quarta-feira, 27 de julho de 2011

O TEMPO CRONOLÓGICO E SEU REFERENCIAL RELATIVÍSTICO – II PARTE

Segue a segunda parte do texto: O TEMPO CRONOLÓGICO E SEU REFERÊNCIAL RELATIVÍSTICO, como informado antes o texto não é de minha autoria, mas o reproduzo aqui com a autorização do autor.
Boa leitura a todos!


CIÊNCIA EM FOCO
Valmir de França*
Dedico este ensaio ao meu Irmão Ubirajara da Cunha
O TEMPO CRONOLÓGICO E SEU
REFERENCIAL RELATIVÍSTICO – II PARTE
Quando acreditamos na pluralidade dos mundos habitados logo nos vem a pergunta: como seria o tempo cronológico nestes lugares ímpares?
 
Em nosso planeta temos dois referenciais de tempo: o movimento de rotação em torno do seu eixo que determina o dia de 24 horas, e o movimento de translação em órbita solar que determina o ano, equivalente a 365,25 dias. Esses referenciais de movimentos astronômicos determinam o tempo cronológico no planeta Terra. Então, como seriam estes referenciais nos planetas Marte, Saturno, Netuno, etc., se lá houvesse seres inteligentes?
 
Nos planetas gigantes e gasosos como o Júpiter, Saturno e Urano, o dia seria em torno de 10 horas! Enquanto é passado 1 ano netuniano (uma órbita completa do Netuno em torno do Sol) foram passados 165 anos aqui na Terra.
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Concepção artística da galáxia Via Láctea.
Agora vamos passar o nosso referencial para a Via Láctea. Somos agora um observador hipotético localizado em um ponto qualquer do espaço sideral observando o esplendor da nossa galáxia. Para esta referencia a idade do Sol é de aproximadamente 21 anos! Surpreso, caro leitor?
O Sol conduz a sua “família solar” em uma órbita em torno do centro da Via Láctea, deslocando-se a uma velocidade próxima a 990 mil quilômetros por hora. Para completar uma volta completa em torno da nossa galáxia o tempo gasto é equivalente a 220 milhões de anos terrestres.
Desde a formação do sistema Solar estimado em 4,7 bilhões de anos terrestre, o Sol realizou perto de 21 voltas completas.
Como seria o tempo em outros sistemas galáctico em nosso universo? Vamos ousar. Iremos hipoteticamente para outros universos paralelos ao nosso através do “Hiperespaço”.
O Hiperespaço ou Espaço Multidimensional migrou das páginas da ficção-científica para ocupar o espaço que merece na Física Teórica. Há mundos misteriosos escondidos para além dos nossos sentidos humanos
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Galáxias em profusão. Imagem obtida pelo HUBBLE/NASA
Os místicos há muito tempo que acreditam na existência desses lugares que, segundo eles estavam cheios de fantasmas e de espíritos. A última coisa que a Ciência desejava era ser associada com tal superstição. Renomados cientistas estudaram e ainda estudam o tema, dentre eles ressaltaremos os seguintes físicos: Albert Einstein (1879 – 1955), Paul Adrien Maurice Dirac (1902 – 1984), Lev Davidivich Landau (1908 – 1968), Hugh Everett (1930 – 1982), e outros. Atualmente, vários cientistas desenvolvem o tema, dentre eles o Prof. David Deutsch, da Universidade de Oxford, Inglaterra, o Dr. Burt Ovrut da Universidade da Pensilvânia e o popular físico Michio Kaku da Universidade da Cidade de New York.
 
Matematicamente demonstraram existir onze ou doze dimensões ou onze ou doze universos paralelos. Cada qual com suas singularidades, suas freqüências, alguns com movimentos progressivos e outros regressivos, uns rápidos e outros lentos (velocidades? Razão espaço e tempo?). Como seria referenciado o tempo cronológico em cada universo paralelo?
 
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Concepção artística demonstrando uma interligação entre um Buraco Negro, região onde a matéria “some” em um universo (esq.), e um Buraco Branco onde a “matéria” aparece em outro universo(Dir.). E.Einstein já trabalhava com esta hipótese no início dos anos 1950.
O espaço multidimensional é composto totalmente por energia. Quando sentimos e vemos a matéria ela é apenas energia condensada. Se tudo é energia, esta se manifesta de diversas maneiras, formas em diferentes freqüências. Podemos dizer que cada universo tem sua frequência e características próprias. Teoricamente os espaços interdimensionais seriam absolutos – neles, não existiria a noção de tempo de tempo cronológico. O deslocamento nestes espaços seria como o instante do pensamente. Um veículo navegaria sintonizado na frequência do local, e num instante, como se num pensamento, ele estaria em outro local, no mesmo universo ou no universo paralelo ao seu.
 
Vamos fazer outro exemplo para se entender melhor o que seria um universo paralelo. Podemos representar os universos paralelos pelo modelo onde um transmissor emitiria radiações em diversas freqüências distintas, e cada uma dela representasse um universo paralelo. Seria como fazem as emissoras de rádio e de televisão
Cada uma opera em diferentes faixas de ondas e de frequência. Precisaríamos de um aparelho receptor com o dial sintonizado em determinada emissora para ouvir ou ver algum programa que nos interesse. Giramos o dial e outra emissora diferente da primeira é sintonizada, e assim por diante. No mesmo espaço onde está o nosso aparelho receptor encontram-se entrelaçadas todas as outras emissoras de rádio e de televisão, quer dizer, uma mistura de ondas, desde as ondas curtas, médias e longas quando nos referimos à comprimento de ondas ou, desde baixas freqüências a altíssimas ou ultra-frequências. Se os objetos em nossa volta são sensíveis aos nossos sentidos é porque estamos sintonizados no mesmo universo paralelo. Mas, no mesmo espaço onde nos encontramos poderá existir outros universos que não vemos, não sentimos, porque não estamos sintonizados nele. Poderá a Ciência criar no futuro uma máquina com possibilidade de entrar em sintonia com outros universos paralelos. Se pegarmos carona neste veículo, como seria o tempo cronológico? Repetindo o que dissemos anteriormente, os teóricos afirmam que no Hiperespaço, composto por universos paralelos seria um ambiente absoluto, o tempo não existiria – os nossos deslocamentos seriam estantâneos como os nossos pensamentos.
O tema tem ocupado as mentes brilhantes dos cientistas nestes últimos cem anos. Um dos trabalhos inacabados de Albert Einstein era a Teoria Global ou Teoria do Todo, que resolveria todas as indagações da Ciência. Responderia a todas as questões até então não resolvidas, desde a Teoria do Big Bang até a dos universos paralelos. Outra teoria mais recente, da década dos anos 1980 é a Teoria das Cordas:
“A teoria das cordas mostram que átomos e a matéria em geral vibram em universos diferentes. Não podem ser demarcados num ponto fixo.” 
A Teoria das Cordas, por um momento não conseguiu explicar tudo, inclusive entre os cosmólogos, a Teoria do Big Ban. Mas, em meados da década dos anos 1990, o fisico Edward Witten,apareceu com uma nova teoria a qual se deu o nome de Teoria-M ou para muitos a Teoria das Membranas:
“[...] É uma teoria que unifica as cinco diferentes Teorias das Cordas. Essa teoria diz que tudo, matéria e campo, é formada por membranas, e que o universo flui através de 11 dimensões. Teriamos então 3 dimensões espaciais (altura, largura, comprimento), 1 temporal (tempo) e 7 dimensões recurvadas, sendo a estas atribuídas outras propriedades, como massa e carga elétrica”.
A Teoria “M” reconhece que o Universo não pode ser explicado matematicamente se não for admitido à existência de outros Universos Paralelos ao nosso”.
E agora leitor? Qual o seu conceito de TEMPO após a leitura deste ensaio em duas partes?
“É impossível entender o universo sem a presença de Deus!” Albert Einstein
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Referências
FRANÇA, V. de; GOWDAK, D.; MATTOS, N. S. de. Coleção Ciências: O Universo e o Homem. Livros Didáticos de Ciências de 5ª. a 8ª. Séries do 1º. Grau. São Paulo. Editora FTD. 1994.
 
http://rapidshare.com/files/ 174873018/Universos_Paralelos/BBC de Londres/Documentário
 
*Doutor em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais/UEM e Universidade Rennes 2, França.
CIÊNCIA EM FOCO é uma Coluna que tem por objetivo a Popularização e Divulgação Científica, no contexto da Educação Científica.
Os temas são abordados em forma de comentários do próprio autor; através de vulgarização de artigos científicos; ensaios, por meio de traduções, de transcrições e demais meios para que o conhecimento científico chegue a todos os leitores de O CAIÇARA “ON LINE”.
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terça-feira, 26 de julho de 2011

Sarney vai servir de Testemunha de Defesa à Torturador!

A reportagem abaixo, publicada originalmente na revista Caros Amigos, demonstra claramente como o nosso país ainda não se livrou dos ransos da Ditadura! Ainda estão no poder, pessoas que eram orgânicamente alinhadas aos ditadores, e que agora dizem defender e fazer a Democracia! Segue a reportagem:

Memória de um tempo não vivido
Agência Pública
 
26 de julho de 2011 às 15:29h
 
 
Justiça ouvirá testemunhas da tortura e assassinato do jornalista Luiz Eduardo Merlino, corrida em 71. Senador José Sarney está entre testemunhas de defesa do coronel Bilhante Ustra, responsabilizado pela morte Amanhã a justiça ouvirá testemunhas da tortura e assassinato do jornalista Luiz Eduardo Merlino. Na ação movida pela família de Merlino, o coronel Carlos Alberto Bilhante Ustra é responsabilizado pela morte, ocorrida em julho de 71. O senador e ex-presidente da República José Sarney está entre as testemunhas de defesa do coronel.
Por Tatiana Merlino, da Pública*
 
Sobre a cômoda, ao lado do vaso onde quase sempre há uma flor, há um porta-retrato prateado. Na foto, um jovem de perfil: cabelos negros, pele clara, olhos grandes, óculos de aro escuro. Quando eu ainda olhava o porta-retrato de baixo para cima, com uns sete anos, já sabia que ele era alguém muito importante para a família.
 Os anos se passaram, o porta-retrato mudou de casa, mas seguiu junto com a cômoda e o vaso. O homem da foto continuava jovem, olhando insistentemente para o infinito. Outros anos se seguiram, e a dona do porta-retrato e da cômoda morreu. Hoje, o porta-retrato mudou de casa e de dona. E eu o olho de cima para baixo.
 O jovem é meu tio, o jornalista Luiz Eduardo da Rocha Merlino, torturado e assassinado aos 23 anos, em São Paulo, em 19 de julho de 1971, nas dependências do DOI-Codi, centro de tortura comandado pelo coronel reformado do Exército brasileiro, Carlos Alberto Brilhante Ustra. Sua mãe, Iracema da Rocha Merlino, dona do porta-retrato, faleceu em 1995 sem que o Estado tivesse reconhecido a responsabilidade pela morte do filho.
 Não poderá ver, por exemplo, que no mês em que se completam 40 anos do assassinato do jovem, ocorrerá a audiência das testemunhas de uma ação por danos morais movida contra Ustra por sua ex-companheira, Angela Mendes de Almeida, e sua irmã, Regina Maria Merlino Dias de Almeida, que dão continuidade à luta de Iracema.
 Na próxima quarta-feira, 27 de julho, a Justiça de São Paulo ouvirá os testemunhos dos que presenciaram a tortura e morte de Merlino, como os ex-militantes do POC (Partido Operário Comunista), organização na qual
ele militava, Otacílio Cecchini, Eleonora Menicucci de Oliveira, Laurindo Junqueira Filho, Leane de Almeida e Ricardo Prata Soares; o ex-ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo de Tarso Vanucchi; e o historiador e escritor Joel Rufino dos Santos.
 Já Ustra arrolou como suas testemunhas o ex-ministro Jarbas Passarinho; um coronel e três generais da reserva, Gélio Augusto Barbosa Fregapani Paulo Chagas, Raymundo Maximiano Negrão Torres e Valter Bischoff; além do atual presidente do Senado e ex-presidente da República, José Sarney (PMDB-AP), que recentemente defendeu a manutenção do sigilo eterno de documentos oficiais ultrassecretos, com o argumento de que a divulgação desses dados pode motivar a abertura de “feridas”.
 A audiência está marcada para às 14h30, no Fórum João Mendes, centro de São Paulo. Na ocasião, serão ouvidas as testemunhas de acusação. As de defesa serão ouvidas por carta precatória.
 
Torturador declarado
 Para chegar à audiência das testemunhas, a família percorreu um longo caminho. Subscrita pelos advogados Fábio Konder Comparato, Claudineu de Melo e Aníbal Castro de Souza, esse é o segundo processo movido
pela família de Merlino contra o coronel da reserva. Em 2008, Regina e Angela moveram uma ação civil declaratória na qual requeriam apenas o reconhecimento da Justiça sobre a responsabilidade de Ustra nas
torturas e assassinato de Merlino. Porém, o ex-militar conseguiu paralisar e extinguir o processo por meio de artifício jurídico acatado pelo Tribunal de Justiça paulista. Assim, ambas entraram com uma segunda ação em 2010, também na área cível, que prevê uma indenização por danos morais.
 
Ustra já foi declarado torturador pela Justiça de São Paulo, em ação movida pela família Teles: Maria Amélia de Almeida Teles, César Teles e Criméia de Almeida. Conhecido como “major Tibiriçá”, ele comandou o DOI-Codi entre setembro de 1970 e janeiro de 1974. Em relação a esse período, houve 502 denúncias de torturas praticadas por homens sob o seu comando e por ele diretamente, além de 40 assassinatos decorrentes da violência utilizada nos interrogatórios. “Apanhei muito e apanhei do comandante. Ele foi o primeiro a me torturar e me espancou até eu perder a consciência, sendo que era uma gestante bem barriguda. Eu estava no sétimo mês de gravidez”, afirmou Criméia em dezembro de 2010.
 
Prisão e morte
 Em 15 de julho de 1971, Merlino foi preso por três homens na casa de sua mãe, em Santos, no litoral de São Paulo. “Logo estarei de volta”, disse à mãe, irmã e tia. Foi a última vez que o viram. Jornalista e militante do POC, ele tinha recém-chegado de uma viagem à França, onde havia aderido à Quarta Internacional. O jornalista havia viajado com passaporte legal, já que contra ele não constava nenhuma acusação dos órgãos repressivos.
 Da casa de sua mãe, foi levado ao DOI-Codi de São Paulo, localizado à rua Tutóia, no bairro do Paraíso, onde “foi barbaramente torturado por24 horas ininterruptas e abandonado numa solitária, a chamada cela forte, ou x-zero”, de acordo com o livro Direito à memória e à verdade, editado pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, ligada à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
Muitos presos políticos testemunharam as torturas às quais o jornalista foi submetido, entre eles Guido Rocha, escultor que também estava preso no DOI-Codi na época e esteve com Merlino na “cela forte”. Guido estava há alguns dias na cela, quando o militante do POC foi trazido. “Ele estava muito machucado. Trouxeram ele carregado, ficou deitado, imobilizado. Mas muito tranquilo. Me impressionei muito com a segurança e tranquilidade dele”, disse Guido, em 1979, em entrevista ao jornalista Bernardo Kucinski.
 Apesar da serenidade, seu estado de saúde piorava. As pernas estavam dormentes por conta do tempo que passara pendurado no “pau-de-arara” e, mesmo queixando-se de dor, não recebeu assistência médica. No dia
seguinte, foi retirado da solitária e colocado sobre uma mesa, no pátio em frente às celas, fato que foi presenciado por diversos presos, que puderam ver seu estado. Ele queixava-se de dormência nas pernas, que não mais obedeciam. “À noite, começou a se sentir mal, estava bem pior. Ele falou: ‘chama o enfermeiro  rápido que eu estou muito mal, a dormência está subindo, está nas duas pernas e nos braços também’. Aí eu bati na porta com força e gritei. Vieram o enfermeiro e alguns torturadores, policiais, os mesmos que já haviam me torturado e torturado a ele também. Vieram e o levaram. Nunca mais eu vi ele”, relatou Guido, falecido há dois anos.
 
Versão falsa
 Em 20 de julho, cinco dias após a prisão, a família recebeu a notícia de que ele teria cometido suicídio, jogando-se embaixo de um caminhão na BR-116, na altura de Jacupiranga, em São Paulo, quando estaria
sendo conduzido para o Rio Grande do Sul para “reconhecer” militantes. A família, porém, não acreditou na versão oficial da morte.
Como o corpo não foi entregue, dois tios e o cunhado do jornalista, Adalberto Dias de Almeida, que era  delegado de polícia, foram ao Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo, mas o diretor do órgão negou que o corpo ali estivesse. Adalberto burlou as regras do IML e, alegando procurar o cadáver de um bandido, foi em busca do corpo do cunhado. Encontrou-o ali, numa gaveta, com torturas e sem identificação. Só assim a  família pôde enterrar o jornalista, que teve o corpo entregue em caixão fechado. O laudo necroscópico atestando aversão do suicídio e que vinha grafado com a letra “T” (de terrorista), escrita a mão, foi assinado pelos médicos legistas Isaac Abramovich e Abeylard de Queiroz Orsini.  Jornalistas amigos de Merlino estiveram no local onde ele supostamenteteria se suicidado e não encontraram nenhum sinal de atropelamento ou outro acidente de trânsito ocorrido nas redondezas no dia indicado. Pouco mais de um mês depois do assassinato, o jornal o Estado de S. Paulo anunciou a missa de trigésimo dia de seu falecimento, ocorrida em 28 de agosto. Cerca de 770 jornalistas compareceram à celebração, e os mesmos três homens que buscaram o jornalista em Santos foram ao local e deram os “pêsames” à sua mãe e irmã.  
Nascido em Santos, em 1948, Merlino participou, como secundarista, do movimento do Centro Popular de Cultura (CPC), da União Nacional dos Estudantes (UNE). Mudou-se para São Paulo, onde completou o ensino
médio e, em 1966, com 17 anos, ingressaria como “foca” na primeira equipe de jornalistas do recém-fundado Jornal da Tarde, do grupo o Estado de S. Paulo. Ali escreveu reportagens de repercussão, como a que denunciava as atividades do “mau patrão” Abdala, da Fábrica de Cimento Perus-SP.  
Também trabalhou na publicação Folha da Tarde, para onde cobriu o 30º Congresso da UNE, em Ibiúna, ocorrido em setembro de 1968, época em que já havia ingressado no POC. Detido e transferido para o presídio
Tiradentes, depois de solto Merlino reportou os fatos e levou mensagens dos militantes que permaneceram presos. Estudante de história da Universidade de São Paulo (USP), também trabalhou no Jornal do Bairro e participou da fundação do jornal alternativo Amanhã.
 Fundado em 1968, o POC foi resultado da fusão entre a Política Operária (Polop), fundada em 1961, e a Dissidência Leninista do Partido Comunista Brasileiro (PCB), no Rio Grande do Sul. Um pouco antes de morrer, Merlino havia aderido à Quarta Internacional.
 A companheira Angela e os amigos, como Tonico Ferreira e Joel Rufino dos Santos, costumam imaginar o que ele estaria fazendo hoje, pelo que lutaria, como estaria. A mim, a sobrinha nascida seis anos após sua morte, não cabem tais pensamentos. O que serve de alento é pensar que, quarenta depois, o coronel Ustra poderá ser reconhecido como o responsável pela morte do jovem da foto do porta-retrato prateado.
 
(Texto originalmente publicado na Revista Caros Amigos)
* Artigo extraído da Agência Pública

sábado, 23 de julho de 2011

Paulo Piramba! Você não se foi! Ainda esta entre nós!

Segue homenagem ao companheiro/camarada, amigo e guerreiro na luta Ecossocialista Paulo Piramba que faleceu hoje no RJ:




Paulo Piramba! Até quando? Sempre! Com certeza sempre!
Grande lutador, amigo e combatente aguerrido pela causa ecossocialista, foi o idealizador desta lista*, um dos idealizadores do setorial, e um dos grandes defensores de que este seja um dos eixos do PSOL!
Paulo Piramba, você se foi em corpo, mas seu exemplo ficou e rendeu frutos! Seu exemplo de vida, suas defesas e suas ideias conquistaram diversos lutadores para a causa!
Você nos foi retirado em um momento difícil, um momento em que temos diversos desafios a enfrentar, muitas batalhas a ganhar, vai ser mais árdua a caminhada sem sua presença, mesmo que a distância através de um artigo, ou de palavras escritas. Vai ser mais difícil, infelizmente somos mortais e devido a isso muitas vezes nos vamos sem que nos seja permitido acabar aquilo que começamos, ou ver a semente que plantamos se transformar em árvore!
Mas, podem ter certeza a sua luta não foi em vão! Aqui ficaram pessoas que irão continuar a mesma, e em sua homenagem cuidar da árvore que você ajudou a plantar, fazer com que ela se desenvolva e possamos construir, como era seu sonho, uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária, assim como ecológica!
Uma sociedade Ecossocialista! Você se foi em corpo, mas fica em nossas mentes e corações através de seus exemplos, ensinamentos e da amizade que tivemos a oportunidade de compartilhar!
Paulo Piramba! Até quando? Sempre!
Você camarada, com certeza foi alguém que se manteve fiel na pratica e na teoria aos ensinamentos de Marx quando ele disse: 
"Mesmo uma sociedade inteira, uma nação, ou mesmo todas as sociedades existentes num dado momento em conjunto, não são donas da Terra. São simplesmente suas possuidoras, suas beneficiárias, e têm que a legar, num estado melhorado, para as gerações seguintes, como bons pais (e mães) de família".
Esse foi sempre seu objetivo, sua luta na vida! E em sua homenagem continuará sendo a nossa! A melhor maneira de homenagear um guerreiro que lutou a nosso lado, é continuar a luta ao qual ele dedicou sua vida!
Não direi Adeus Companheiro/Camarada, pois você ainda esta conosco, apesar de não mais podermos olhar nos seus olhos!


Luciano Egidio Palagano
Presidente do PSOL - Marechal Cândido Rondon - PR
Militante Ecossocialista que foi conquistado a causa pelo camarada Piramba!


* Referência a lista dos Ecossocialistas do PSOL.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O TEMPO CRONOLÓGICO E SEU REFERENCIAL RELATIVÍSTICO – I PARTE

O texto abaixo é da autoria de Valmir De França, pesquisador da Universidade Estadual de Londrina publicado originalmente na coluna CIÊNCIA EM FOCO, esta é a primeira parte do artigo publicado aqui com a autorização do autor, amanhã estarei publicando a segunda parte. Boa leitura a todos!
Valmir de França*
Dedico este ensaio ao meu Irmão Ubirajara da Cunha

Quando olhamos o mostrador do relógio para sabermos a hora, o que lemos é a codificação do modelo de rotação do nosso planeta Terra. O modelo simula a medida de uma volta completa em torno do seu eixo, isto é, um giro de 360o, passando duas vezes pelo mesmo ponto, com a duração relativa de 23h 56min 04s, denominado Dia Sideral. Este ponto poderá ser uma estrela na abóbada celeste ou outros astros como pontos de referência como o Sol. No segundo exemplo a duração do mesmo movimento é de 24h 00min 00s, denominado Dia Solar, portanto 3min 56s mais longo do que o Dia Sideral.
Agora sabemos que é preciso uma referência para a determinação do tempo cronológico. Primeiramente a percepção humana com a prevalência do senso comum, cujo conceito detempo “é indicado por intervalos ou períodos de duração”; – otempo é o registro de uma sequência de eventos, um ocorre após o outro, por intervalos sucessivos. Marcando-se o início e o término dos eventos, teremos assim um período, um tempopercorrido, um tempo gasto.
Cientificamente, “tempo é uma grandeza física diretamente associada ao seqüenciamento mediante ordem de ocorrência de eventos coincidentes – eventos estes sempre observados a partir da origem do referencial para o qual se define o tempo”.
No início do Sec. XX, mais precisamente em 1905, a Teoria da Relatividade de Albert Einstein (1879 – 1955) criou outros fundamentos que revolucionaram a Física Clássica caracterizando a Moderna. Os fenômenos físicos não são generalizados e nem absolutos, dependendo de um referencial ou são relativos a um determinado campo referencial e/ou da localização do observador. Quando estamos no ônibus em movimento, o seu condutor à nossa frente não se desloca em relação a nós, está parado. Mas, em relação a um observador na calçada o motorista está em movimento, isto é, ocorre um deslocamento do motorista em relação ao observador parado na calçada.
Temos também o tempo relativístico – que “explicita a dependência da coincidência de eventos com o referencial a partir do qual se observam os mesmos”, como no exemplo hipotético acima sobre as características dos eventos físicos que dependem de referenciais ou, são relativos a pontos ou planos referenciais. Assim, o conceito de tempo cronológico perde a condição de grandeza absoluta e universal, passando a ser uma grandeza estritamente local, uma grandeza dependente e atrelada à origem de um referencial em específico.
Perguntaríamos: o tempo cronológico é igual em todo Universo? Claro que não, conforme os fundamentos introdutórios deste ensaio, com abordagem aproximativa, no contexto da Teoria da Relatividade.
Como seria o tempo em outros planetas, em outros mundos?
Durante a Segunda Onda Toffleriana (A Terceira Onda, Alvin Toffler) o homem deixou de coletar seu alimento e aprendeu a plantar, iniciar a prática da agricultura. Aprendeu a enterrar a semente da planta alimentícia e fazer germinar outra planta idêntica para sustentar a sua família, a sua tribo. Mas surgiu um grande desafio: seria necessário o uso de um sistema que apresentasse alguns eventos cíclicos na natureza para embasar o planejamento da rudimentar agricultura – uma espécie de calendário. Saberia desta forma a época da semeadura e da colheita, como também as épocas das manifestações culturais, religiosas, administrativas, etc. A resposta veio através das observações dos movimentos aparentes dos astros, como do Sol, da Lua e das estrelas. Quando o Sol, ou alguma estrela ou grupos de estrelas aparentemente próximas (constelação) apareciam em determinado ponto da linha do horizonte, correspondia a certa Estação do Ano como um fenômeno sazonal, ou o solstício e o equinócio. Aprendeu a usar estas informações para saber as épocas de plantio e da colheita e dos mais variados eventos culturais. Podemos afirmar que foi o nascimento da futura ciência que hoje conhecemos como Astronomia. Nasceu para a necessidade da sobrevivência do ser humano, podemos acrescentar que também para a preservação de sua cultura.
A partir deste marco histórico da Humanidade o homem passou a observar e registrar os movimentos dos astros e, progressivamente construir e aperfeiçoar os calendários. Vamos encontrar esta cultura em todos os povos, em todos os continentes habitados ao longo da história das civilizações em nosso planeta. Os nossos índios já utilizavam o calendário baseado na Astronomia. Estudos realizados pelo saudoso astrônomo Marcomede Rangel Nunes (1951 – 2010) sobre a Astronomia dos índios Desaña (Tukano Oriental) da região do Alto Rio Negro, Amazônia brasileira, exemplificam esta cultura pré-colombiana entre as nações autóctones do nosso Pindorama, conforme o quadro a seguir:
Quadro 1. Relação das constelações dos índios Desânas, identificadas pelo astrônomo Marcomede Rangel Nunes do Observatório Nacional, com as constelações reconhecidas pela União Astronômica Internacional. Os indicadores e as atividades a elas relacionadas encontram se na última coluna.
CONSTELAÇÃO
(Nome em Desâna)
SIGNIFICADO
IDENTIFICAÇÃO
ATIVIDADE
Añá siñoliru
Iluminação da Jararaca
Cruzeiro do Sul
Fortes chuvas.
Añá dihpuro
Cabeça da jararaca

Limpeza do solo.
Añá dëhpë puiró
Corpo da jararaca

Derrubada das árvores.
Añá diubá puiró
Ovos de jararaca
Estrelas Alfa e Beta do Centauro
Coleta de cogumelos.
Añá poleró beró
Rabo redondo de jararaca
Cauda do Escorpião
Pesca: ocorre a primeira piracema do aracu.
Pamo ngoá dëhka
Fêmur de tatu

Chuvas.
Pamo
Tatu

Segunda piracema do aracu.
Ñahsin kamë
Camarão

Terceira piracema do aracu; coleta de maniuaras1, saúvas e formigas da noite.
Yé disiká poaló
Barba do queixo da onça
Pedaço da Ursa Maior (?)
Fim do ciclo das pira-cemas e da safra de umari 2
Yé dëhpë puiró
Corpo da onça

Caça às rãs
Yé poleró beró
Rabo redondo da onça

Fim da caça às rãs e da coleta de formigas; coleta de cupins.
1 Maniuaras: um tipo de formiga
2 Umari: fruta típica da região.

Podemos reafirmar que ainda hoje a cultura astronômica está presente nos mais variados calendários em quase todas as regiões do nosso planeta. Podemos exemplificar os calendários, espanhóis, ingleses, nórdico-europeus, franceses, etc., onde cada dia da semana corresponde a um determinado astro.
Quadro 2. Origens dos nomes da semana e comparação entre diversos calendários em diferentes países, com base na Astronomia.
Português Moderno
Português Arcaico
Deus romano
deus saxão
Espanhol
Italiano
Francês
Domingo
Sol
Sol
Domingo
Domenica
Dimanche
Lues (pronuncia-se lũes)
Lua
Lua
Lunes
Lunedì
Lundi
Martes
Marte
Tyr
Martes
Martedì
Mardi
Mércores
Mercúrio
Odin
Miércoles
Mercoledì
Mercredi
Joves
Júpiter
Thor
Jueves
Giovedì
Jeudi
Vernes
Vênus
Freya
Viernes
Venerdì
Vendredi
Sábado
Saturno
Saturno
Sábado
Sabato
Samedi

Se de um lado as observações e respectivos registros sistemáticos fundamentaram a atual Ciência Astronomia, do outro lado, o senso comum utilizado para entender o fenômeno encontrou na religião uma âncora. O conjunto de fenômenos que indicavam as fases fenológicas das espécies agrícolas, as datas das festividades aos deuses (solstícios, equinócios, etc.) alimentaram uma cultura mística. Criou-se deste modo a religião politeísta denominada Astrologia, onde cada astro é um deus com finalidades específicas (ver no quadro acima os deuses romanos e os deuses saxões).  Esta espécie de sincretismo religioso está no senso comum por não saberem naquela época o fenômeno real da natureza relacionado às colheitas, às doenças, etc. Esta conotação mística, religiosa, para justificar os fenômenos naturais nos faz lembrar de uma frase do escritor alemão Thomas Mann (1875 – 1955): “O bem do homem pensante é explorar o explorável e serenamente venerar o inexplorável” (Apenas para informação, Thomas Mann era filho  de Johann Heinrich  Mann e da brasileira Júlia da Silva Bruhns).
Na época da agricultura primitiva quando o cultivo de certa planta estava relacionado a certos astros que embora servissem como calendários, também eram aclamados para que “dessem” boas colheitas, chuvas nos períodos de estiagens severas, vitórias nas guerras, cura para certa enfermidade, etc. Assim, os astros eram concebidos como verdadeiros deuses. Para os nossos indígenas a Lua era considerada a deusa Jaci, Caramuru – o deus dos trovões, etc.

A necessidade do uso e registro do tempo foi mais por motivo social e administrativo. A história nos diz que os primeiros aparelhos inventados pelo homem para marcar o tempo ocorreu aproximadamente 1.500 a.C no Egito – foi o Relógio-de-Sol ou Quadrante Solar (Figura ao lado) O Relógio-de-Sol determina a “hora solar local”. A montagem e uso dos quadrantes solares contribuíram para traçar as linhas básicas da geometria cartográfica terrestre, que são os meridianos, os paralelos, a determinação correta das direções cardeais pelo Sol.  
O que é horário solar local? Por exemplo, quando é “meio dia solar local” em Paranaguá que corresponde ao Meridiano 48o 31’ 52” Oeste,   ainda não é o mesmo horário em Foz do Iguaçu cujo Meridiano é 54o 35’05”Oeste. Uma vez que o planeta Terra gira no sentido Oeste para Leste, o Sol passa primeiro pelo Meridiano de Paranaguá e, 24 minutos depois, passará pelo Meridiano de Foz do Iguaçu que está a 6o de Longitude a Oeste do litoral paranaense. Mas, atualmente as duas cidades paranaenses estão no mesmo Fuso Horário onde a hora Legal é a mesma – isto é, legalmente o horário de meio dia em Paranaguá é o mesmo em Foz do Iguaçu, que por sua vez é o mesmo de Brasília, Distrito Federal.
Antes do advento dos fusos horários, cada cidade tinha o seu horário local. Podemos ver nos monumentos, igrejas, castelos, etc., os relógios- de-sol. Os viajantes acertavam seus relógios em cada cidade que chegavam.  O Sistema Internacional de Fusos Horários tal como hoje conhecemos foi concebido pelo senador canadense Sanford Fleming, em 1878, quando teve algumas aplicações regionais no Canadá e nos Estados Unidos. Para sanar o caos mundial que exigia uma padronização na Hora, foi realizada uma Conferência Mundial no ano de 1884 em Washington D.C. reunindo 25 representantes dos países mais influentes, que aprovaram o Sistema de Fusos testado nos Estados Unidos e Canadá. Foi determinado o Meridiano de Greenwich como “Meridiano Inicial”, e o meridiano antípoda ou oposto (a 180o a Leste ou a Oeste de Greenwich) localizado no Oceano Pacífico foi denominado “Linha Internacional da Hora”. A partir daí uma série de setores de atividades, como navegações, marítima, aérea, espacial; observações astronômicas; manobras militares; as telecomunicações, etc., utilizam o horário GMT (Greenwich Mean Time) – Hora Média de Greenwich, ou, Tempo Coordenado Universal (UTC – Universal Coordinated Time).  
Continua PARTE II na edição da próxima Coluna Ciência em Foco: Como seria o tempo em outros mundos e no Hiperespaço?
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Referências
FRANÇA, V. de; GOWDAK, D.; MATTOS, N. S. de. Coleção Ciências: O Universo e o Homem. Livros Didáticos de Ciências de 5ª. a 8ª. Séries do 1º. Grau. São Paulo. Editora FTD. 1994.

OLIVEIRA, P. Di C. Astronomia e os índios Desâna. In: VARELA, I. G. & OLIVEIRA, P. D.C.F. de. Histórias da Astronomia. No.  03. 2003.


*Doutor em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais/UEM e Universidade Rennes 2, França.
CIÊNCIA EM FOCO é uma Coluna que tem por objetivo a Popularização e Divulgação Científica, no contexto da Educação Científica.

*defranca@uel.br; defranca_v@hotmail.com
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