domingo, 18 de fevereiro de 2018

O PACTO

Olá! O texto de hoje não é de minha autoria. É um conto, ao estilo dos Contos de Terror e Morte de Edgar Allan Poe. Este conto foi escrito pelo meu amigo Edson Petry, que me autorizou a publicar o mesmo, em primeira mão, aqui no Razão. Advirto: não é um conto para espíritos impressionáveis.

O PACTO

Peguei o corredor e fui ao fundo. Desci a escada e dei com os alicerces em ruínas. Lugar escuro, amplo, complexo, mofado, irregular e uma sufocante sensação de estar sendo observado. Assustado, resolvi recuar. Voltei ao quarto, deitei na cama e dormi outra vez. E mais uma vez fui acordado com batidas na porta.

Abri e entrou um casal. Ele alto, bem vestido, grotesco, terno preto, garrafa de Whisky na mão. Ela pequena, bonita, cabelos negros longos, seios quase à mostra, mini saia longa, imensas botas negras. Pararam diante da janela e se puseram a beber. Entraram correndo dois meninos, arrancaram suas roupas, jogaram-se no chão e começaram a se chupar. Resolvi sair.

Peguei o corredor em direção ao hall e dei de cara com uma grande festa. Muita bebida, homens mulheres e crianças, luzes coloridas, som alto, noite, danças, drogas, sexo e risadas, gritos e tapas. Me encantei com uma das meninas que dançava ali perto mas logo veio um sujeito que me tocou no ombro e disse: --- Tá vendo aquele cara gigante e musculoso ali, que está vindo para cá? Então. É o dono dela. Fiz meia volta e me afastei.

Alguns jovens se aproximaram. Duas moças me abraçaram e começaram a me acariciar. Estava em êxtase quando chegou um rapaz e com muita seriedade e segurança na voz disse que eu estava preparado, que se eu quisesse, eu estava pronto e que seria uma honra tanto para mim quanto para eles.

Levaram-me para um canto e me apresentaram a três velhas senhoras de cabelos grisalhos. Estavam sentadas uma ao lado da outra em carteiras escolares. Sobre a mesinha cada uma delas velava um livro e sustentavam na mão uma caneta pesada. Disseram que bastava que eu assinasse. Hesitei por um instante mas, apesar da tentação, me neguei e nunca me arrependi da decisão.


Meio tonto e sem saber o que estava acontecendo, lutei comigo e me desvencilhando daquelas mãos, corri em direção ao quarto. No corredor me deparei com várias portas entreabertas. Hipnotizado, espiei por uma delas e paralisado, percebi que muitas pessoas esquartejadas estavam ali dependuradas em ganchos e, ainda vivas, agonizavam, gemiam e urravam. Algumas, dependuradas de cabeça para baixo, engasgavam no próprio sangue. Horrorizado, por outras frestas, vi pessoas concentradas num sexo brutal se deliciando na mais pervertida das orgias. Algumas espumavam pela boca enquanto enfiavam grandes objetos em seus buracos, bebiam e se lambuzavam. Muitos gemiam alto, de dor ou de prazer.

Apavorado, passei batido pelo 415, meu quarto, e corri até o fim o grande corredor. Desci as escadas e desapareci na penumbra dos alicerces. Os gritos de horror ali eram ainda mais intensos. Simplesmente fechei os olhos e corri o quanto pude. Como se assim pudesse enxergar melhor.

Desesperado, corri por um espaço que parecia não ter fim e de um cem número de mãos me desvencilhei. Quando parei, encontrava-me no salão de entrada do prédio, um mundo elegantemente decorado em preto e pérola se descortinava diante de meus olhos incrédulos. Caixões ritualmente alinhados compunham um cenário arrebatador. Castiçais e velas enormes dançavam um jogo de luz fantasmagórico.

Imediatamente um sacerdote se aproximou e como se estivesse me esperando, me chamou pelo nome e gentilmente pediu que eu me deitasse dentro de um deles. Explicou-me com bastante calma e doçura que estavam me dando mais uma chance. Bastava que eu me deitasse ali e fingisse minha própria morte.


Pulei por cima de uma corrente, subi numa pilha de caixões encostados na parede e me alcei para o galho da árvore que entrava pela janela alta. Uma dúzia de sacerdotes me perseguiu tentando me segurar mas, pararam à porta assim que deixei o prédio.

A rua não era mais a Avenida João Pessoa, e nem tampouco existia o prédio da Faculdade de Economia. O asfalto, todo arrebentado, encolhia-se para os lados. Ruínas e nada mais e não havia outros prédios a não ser a Casa do Estudante. Será que o mundo havia acabado enquanto eu me escondia no 415?

Corri sem olhar para trás e vi coisas que nunca mais quero ver. Alguns seres se debatiam como cães famintos por um pedaço de carne humana. Volta e meia passava algum carro em alta velocidade tentando atropelar tudo o que estivesse pela frente e grandes nuvens de poeira entravam pelos meus olhos.

Dobrei ali onde era a Azenha e dei de frente com uma velha casinha de madeira que mal se sustentava em pé, mas soltava fumaça pela chaminé. Não parecia que ainda houvesse madeira para ser queimada. Na varanda, uma típica família fazia sua refeição e lançava os ossos a um cãozinho sem patas. O pai não tinha um braço e faltava-lhe um olho. Falava pelo nariz enquanto cuspia comida pelo lábio leporino. Mamãe andava mancando de pernas abertas. Tinha a cabeça caída sobre o ombro como se estivesse quebrada e um braço voltado para trás. Sustentava duas mãos esquerdas! A menina menor enxergava pela testa e seus cabelos desgrenhados eram maiores que o corpo sem tórax. A irmã mais velha não tinha cabeça. Pelo menos eu não vi.

Dei meia volta e saí a toda em direção à Casa do Estudante. Alguns carros tentavam a qualquer custo me atropelar. Lagartas, minhocas e lagostas coloridas gigantescas, vinham em minha direção pelo lado oposto. Eu podia vê-las no horizonte por sobre o prédio. Aos pedaços alcancei a grande árvore na frente da casa onde morei por tantos anos. Subi nela, entrei pela janela e me deitei num caixão de pérolas.



Eluiz Sevast Petry
dezembro de 2017

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