domingo, 12 de junho de 2011

Donos da Terra? O Internacionalismo e a Natureza.

É incrível como as vezes a mente humana trabalha sem que precisemos atuar de forma consciente! Uma música, uma fala, uma cor, um cheiro nos trazem visões do passado, lembranças e até mesmo reflexões. As vezes esses fatos acontecem por associação, uma frase que ouvimos durante o dia, associada a visão de algo, ou a percepção de um fato, e então vem o “estalo” na mente, o “insight”.
Algo até então não percebido, ou se percebido, não levado em consideração, vem a mente com toda a força, e então pensamos: “É isso! Como não havia pensado ou percebido isso antes?”.
Foi mais ou menos isso que ocorreu comigo, caros leitores! Algo parecido!
Não foi exatamente um “insigth”, mas me apercebi da importância de um fato que eu já sabia importante (tanto que já mencionei ele aqui mesmo, neste blog em textos anteriores), mas apesar disso notei que ele deve ser melhor trabalhado, por que é uma das chaves para abrirmos o cofre da compreensão dos fenômenos naturais.
Na última sexta feira, em sala de aula, ao trabalharmos a maneira como a Constituição Federal de 1988 apresenta a proteção ao Meio Ambiente, eu ouvi de uma colega de sala uma frase, que por mais lógica e simples que possa ser, me chamou a atenção. Me chamou a atenção porque apesar de lógico, o fruto, a razão, o motivo de existência da própria frase, ou seja, o sentido da mesma, infelizmente não esta presente na sociedade de uma forma geral.
Qual o sentido da frase? Internacionalismo! Fim das fronteiras! A humanidade se vendo enquanto humanidade, enquanto espécie, e não mais enquanto um amontoado de nações separadas e muitas vezes antagônicas entre si.
A frase não tratava da humanidade em si, tinha como objeto o meio ambiente ao dizer que na natureza não existem fronteiras, que nossas fronteiras artificiais não são respeitadas pela natureza, a frase foi mais ou menos esta: ...”exemplo disso é o vulcão no Chile, onde nós aqui estamos sentindo as consequências e todos os países em volta...”.
Quando ouvi isso, senti o internacionalismo implícito na frase (talvez a própria autora da mesma não tenha percebido isso na hora, mas imagino que o tenha, pois já percebi a tempos a grande capacidade intelectual dessa minha colega de sala), mas hoje a noite ao olhar para o céu tentando observar a Lua, vi fumaça entre a Lua e nós, e esta fumaça viajou quilômetros para estar aqui, viajou entre fronteiras não respeitando as mesmas.
Essa fumaça é apenas mais um exemplo de que a natureza é um todo único, de que nossas fronteiras não existem para ela, logo se quisermos de alguma maneira prolongar nossa existência enquanto espécie, é enquanto espécie que devemos agir.
Assim os “patriotas” que gritam a favor da mudança no código florestal, estão gritando não apenas contra a existência de seus filhos, netos e outras gerações vindouras. Estão gritando contra sua própria espécie, e apesar de se dizerem patriotas gritam contra sua própria nação, pois se existe algo de precioso no Brasil é sua biodiversidade, se existe algo que pode dar ao Brasil um papel de destaque no mundo é sua biodiversidade. Não é a cana (já produzimos cana enquanto colônia), não é a soja (mera commodities no mercado mundial), não é a pecuária (nossa pecuária é extremamente ineficiente em termos de produção vide relatório da SBPC), não é nada disso.
É a possibilidade de pesquisa, de desenvolvimento científico, de aumento do saber que esta presente em nosso território. E se não bastasse isso, uma mudança como a pretendida para o código florestal é um tiro contra nossos filhos, um tiro contra nossa própria espécie!
Lembrem-se da frase desta minha colega sobre o vulcão, ela denota bem que para a natureza não existem fronteiras, o que fazemos aqui interfere do outro lado do planeta, e o que fazem lá interfere aqui. A teoria do caos diz que pequenos atos podem levar a grandes consequências, impossíveis de serem calculadas, previstas, e se pequenos atos podem levar a grandes consequências, grandes atos podem levar a tragédias. Que também podem ser construídas através da soma de diversos pequenos atos (é só lembrar de Santa Catarina e da região Serrana do Rio de Janeiro).

Fonte:http://netoclicak.blogspot.com/2008/05/terra-em-transe-teoria-do-caos-e-o.html

Ao se falar de natureza deve-se ter em mente duas coisas: fatos (sejam eles eventos naturais ou não) que ocorrem em um ponto do planeta tem consequências ao longo de todo o planeta, como se reverberassem da mesma forma que ondas sobre a água de um lago, para a Terra não existem fronteiras, ela é um todo único. O segundo ponto a ser analisado é a maneira como nos vemos em relação a natureza: somos estrangeiros em nosso próprio mundo? Alguma anomalia que se desenvolveu por acidente, e desta forma não tem relação com o que esta a sua volta? Ou somos parte deste todo? Uma dentre milhões de outras espécies, que vivem e formam este corpo que alguns chamam de Gaia? Tais questionamentos, devem ser feitos antes de tecermos e construirmos a maneira como nossa sociedade ira se relacionar com o mundo natural. Estamos em um período histórico de escolha, de mudanças, como já foi dito “tudo o que é sólido se dissolve no ar”. Tal dissolução da própria sociedade, como um sorvete derretendo ao Sol, nos leva a pensar: qual a saída? Existe saída? Como  construir outra sociedade? É necessário construir outra sociedade? São necessários outros parâmetros de relacionamento dentro da própria sociedade, e desta para com o mundo a sua volta? Ou melhor, existe um mundo a sua volta, ou querendo ou não a sociedade esta integrada ao mundo natural mesmo que assim não o queira, e desta forma tudo o que acontece com ele também acontece com ela? Estas são perguntas de nossa época. Cabe a nossa geração responder estas perguntas, cabe a nossa geração dar a possibilidade de construção de um mundo melhor para a geração vindoura.
Quero terminar esta reflexão (que já esta se tornando longa para um blog) com uma frase que expressa, resume, tudo o que disse aqui (não, agora não é a frase da minha colega (risos)), mas sim de um pensador, de um sonhador, de alguém que como este que escreve neste momento almejou um mundo melhor:
"Mesmo uma sociedade inteira, uma nação, ou mesmo todas as sociedades existentes num dado momento em conjunto, não são donas da Terra. São simplesmente suas possuidoras, suas beneficiárias, e têm que a legar, num estado melhorado, para as gerações seguintes, como bons pais (e mães) de família" (K. Marx).
Imagem do Filme O Grande Ditador de Charles Chaplin

Essa frase resume tudo o que eu quis apresentar a vocês, não somos donos da Terra, somos meros usufrutuários, e para que possamos tratá-la como ela merece ser tratada, temos de começar a nos encarar enquanto uma espécie, e isso só vai ser possível quando um sistema que divide as pessoas for substituído por um sistema que unifica os indivíduos. Quando um sistema que tem na sua essência a individualização, for substituído por um sistema que tenha em sua essência a construção e a vivência comunitária. Desta forma termino aqui meu texto com um pedido: peço que reflitam no que foi colocado, e nas perguntas que aqui foram feitas!

Abraços Ecosocialistas a todos!

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