Há tempos que eu não escrevia aqui no Razão à
Conta-Gotas, mas uma reportagem, publicada no site do Jornal O Presente, no dia
29/05/2021, me obrigou a fazê-lo. Avaliei ser necessário discorrer sobre a hipocrisia
relacionada ao fato que a reportagem menciona! O nome da reportagem: “Rondonenses estão viajando aos Estados Unidos para se vacinar contra a Covid-19” – em resumo:
TURISMO DA VACINA!
Tal reportagem despertou meu sentimento de indignação!
“Mas, por que se indignar por isso?” – você me pergunta! “_ Afinal, eles não têm o direito de se vacinarem?”
“_Tem – eu respondo! “_Tem todo o direito! Assim como o restante da população!”
E é aí que entra a minha indignação: na parte
do “restante da população”. Aquele restante que não tem condições econômicas de
pagar uma passagem de ida e volta de avião, mais hospedagem, para tomar uma vacina
“nos states”. Esse “resto” da população que, ao mesmo tem em que se encontra na
dependência de uma política genocida, que apostou na disseminação do vírus, é obrigada
à se expor ao risco de contaminação, nas escolas, no trabalho, no transporte.
Porque esta mesma pequena burguesia, que faz “turismo da vacina”, também faz lobby contra as medidas de isolamento social, porque ela não pode perder um centavo de seu lucro. Afinal, do contrário, como ela iria pagar a passagem para os “states” para tomar vacina e, ao mesmo tempo, aproveitar para dar um pulinho na Disney? É preciso que o “resto”, o “restolho”, o “restante” da população esteja exposto ao vírus para garantir a passagem deste outro setor!
Campanha de Outdoor pela vacinação: |
Setor da população, do qual muitos que, agora,
fazem "turismo da vacina", apoiaram – e continuam apoiando - a
política de disseminação do vírus orquestrada pelo governo federal. Enquanto escrevo, me lembro de um fato ocorrido no início da pandemia, em abril de 2020: naquele período, o Núcleo Sindical de Toledo - APP-Sindicato, Sinteoeste e Adunioeste pagaram um
carro de som para divulgar, em Marechal Cândido Rondon - PR, informações sobre a
pandemia e o risco que ela apresentava para o Sistema de Saúde. O áudio do
carro alertava para o risco de colapso do sistema, caso as pessoas não tomassem
os devidos cuidados. Colapso este que, meses depois, vimos acontecer! E sabem o que
aconteceu no episódio? O carro foi parado pela PM! Alguns empresários rondonenses (nunca
identificados mas, se bobear, alguns deles agora fazem turismo da vacina) ligaram para a
PM afirmando que o conteúdo do áudio do carro de som, que passava pelo centro
da cidade, estava "gerando alarme/pânico" na população! Para quem
duvidar do que afirmo, eu tenho o Boletim de Ocorrência feito no dia 01/04
(ironia esta data, não?) para apresentar!
Hoje é 01/06/2021, mais de um ano se passou, e
aqui estamos: os trabalhadores, de maneira geral, dependendo de uma política de
vacinação que segue aos trancos e barrancos; o país com mais de 450 mil mortes;
uma CPI da Covid no Senado que tem demonstrado, cada vez mais, como o governo
federal implementou uma tática de disseminação do vírus pelo território nacional;
Marechal Cândido Rondon, na data em que escrevo esta reflexão, com mais de 90
mortos e nenhuma vaga de UTI (porque não existe UTI em Marechal Cândido Rondon);
o sistema de saúde do estado do Paraná, novamente, em colapso. E a pequena burguesia,
essa mesma burguesia que, por diversas vezes, fez carreata contra a vacina e
apoiou essa política de expansão dos cemitérios, agora faz "turismo da
vacina". E, enquanto isso, continua à fazer “lobby” contra o isolamento
social e outras políticas que poderiam colaborar no controle da pandemia como,
por exemplo, um robusto auxílio emergencial para trabalhadores e pequenos
empresários – além da taxação emergencial de grandes fortunas para subsidiar tais
políticas.
Boletim diário - Covid-19 |
Agora, me digam: esses, que dizem defender a
Pátria, e agem em completa indiferença com o povo, pensando no próprio
umbigo e estimulando uma política de morte, enquanto de outro lado, vão para
fora do país receber uma vacina que, aqui, eles ajudaram à impedir que chegasse
à população, devem ser chamados como? Pergunto por que, em minha indignação,
percebo que o meu vocabulário não abarca uma palavra que possa resumir tal
situação! Fico, assim, na indignação silenciosa, sem nominar, mas com nojo de
certas pessoas que, em público, expõem uma posição enquanto, no particular, o fazem de forma
completamente diferente!
Concluindo esta breve reflexão, em tempo e não
menos importante, tenho pleno conhecimento de que, neste debate todo, existem
exceções junto ao empresariado. No entanto, é uma pena que estas pessoas sejam
apenas e, realmente, isto: EXCEÇÕES! Pois se fosse o contrário, este texto não
seria necessário!
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