terça-feira, 5 de julho de 2011

Quando o (Deus)-mercado impõe suas regras a Educação!


UNIOESTE - Campus de Marechal Cândido Rondon
O Brasil, vive hoje um processo de alastramento do ensino superior privado, com o discurso de democratização do ensino o governo investe milhões em redes particulares, para que estas disponibilizem bolsas para os jovens estudantes. O discurso é bonito: “Democratização do Ensino”, mas por trás do discurso se esconde a verdadeira intenção do processo: “Comercialização do Ensino”. A partir deste momento o ensino passa a ser ministrado, e administrado segundo a lógica do mercado, e o que deveria ser algo libertador, emancipatório, se torna ferramenta de obtenção de lucro para grupos e corporações, que visam apenas explorar mais uma fatia de mercado.
O ensino, que deveria ser ferramenta de construção de uma identidade renovadora, preparando o individuo para atuar na sociedade de forma a poder modificá-la e melhorá-la, se torna mais um investimento da Bolsa de Valores. Escolas e Universidades particulares disputam alunos como se estes fossem pacotes de investimento, ou como se costuma dizer: clientes, meros clientes! Ferramentas de marketing e propaganda, são utilizadas de forma que estas empresas conquistem cada vez mais clientes, por que é assim que são vistos. O interesse de tais instituições não esta no coração e na mente destes estudantes, mas sim nos bolsos deles mesmo e de seus pais ou familiares.
O discurso se torna tão forte que adentra até mesmo as instituições públicas, que são cada vez mais sucateadas, justamente no intuito de com o sucateamento deliberado, darem base para o discurso da supremacia do privado sobre o público. O discurso é tão forte, que mesmo nas instituições públicas, os estudantes são chamados de “clientela”. Pois é, as palavras são carregadas de sentidos e significados. Só que a prática demonstra a sua diferença do discurso, essa semana foi divulgada uma notícia no site da Ordem dos Advogados do Brasil, e a notícia é bombástica tanto para aqueles que se preocupam com a qualidade real do ensino, como também para aqueles cuja a preocupação esta voltada para a transformação da educação em mercadoria. A notícia? Eis a manchete no site da OAB: “OAB divulga lista com as 90 faculdades com índice zero no Exame de Ordem”. Segundo notícia do site Yahoo falando sobre a divulgação da Ordem (in verbis) “um estudo feito com dados dos últimos quatro exames anteriores ao de dezembro de 2010 indica que as 20 melhores instituições de ensino superior públicas aprovam, em média, entre 70% e 90% dos candidatos inscritos. Por sua vez, nas 20 piores universidades públicas e nas 20 melhores universidades privadas, a aprovação média é de 40% a 60%. Já as 20 piores instituições particulares têm apenas entre 3% e 5% de seus alunos classificados.”
Ou seja, segundo o estudo da Ordem, apesar de todo o ataque neoliberal ao ensino, todo o discurso contra as IES públicas, e todas as dificuldades que elas vem tendo para se manterem funcionando (vide texto anterior sobre reivindicação pelo RU na UNIOESTE), são elas que ainda tem o melhor ensino. A questão é: Para que então, tanta verba para instituições particulares que basicamente transformam o ensino em mercadoria, e deixar de lado as instituições públicas? O que esta por trás destes atos? Que forma ou modelo de sociedade se busca construir com isto?
Outro fato relevante é que na lista de faculdades que não conseguiram aprovar ninguém para o exame da Ordem, figura uma instituição de nossa cidade, instituição que faz muita propaganda de seus cursos mas que o exame da Ordem desmente agora.
Instituição, que esta inclusive, em um terreno e prédio que eram do município, e que poderia muito bem estar sendo usado por uma instituição de ensino público, se o município não tivesse se desfeito deste bem, sem consultar seus verdadeiros proprietários: O povo rondonense!
Caso vocês queiram ter acesso a listagem das Instituições de Ensino Superior que não conseguiram aprovar ninguém, e verificarem por sí mesmos de que instituição estou falando, cliquem aqui e você serão direcionados a página da OAB onde terão acesso a listagem..
Enfim, quero terminar este texto colocando que, novamente fica comprovado que o discurso de democratização do ensino, que justifica o desvio de recursos que deveriam ir para instituições públicas, para particulares, é mero discurso. O que se esta democratizando não é o ensino, o que se esta democratizando, é a construção de um mercado de consumo que é feito e mantido com a esperança de milhões de estudantes de nosso país, que sonham melhorar de vida através de um ensino de qualidade.
O que se esta construindo não é um ensino democratizado, pois ensino implica em libertação intelectual, em produção de conhecimento e não em mera reprodução de consumidores.
Enfim, temos o direito (sem trocadilhos) de que o ensino, a educação, a ciência, o conhecimento e difusão do mesmo, não sejam pautados e regrados pelo mercado. Conhecimento não é mercadoria, conhecimento é poder, e por isso mesmo pode libertar, como também a sua falta pode aprisionar. E é justamente por isso mesmo, que é tão controlado! Só que, como ao mesmo tempo o mercado não pode ficar sem estes clientes, vende-se a ilusão de conhecimento! Mais uma vez, um exame de uma instituição que nada tem de revolucionária, muito pelo contrário, comprova a demagogia por trás do discurso de democratização do ensino, que justifica o financiamento público em instituições particulares, com dinheiro que poderia e deveria estar sendo utilizado para melhoria do ensino público, e desta forma, possibilitar aqueles estudantes que hoje pagam pelo ensino, pudessem estar cursando e estudando em instituições públicas. Fica então o alerta: “ENSINO NÃO É, E NÃO DEVE SER MERCADORIA!

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