quinta-feira, 24 de março de 2011

Maya em ação: a relação entre essência e aparência. (Parte II)


Segue abaixo a Segunda parte do Artigo, Maya em ação, a relação entre essência e aparência.
...não pregaria bolsas, ou, no caso da sala, a simples divisão das notas, isso é uma visão, no meu ponto de vista, deturpada e totalmente errônea da teoria socialista. Uma divisão realmente socialista, no caso da sala, teria de começar inicialmente incentivando a todos os alunos estudarem (trabalharem), para que então o resultado conjunto fosse o melhor possível, pois o interesse de uma sociedade socialista é a melhoria da sociedade e não do indivíduo, pois o indivíduo faz parte da sociedade, logo, se todos atuarem em benefício dela, todos serão beneficiados.

Por isso que, além da divisão igualitária da produção (notas), o socialismo prega a construção de um novo indivíduo (transformação do preguiçoso em estudioso), não o indivíduo "Robinson Crusoé", pautado nas mônadas da filosofia, onde o indivíduo está só e age apenas por si, e aquele que está a seu lado não é seu companheiro, mas pelo contrário é seu rival. Para que o socialismo dê certo, é também necessária a construção de uma nova noção de individualidade, uma individualidade pautada na comunidade, que surja a partir da comunidade e do indivíduo vendo-se como parte integrante da mesma.

A experiência supostamente socialista na sala não deu certo porque não houve esse processo, os estudantes, apesar de defenderem a divisão das notas, não agiram como verdadeiros socialistas no sentido de pensar na comunidade, que no caso deles seria a sala de aula. Foi uma mera experiência de divisão capitalista, em que uns indivíduos sobrevivem do trabalho de outros. E correlacionar isso com Socialismo é cair no erro de confundir Aparência com Essência, algo que Marx sempre alerta para que não façamos. Para uma transição de sociedade não basta mudar a forma de distribuição, é necessária também a construção de uma nova mentalidade, ou seja, não basta mudar a aparência de como a sociedade está organizada, é necessária uma mudança estrutural que modifique a própria essência que dá base a esta aparência. Assim como fez o capitalismo ao destruir a mentalidade do homem medieval para dar vida a sua própria'lma (A Ascese e o Espírito do Capitalismo - Max Weber).

Logo, concordo com o título do artigo (Socialização ou Sacanagem?), que dá base a este texto, realmente, o que aconteceu em tal situação não foi socialização, mas sim sacanagem, só que o professor está errado ao pensar que foi sacanagem porque o socialismo não daria certo, foi sacanagem porque foi uma experiência de divisão da produção pautada exatamente em cima dos moldes capitalistas da divisão da produção social, onde alguns produzem e outros vivem dessa produção.

E sem analisar a essência do fato construiu-se um discurso de que esta seria uma divisão Socialista, por isso falei da periculosidade da conclusão anteriormente, pois chegou-se a uma conclusão baseada em aparências, e não na realidade do fato. Assim, a conclusão já tem em sí um vicío de origem, é como dizer que o Sol gira em torno da Terra por aparentar ser assim, a aparência muitas vezes esconde a verdadeira essência das coisas. Assim sem se preocupar com a construção de um novo indivíduo, como Makarenko, por exemplo, o fez em seu trabalho pedagógico com menores delinquentes no início do sec. XX na URSS, não é possível que ocorra uma mudança da Essência. A produção não é socializada nem mesmo na sua confecção, e muito menos na sua distribuição, logo, é sim uma Sacanagem! Uma sacanagem capitalista usando disfarce de socialismo. Portanto, nessa avaliação percebe-se claramente a distinção entre essência e aparência. Para entender o conceito, inicialmente deve-se ter em mente que para Marx, ao contrário de outros autores anteriores, não existe uma divisão real entre Essência e Aparência. A Essência e a Aparência seriam assim como as faces de "Janus", duas partes de um mesmo todo. O mundo real não é dividido entre mundo ideal e mundo empírico, o que existe é uma construção dessa divisão, e é essa construção que dá base para a noção de essência e aparência da realidade. (...)

Continua amanhã!

 

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