopia azeda em enxergar não décadas à frente, mas meses, não merece muito lamento quando cair. E sim, cairemos, todos, mas primeiro quem jamais se preocupou em ir além da lógica de disputa de dois carecas por um pente na busca de esquentar cadeiras de CA, DA, grêmios, mandatos, etc.
Tem um mundo de gente querendo mudar, entendendo que a espécie tá indo pro saco, mas quem deveria enxergar isso tá disputando vaga de vice do recuo.
Mas onde queres um lar, revolução e onde queres bandido sou herói e trago boas novas: Eu vi a cara da morte e ela estava viva.
Parabéns aos envolvidos, estamos nos exterminando.
(Gilson Moura Henrique Júnior - Historiador e Militante Ecossocialista)