A contagem do tempo, desde os primórdios da humanidade sempre esteve
ligada a mistica religiosa, os calendários sempre foram baseados em
determinadas visões cosmológicas de mundo que se embasavam nos
credos religiosos daqueles mesmos povos. Não é diferente para o
Ocidente Moderno, todo final do dia 31/12 comemoramos a entrada do
dia 01/01, baseados no calendário cristão, sejamos cristãos ou
não, seguimos todos (no ocidente) esta mesma tradição.
Talvez, pudéssemos ser mais racionais e mudar a forma de contar o
tempo, por exemplo: poderíamos determinar uma escala de ciclos de um
relógio atômico, e assim que a contagem deste relógio atômico
alcançasse esta escala e reiniciasse a contagem novamente, consideraríamos como tendo passado um ano.
Relógio Atômico
Imagem disponível em:
http://www.tecmundo.com.br/ciencia/49467-relogio-atomico-do-colorado-pode-ser-o-mais-preciso-do-mundo.htm
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Portanto, vamos manter nossa contagem de tempo cultural, as diversas
contagens de tempo culturais, por mais imprecisas que elas sejam.
Mas, o tema deste texto não é este. Esta pequena introdução é só
para vocês refletirem um pouco sobre o tempo e sua contagem, ao
longo da História. Eu quero falar aqui, aproveitando a virada de ano
do calendário cristão ocidental, sobre Cristianismo e
fundamentalismo, sobre a contradição entre o que enxergamos e vemos
sendo propalado hoje (final de 2015 para o inicio de 2016), como sendo
cristianismo e aquilo que era o cristianismo em sua essência. O
chamado cristianismo primitivo, que de primitivo só tem o nome, uma
vez que era muito mais humano do que este que hora vivenciamos.
O Cristianismo, assim como todas as religiões que derivam de uma
anterior, nasce da contradição, ele nasce questionador de uma ordem
instituída que se mostra corrupta, opressora e decadente. Não é por
mera força de expressão que o Cristo chama os fariseus de
“Sepulcros Caiados”, que ele, com um chicote, em um acesso de
fúria, expulsa os “vendilhões do templo”, afirmando: _ “Não
façam, da casa de meu Pai uma casa de comércio!”
Jesus Expulsa os Vendilhões do Templo Obra de Rembrandt |
O Cristianismo, em sua gênese, se olhado, analisado e observado, a
partir do seu momento histórico, nasce libertário e revolucionário.
O Cristo andava com leprosos, com prostitutas, com os setores mais
oprimidos daquela sociedade, ensinava que com a partilha todos podiam
ter, e questionava como um todo, os “doutores da lei”, os
sacerdotes, os poderosos daquela sociedade.
O Cristianismo, em seu âmago é questionamento de uma ordem de
opressão, é perdão e também amor universal. O Cristo renegou o próprio núcleo familiar ao dizer que, sua família, seus irmãos
e irmãs, eram todos aqueles que lá estavam com ele.
O Cristianismo nega o Deus tribal, o Deus das batalhas, o Deus dos
exércitos, o Cristo consegue fazer com que o próprio Deus seja
transcendido, transmutado do Deus tribal, do Deus dos Exércitos para
o Deus universal, o Deus dos oprimidos, o Deus do Amor e da
tolerância.
O Cristianismo, por isso tudo, na sua própria essência, nega o
fundamentalismo, não é a toa que os fundamentalistas se baseiam
mais no antigo testamento do que no novo. O fundamentalismo não é
Cristianismo, mesmo que tente se revestir como tal. O fundamentalista
não é Cristão, mesmo que use o nome do Cristo em vão. Na
parábola, o bom foi o Samaritano, e não o Ortodoxo!
Os pastores, padres, bispos, cardeais, toda esta corja de
“sacerdotes” que defendem a opressão, que se enfileiram ao lado
dos opressores, são os “fariseus”, os “saduceus” e “doutores
da lei” da modernidade.
Os novos antigos crucificados! |
Manipulam os oprimidos, de acordo com os seus próprios interesses,
não agem nunca na intenção de libertá-los da opressão, mas sim,
sempre na tentativa de afundá-los cada vez mais na ilusão. Eles são
os herdeiros dos “vendilhões do templo”, dos “fariseus” e dos
“saduceus”, “sepulcros caiados”!
Eles crucificariam o Cristo, como aqueles o fizeram, e o Cristo se
apartaria deles, como ele o fez com aqueles. Quem os seguem, não
seguem o Cristo, seguem “falsos profetas”!
A maneira como agem, o que fazem, aquilo que defendem, é a negação
do Cristianismo em sua essência, e do próprio Cristo.
O Cristo, o verdadeiro lar dele, é o coração de cada oprimido, a
mulher que sofre com o machismo, o negro, o sem terra, o sem teto, o
menor abandonado, o trabalhador ou trabalhadora explorado e
explorada, o indígena... e todos os sujeitos que no dia a dia sentem
a opressão desta sociedade; e da mesma forma, também todos que lutam
contra ela.
Saibam disso, ou não, portem a cruz, ou não, se digam
cristãos, ou não, isso é o que menos importa!
Presépio! Latuff |
Uma coisa é o Cristo, outra coisa é o que os Homens fizeram com Ele
ao deturparem as suas palavras!
Portanto, nesta virada de ano do calendário cristão ocidental, eu
deixo aqui, para todos e todas vocês, o meu mais sincero desejo de
felicidade, e o pedido de reflexão sobre estas palavras!
Abraços a
todos! E Feliz 2016!