sexta-feira, 14 de março de 2014

Onde queres revólver, sou coqueiro...


Depois de um bom tempo parado no sentido da renovação das postagens (mas não sem continuar recebendo visitas) o Blog Razão à Conta-Gotas volta a ativa. A meta agora é modesta, postar semanalmente. Por isso, os temas serão escolhidos a dedo, e como novamente esta semana ultrapassamos a marca dos 400ppm de Dióxido de Carbono no ar da atmosfera terrestre, atingindo o recorde histórico de 401,062ppm de CO2 na atmosfera (lembrando que o limite critico é de 400ppm, ou seja, já o ultrapassamos), o texto a seguir, de autoria do Historiador e militante ecossocialista Gilson Moura Henrique Júnior trata de maneira poética e reflexiva da Crise Ambiental:


Onde queres revólver, sou coqueiro...

“Poetas e loucos aos poucos, cantores do porvir e mágicos das frases endiabradas e sem mel
Trago Boas novas, bobagens num papel
Balões incendiados, coisas que caem do céu sem mais nem porque”
Boas Novas – Cazuza
Se eu quisesse apenas mostrar meu talento para a loucura gritaria urras a Belos montes e ao caminho do desenvolvimento de forças produtivas já no século XIX apontado como rompedor da relação metabólica entre homem e natureza, mas não é o caso.
Não estou aqui louco para dançar números sombrios sobre a velha e a arrogante cara da humanidade. Quem me dera! Quem dera soubesse na dor que entristece fazer compreender, já dizia Ro Ro.
Trago apenas boas novas, bobagens num papel, já diria Cazuza: Chegamos novamente a ultrapassar a barreira dos 400 ppm (Partes por milhão) de CO² na atmosfera. Sim é para aplaudirmos, mais um recorde na nossa insana cavalgada no calendário cósmico, onde Sagan e De Grasse Tyson já nos colocaram claramente do tamanho correto de poeira cósmica.
Olhamos pro abismo e seguindo o conselho de Nietzsche ele nos olhou de volta, mas em nossa miopia achamos que era amor, mas era na verdade cilada.
Batemos de novo a barreira dos 400 ppm em nossa marcha para tornar o aquecimento global inevitável elemento de extinção de nós humanos e de outras espécies. E estamos de parabéns, nenhuma outra espécie se autoextinguiu com tanto louvor, aliás, nenhuma outra espécie se autoextinguiu, todas tiveram ajuda ou da natureza ou nossa ou de ambos.
Temos de comemorar, afinal a única espécie competente o suficiente para mandar a vida pro cacete é a espécie humana. O único elemento arrogante ai é a tese de que mandaremos a vida pro cacete, porque ela, amigos, sempre arruma uma saída (sim, não é bobagem do parque dos dinossauros).
Já temos nossa amiga evolução aprontando das suas e gerando um bichinho que faz fotossíntese. Esse bichinho não nos salvará, mas a vida tá ai com a evolução tirando onda da nossa cara e gerando-se sem nós. O Planeta? Ah, é absoluta arrogância nossa achar que o planeta liga pra gente. Ele seguirá até um dia o sol virar supernova e mandá-lo pro catzo e explodir e gerar com poeira de estrelas outros planetas e estrelas e seguir a vida do multiverso que samba na cara das sociedades que nada são pra ele.
 
Soa pessimista? Não é, acreditem.
Deimos e Phobos acompanham Marte desde sempre, na mitologia ou na astronomia, e como mitos explicam muito como se sentem determinados tipos de humanos que se referenciam em mitos marciais: O medo e o terror são excelentes conselheiros, dão clareza à visão.
E eu vi a cara da morte e ela estava viva.

A vida, amigos, não depende de nós pra existir, nós dependemos dela. Nós, nossa espécie, depende de si mesma para frear a própria extinção, ninguém mais, nenhuma espécie tem este controle. As demais espécies que se extinguirem por nossa ação serão substituídas por outras e a vida e o planeta seguirão assoviando um tango inexistente criados por humanos extintos que aceleraram a locomotiva até que o abismo saia de apenas nos observar e resolva nos beijar na boca.
Poderia dizer milhares de metáforas rimadas, fazer das tripas coração, mas apenas farei do medo minha oração diante do Deus da Guerra que me chama de filho e gargalhando com ele diante da face da morte civilizatória, especista, dizer orgulhosamente qual a motoneta de “Carangos & motocas”: Eu vos disse.
Eu e tantos outros.
Perdão aos céticos, mas como filho de Logun-Edé e Ariano (sim eu acredito em astrologia) a ideia da extinção coletiva em poucas centenas de anos (E isso foi otimista) me parece um salto qualitativo.
Nossos netos e bisnetos se foderão orgulhosamente num planeta cada vez pior, as pobres e pretas primeiro, dado que mulheres negras são as principais vítimas das mudanças climáticas, mas ao fim e ao cabo a espécie toda deixará de existir, junto com o lucro.
Lamento que a esquerda socialista disperse tanto tempo ignorando a marcha exterminista da humanidade em nome de requentamento teórico quase que escatológico e religioso, com pouca ciência e muita lógica religiosa, sobre textos de teóricos geniais, mas lidos fora de contexto.
Lamento que à maior parte dos que se autoproclamam socialistas o que importa é enxergar a política como corrida de cavalo e estar à frente do cavalinho (Ou seria jegue?) ao lado na luta por um aparato ou seu lugar na institucionalidade.
Lamento, mas sem muito fervor, pois onde queres dinheiro, sou paixão e onde queres descanso sou desejo.
Quem abandona seu mandato histórico diante da miopia azeda em enxergar não décadas à frente, mas meses, não merece muito lamento quando cair. E sim, cairemos, todos, mas primeiro quem jamais se preocupou em ir além da lógica de disputa de dois carecas por um pente na busca de esquentar cadeiras de CA, DA, grêmios, mandatos, etc.
Tem um mundo de gente querendo mudar, entendendo que a espécie tá indo pro saco, mas quem deveria enxergar isso tá disputando vaga de vice do recuo.
Mas onde queres um lar, revolução e onde queres bandido sou herói e trago boas novas: Eu vi a cara da morte e ela estava viva.
Parabéns aos envolvidos, estamos nos exterminando.
(Gilson Moura Henrique Júnior - Historiador e Militante Ecossocialista)

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