quarta-feira, 1 de junho de 2011

Uma informação curiosa? Não! Muito mais do que isso: sinal de um fato!


Em pleno momento de debate sobre as alterações no Código Florestal Brasileiro uma reportagem veiculada hoje (01/06/11) no Jornal O Presente de Marechal Cândido Rondon, me chamou a atenção. A manchete da reportagem diz: “Falta de chuva pode começar a prejudicar as lavouras”.
A mesma faz referência a um fato que é descrito pela reportagem como “uma informação bastante curiosa”, que seria o fim do mês de Maio sem um pingo de chuva em nossa região.
Essa informação na verdade é mais do que uma curiosidade, é um fato, um fenômeno natural que tem implicações e sentidos mais profundos, muito mais profundos do que apenas os problemas para a lavoura descritos na reportagem.
A ausência de chuva durante o mês de Maio pode ser considerado algo extraordinário, pois como diz a reportagem isso é algo que não acontecia há pelo menos 26 anos em nossa região, e levando-se em conta o fato de que as medidas pluviométricas são feitas há 26 anos, podemos dizer que algo assim nunca foi registrado. Logo, não é apenas um fato corriqueiro, uma seca comum, mas sim uma seca em um período em que nunca se registrou uma seca.
A mesma pode muito bem ser levantada como mais um efeito das mudanças climáticas, devemos lembrar que o planeta é um todo, onde ações locais tem efeitos globais. A preservação das reservas legais e das áreas de preservação permanente tem também o objetivo de manter (pelo menos até certo nível) a regularidade do clima.
Logo o agricultor que reclama que vai perder terra cultivável neste processo, tem de lembrar que ele pode perder muito mais se o clima não permitir a colheita, e é isso que esta acontecendo agora.
Não é de hoje que se fala de mudanças climáticas o relatório de 2007 do IPCC, o painel da ONU para mudanças climáticas já estava apontando a tendência de modificação no clima, com chuvas torrenciais em algumas áreas e secas inesperadas em outras, isso que o relatório tem uma tendência ao conservadorismo.
Tais precipitações pluviométricas exageradas em algumas regiões (lembram-se de SC, Rio de Janeiro, Angra dos Reis, MG?), e secas prolongadas, e em períodos do ano em que as mesmas não eram comuns, em outras regiões, estão relacionadas ao aumento da concentração de gases poluentes na atmosfera (efeito estufa), tais gases são emitidos tanto pelas fábricas poluentes e queima de combustível fóssil, assim como pelo desmatamento e queimadas.
Nossa região, sofreu um processo avançado de desmatamento (claro que não podemos culpar de todo os colonizadores, afinal foram incentivados a isto pelo próprio governo), mas o que temos de perceber é que o reconhecimento de um erro não implica na justificativa de se continuar insistindo na manutenção do mesmo.
Pelo contrário, o reconhecimento do erro implica em correção do mesmo, em olhar para trás, ver onde a sociedade errou, corrigir o que se deve e não insistir na manutenção daquilo que deu errado.
Ao flexibilizar a lei com relação às APP's e as Reservas Legais, a proposta do novo código abre caminho para problemas muito maiores do que a atual seca (que já é um problema e tanto), e faz com que pequenos agricultores ao defenderem estas mudanças ajam contra seus próprios interesses.
Não é de hoje que se sabe da necessidade da agricultura estar organicamente relacionada com o ambiente a sua volta, quando o agricultor passa a defender posições que se colocam como antagônicas a natureza ele esta defendendo uma posição que é contra ele mesmo. Pois ele depende da natureza para produzir, e intermediado por ele toda a sociedade depende da natureza, não estamos descolados do planeta, pairando sobre o mesmo. Não! Somos parte da Terra e devemos proteger a mesma, e o exemplo desta dependência é o transtorno que é gerado com uma seca como esta.
Assim, a flexibilização da lei em relação a reserva legal e às APP's só vai dar mais possibilidade de desmatamento, com mais desmatamento mais efeito estufa e menos matas retendo carbono e fazendo a manutenção do ciclo da chuva, e com menos matas aumenta-se a temperatura global, o ciclo que já esta alterado se altera mais ainda e tragédias ambientais serão ainda mais frequentes. Assim como secas como a deste mês (fato até hoje nunca registrado) podem se tornar corriqueiras e com o tempo inviabilizar o cultivo em nossa região, assim como em diversas outras que hoje produzem abundantemente.
O assunto é complexo, mas a discussão é necessária. É necessário ouvir a ciência neste debate, é necessário que a população em geral participe do mesmo, e é necessário agir com cautela e não com paixões muitas vezes mais vinculadas ao imediatismo do bolso, do que ao próprio coração.
Em um tema como este, devemos pensar como os antigos (os egípcios por exemplo) que faziam planos e pensavam para eras e não para o tempo imediato de um ano ou dois.
Estamos tratando de um tema que não diz respeito a apenas um ou outro indivíduo, e nem mesmo apenas a nossa própria espécie, estamos tratando de um tema de amplitude global, e para tanto devemos pensar como cidadãos da Terra, e não apenas de uma região, ou de um país, ou de uma categoria.
Termino este texto fazendo um convite:
Justamente no intuito de fomentar esta discussão tão necessária que este artigo defende, a Pastoral Operária, a Associação de Defesa da Ecocidadania e Cidade Sustentável (ARDECS) juntamente com o Núcleo Oeste do Paraná da rede Ecovida de Agroecologia, contando com o apoio da Associação dos Geógrafos Brasileiros (Seção Local Marechal Cândido Rondon) e do Centro Acadêmico de Direito XVIII de Novembro, estarão realizando na próxima sexta-feira, no tribunal do júri da UNIOESTE (Campus de Marechal Cândido Rondon) às 19hs e 30min, um diálogo sobre o código Florestal, no intuito de discutir com a comunidade as alterações propostas no mesmo e as consequências destas alterações.
Caro leitor, contamos com a sua presença! Vamos debater juntos um tema tão importante!

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