quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Cristianismo, Fundamentalismo e Virada de Ano

 A contagem do tempo, desde os primórdios da humanidade sempre esteve ligada a mistica religiosa, os calendários sempre foram baseados em determinadas visões cosmológicas de mundo que se embasavam nos credos religiosos daqueles mesmos povos. Não é diferente para o Ocidente Moderno, todo final do dia 31/12 comemoramos a entrada do dia 01/01, baseados no calendário cristão, sejamos cristãos ou não, seguimos todos (no ocidente) esta mesma tradição.
Talvez, pudéssemos ser mais racionais e mudar a forma de contar o tempo, por exemplo: poderíamos determinar uma escala de ciclos de um relógio atômico, e assim que a contagem deste relógio atômico alcançasse esta escala e reiniciasse a contagem novamente, consideraríamos como tendo passado um ano.
Relógio Atômico

Imagem disponível em: 
http://www.tecmundo.com.br/ciencia/49467-relogio-atomico-do-colorado-pode-ser-o-mais-preciso-do-mundo.htm
Seria muito mais racional, metódico, científico e até mesmo exato. Mas, nada romântico, não é mesmo? Quando abríssemos uma champanhe e abraçássemos a pessoa ao lado desejando “Feliz Ano Novo”, estaríamos pautando isso no reinicio do ciclo de uma máquina. Creio que nem mesmo eu, por mais cético que eu seja, gostaria disso.
Portanto, vamos manter nossa contagem de tempo cultural, as diversas contagens de tempo culturais, por mais imprecisas que elas sejam. Mas, o tema deste texto não é este. Esta pequena introdução é só para vocês refletirem um pouco sobre o tempo e sua contagem, ao longo da História. Eu quero falar aqui, aproveitando a virada de ano do calendário cristão ocidental, sobre Cristianismo e fundamentalismo, sobre a contradição entre o que enxergamos e vemos sendo propalado hoje (final de 2015 para o inicio de 2016), como sendo cristianismo e aquilo que era o cristianismo em sua essência. O chamado cristianismo primitivo, que de primitivo só tem o nome, uma vez que era muito mais humano do que este que hora vivenciamos.
O Cristianismo, assim como todas as religiões que derivam de uma anterior, nasce da contradição, ele nasce questionador de uma ordem instituída que se mostra corrupta, opressora e decadente. Não é por mera força de expressão que o Cristo chama os fariseus de “Sepulcros Caiados”, que ele, com um chicote, em um acesso de fúria, expulsa os “vendilhões do templo”, afirmando: _ “Não façam, da casa de meu Pai uma casa de comércio!” 
Jesus Expulsa os Vendilhões do Templo
Obra de Rembrandt
O Cristianismo, em sua gênese, se olhado, analisado e observado, a partir do seu momento histórico, nasce libertário e revolucionário. O Cristo andava com leprosos, com prostitutas, com os setores mais oprimidos daquela sociedade, ensinava que com a partilha todos podiam ter, e questionava como um todo, os “doutores da lei”, os sacerdotes, os poderosos daquela sociedade.
O Cristianismo, em seu âmago é questionamento de uma ordem de opressão, é perdão e também amor universal. O Cristo renegou o próprio núcleo familiar ao dizer que, sua família, seus irmãos e irmãs, eram todos aqueles que lá estavam com ele.
O Cristianismo nega o Deus tribal, o Deus das batalhas, o Deus dos exércitos, o Cristo consegue fazer com que o próprio Deus seja transcendido, transmutado do Deus tribal, do Deus dos Exércitos para o Deus universal, o Deus dos oprimidos, o Deus do Amor e da tolerância.
O Cristianismo, por isso tudo, na sua própria essência, nega o fundamentalismo, não é a toa que os fundamentalistas se baseiam mais no antigo testamento do que no novo. O fundamentalismo não é Cristianismo, mesmo que tente se revestir como tal. O fundamentalista não é Cristão, mesmo que use o nome do Cristo em vão. Na parábola, o bom foi o Samaritano, e não o Ortodoxo!
Os pastores, padres, bispos, cardeais, toda esta corja de “sacerdotes” que defendem a opressão, que se enfileiram ao lado dos opressores, são os “fariseus”, os “saduceus” e “doutores da lei” da modernidade.
Os novos antigos crucificados!
Manipulam os oprimidos, de acordo com os seus próprios interesses, não agem nunca na intenção de libertá-los da opressão, mas sim, sempre na tentativa de afundá-los cada vez mais na ilusão. Eles são os herdeiros dos “vendilhões do templo”, dos “fariseus” e dos “saduceus”, “sepulcros caiados”!
Eles crucificariam o Cristo, como aqueles o fizeram, e o Cristo se apartaria deles, como ele o fez com aqueles. Quem os seguem, não seguem o Cristo, seguem “falsos profetas”!
A maneira como agem, o que fazem, aquilo que defendem, é a negação do Cristianismo em sua essência, e do próprio Cristo.
O Cristo, o verdadeiro lar dele, é o coração de cada oprimido, a mulher que sofre com o machismo, o negro, o sem terra, o sem teto, o menor abandonado, o trabalhador ou trabalhadora explorado e explorada, o indígena... e todos os sujeitos que no dia a dia sentem a opressão desta sociedade; e da mesma forma, também todos que lutam contra ela.
Saibam disso, ou não, portem a cruz, ou não, se digam cristãos, ou não, isso é o que menos importa! 
Presépio!
Latuff
Uma coisa é o Cristo, outra coisa é o que os Homens fizeram com Ele ao deturparem as suas palavras!
Portanto, nesta virada de ano do calendário cristão ocidental, eu deixo aqui, para todos e todas vocês, o meu mais sincero desejo de felicidade, e o pedido de reflexão sobre estas palavras! 
Abraços a todos! E Feliz 2016!



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